Quando leio não fixo a sonoridade dos nomes e por isso não consigo reproduzi-los. Fixo apenas um conjunto ordenado de símbolos que identificam um personagem. Às vezes fixo os nomes porque eles têm um significado: quando o autor dá um significado ao nome que tem a ver com a caracterização da personagem. Em Haruki Murakami é assim. Fixei Sumire, porque quer dizer violeta; fixei Canela, porque canela é exótica e cheira bem; fixei Noz-moscada pelos mesmos motivos. Mas canela e noz-moscada são nomes ficcionados na ficção da história. São nomes escolhidos pela mulher sem nome para se auto-nomear e permitir a relação. Quando estiveres de costas e eu te quiser chamar, se não tiveres um nome, como farei? Também agora, em Kafka à beira-mar, o velho, de que não me lembro o nome, sei apenas que tem um K e alguns A’s, precisa de um nome e inventa um nome para se relacionar com o gato. Quando os nossos amigos passam a ser entidades precisamos de as nomear. É pena que os nomes nos sejam oferecidos e não escolhidos em função da nossa personalidade ou será que o nome molda a nossa personalidade? Molda pelo significado ou molda pela forma, pelo som? Um nome doce, um nome breve, um nome complicado.
3 comments:
...só dizemos a parte audível de cada nome - e a parte utilizável de cada um , por vezes, quando se quer abri-lo, é como um eco que nunca se memorizará, por mais que se repita onde pareçe.
Não me relaciono com o meu nome mas com a forma como me chamas quando me chamas.
Não te chamo C______ como ouço outros chamarem-te, tão somente porque chamamos sempre, apenas, uma parte de alguém - e de tantas partes nos chamam motivos e vocações tão dispares.
O nome é talvez a porta de um magnífico labirinto. Ou a ançora de nos considerarmos achados...
...sucede que o Sr. Paupério Nascimento cháma-se assim à 52 anos e já se resignou à sorte que atraiu... tal como, em sentido inverso, a Rosa Estrela que conheci hà 18 anos atrás.
errata:(há)
Agora já sei o nome Nakata.
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