Wednesday, July 11, 2007

a irremediável fuga do tempo

“ A vida é como a recta do Mindelo. Quando olhamos para trás já não sabemos onde é que ela está.” Há dois anos transcrevia esta frase do Sr Albino para um post neste blog.
Leio "O deserto dos tártaros" de Dino Buzzati, do qual a Joana já falou.
"... justamente naquela noite principiava para ele a irremediável fuga do tempo. (...) E assim se prossegue caminho numa esfera confiante, e os dias são longos e tranquilos, o Sol brilha alto no céu e parece nunca ter vontade de chegar ao ocaso.
Mas a certa altura, quase instintivamente, voltamo-nos para trás e vemos que uma cancela se fechou nas nossas costas, obstuindo-nos a via do regresso. Então sentimos que algo mudou, o Sol já não aprece imóvel, desloca-se rapidamente, ai de nós, nem temos tempo de o fixar pois já se precipita no confim do horizonte; apercebemo-nos de que as nuvens já não ficam estagnadas nos golfos azuis do céu, foram encavalitando-se umas nas outras, tal é a sua urgência; percebemos que o tempo passa e que também a estrada um dia deverá terminar."

Dino Buzzati; O deserto dos Tártaros; Cavalo de Ferro; Pág 50

4 comments:

Anonymous said...

é...caminhamos como envoltos numa espiral de folhas, num remoinho...que gira, gira muito depressa. Talvez até, demasiado depressa...E pelo meio dessas voltas que damos, mesmo sem querer, vemos por segundos, vislumbramos o que ficou para trás. E percebemos que não conseguimos parar de girar. Não podemos recuar. E que a vida nas nossas mãos foi, apenas, uma ilusão de luz...

Anonymous said...

...A recta do Mindelo já lá não está mesmo...A questão é se de facto existiu...

maria said...

Esta recta do Mindelo sempre existiu e existirá...para nós também.

Anonymous said...

talvez exista, qual estrada da vida. Interminavel apenas porque não lhe vemos o fim. Nem o início, já.