Thursday, September 29, 2005
Cultour
Wednesday, September 28, 2005
Matéria/Corpo
Monday, September 26, 2005
Björk no Meco, 05.07.03
A longa noite do festival de músicas electrónicas do Meco, pródigo em intermináveis filas de trânsito (10 km delas, duas horas para chegar) e em líquidos a preços de 2025 (1,5 € por imperial ou garrafa de água – o mesmo preço dos cachorros quentes picantes em promoção leve-dois-pague-um no já mítico bar/atrelado Psicológico), valeu pela actuação da Björk. Ao seu lado direito, uma secção de cordas e uma harpa; à esquerda uma parafernália de máquinas e respectivos geeks. No meio, a minúscula (e lindíssima) Björk a colar as duas ambiências. Inteligentemente (ao contrário dos senhores que se seguiram), optou por uma actuação menos popzinha a favor de mais experimentação e total entrega. Os ritmos quebravam-se e ressurgiam, a voz ia a sítios quase impossíveis e as explosões tornavam-se verdadeiras apoteoses, com direito a fogo de artifício (literalmente). Resultado: o público via-se na obrigação de estar concentrado; era apanhado de surpresa a cada instante. A actuação pautou-se precisamente pelo uso e abuso do factor surpresa até no que se refere ao alinhamento. Durante a maior parte do concerto, Björk e a sua trupe interpretaram canções menos rodadas. Apenas no fim, novamente para criar um efeito de apoteose – neste caso emocional, não sónica – recorreram a peças mais recentes ou mais populares.
A casa e a música (parte 2)
O Quarteto
O quarteto Borodin, que me levou até àquele espaço infinitamente precário do limite matemático.
A música
Shostakovich - Quarteto n.º 1 e n.º 13. Shostakovich há muitos anos que o procuro. Cada vez que o ouço descubro novidades. É o compositor que me transposta do clássico à contemporaneidade. O Quarteto n.º13, que não conhecia é um grito magoado.
Depois Beethoven - Quarteto n.º13, um descanço.
A vivência da música é uma experiência individual, a mais individual das experiências.
Sunday, September 25, 2005
Drogas Somáticas
Saturday, September 24, 2005
Dia
Friday, September 23, 2005
As cidades de Walter Beijamin
Walter Beijamin move-se pelas cidades com olhos estrangeiros e maliciosamente infantis. Espia lugares insólitos, comuns e desprezíveis das capitais europeias. Sem preconceitos e estereótipos pode distanciar-se da opaca realidade urbana.
“Lo que contienem las miniaturas urbanas de Benjamin son visiones panorâmicas, miradas surrealistas, gracias a las quales, todo lo que parece entrar irremisiblemente en la decadência es, precisamente, la mejor matéria prima para darnos uma iluminación del futuro.”
Las ciudades capitales de Walter Beijamin; Ignasi de Sola Morales, “Metrópolis”; Gustavo Gili
Thursday, September 22, 2005
Wednesday, September 21, 2005
Comentar apropriando
Tuesday, September 20, 2005
Do encapar livros
Mas, estou quase a deixar de o fazer. Mais um anito e estou safa! Ainda bem.
Restarão as recordações do papel encerado, do cheiro a amoníaco ou do desesperante e eficiente papel autocolante transparente.
Monday, September 19, 2005
Greta Garbo
Greta Garbo é como se dizia no Público: única na sua época e geração. Não há quem se lhe compare no tempo que a antecede e no tempo que a sucede. É uma estrela no céu. Supostamente a minha geração já não responde a estes ideais de beleza, a estes padrões e cânones. Talvez eu não faça parte da minha geração. Fazia hoje 100 anos.
Sunday, September 18, 2005
Os sindicatos da vida
Inquietante. Porque ao fazer esta afirmação consideramos os adolescentes como um grupo próprio, com comportamentos e interesses próprios, como uma classe aparte. Faz-me sempre confusão quando se divide o percurso da vida em partes, sendo cada uma delas estanque. Sai-se de uma classe e entra-se na outra. Vêm-me sempre à cabeça que deveria haver o sindicato dos bebés, das crianças, dos adolescentes, dos jovens adultos, dos adultos em maturidade, do início da terceira idade e dos velhos.
Mas cada um de nós desliza por estas etapas, com mais ou menos consciência delas, vive em grupos heterogéneos e não se associa, nem organiza, em função das fases da vida.
Por isso esta visão de impenetrabilidade que subjaz à frase de Alexandre Melo, como todo o artigo, como provavelmente o filme de Gus van Sant, angustia-me e se, pode fazer todo o sentido em função do que a motiva, o filme, a obra de arte, não faz em termos de vida.
Nós vivemos juntos e queremos ser felizes juntos. Não me tirem os belíssimos momentos de sintonia intergeracional que tenho com os meus filhos e com os amigos deles.
Thursday, September 15, 2005
...
Às vezes, na vida, parece que chegamos sempre atrasados. Até à própria vida.
Conta-me o que sabes
eu quero absorver tudo
e morrer sobre a areia quente
de um dia de verão
lentamente.
Prédio do Coutinho
Li na edição do Expresso do último sábado, que o arquitecto Eduardo Brito, autor do projecto, vai pôr uma acção contra o estado português com base no Código de Direitos de Autor, pedindo uma “avultada indemnização” se o prédio for demolido. No mínimo polémico.
Wednesday, September 14, 2005
Funcionários Públicos
Espero que os números estejam certos, porque ouvidos a tomar o pequeno-almoço às 7.40h, apontados no papel que se tem à mão, para serem reproduzidos às 17.30horas, constituem já uma soma considerável de imponderáveis para serem totalmente fiáveis.
No entanto o que me interessa é pensar sobre eles. Eu como funcionária pública, sei que é preciso reduzir à despesa e não me importo de o fazer. Espero que se mantenha a vontade de mexer com os interesses estabelecidos e que, as medidas sejam levadas até ao fim, sem medo dos juízes, dos professores, dos enfermeiros, dos médicos, dos polícias, dos militares, dos …e dos políticos. Os interesses são muitos e as queixas, evidentemente, cruzadas.
Tuesday, September 13, 2005
Interpretar a Arte
Quando escrevi sobre Mahler concluí que mudamos de patamar no entendimento da música, quando aprendemos a gostar dela, mesmo que ela não sublinhe o nosso gosto, o nosso modo de estar no mundo, ou o nosso estado de espírito.
O mesmo direi para as outras artes. É preciso distinguir o gostar espontâneo, intuitivo, do gostar que vem a seguir ao aprender a gostar. Este, o aprender a gostar, é um processo, que implica tempo, paciência, atenção e estudo. Fazer uma fotografia, é diferente de fazer um desenho do mesmo local; olhar para uma planta ou um alçado não o mesmo que redesenha-los, percebendo os seus traçados; ler um texto não é equivalente a transcrevê-lo; e provavelmente copiar uma partitura não será igual a ouvir uma peça musical (isso infelizmente não posso atestar).
E gostar porque se percebeu a génese e a forma, porque se enquadrou no tempo, é profundo e não se pode esquecer nunca mais. Não é susceptível a mudanças conforme estados de espírito. Pode confortar-nos mais ou menos, mas não é por isso que deixaremos de gostar.
Posso no entanto entender sem gostar? Se gostar implica uma adesão emocional?
Tenho para mim que se nos dedicarmos seriamente a entender uma obra de arte, se lhe dermos esse tempo para ela falar, para ela interferir connosco, aprenderemos a gostar.
Ou então talvez ela não seja uma obra de arte.
Hoje que vivemos a cultura do imediato, do consumo, é essencial educar pela arte, tanto no que isso representa de dedicação e de atenção ao não evidente, como nas portas que abre a valores de solidariedade e de humanidade, sempre na relação com aquilo que nos ultrapassa, ainda que isso, sejemos apenas nós, Homens, na nossa maior dimensão.
Saturday, September 10, 2005
Individualidade
“As Fúrias”, disse Bunny, com os olhos baralhados e perdidos sobre a madeixa de cabelo.
“Exactamente. E como é que elas enlouqueciam as pessoas? Aumentavam o volume do monólogo interior, ampliavam as qualidades já presentes a um ponto excessivo, transformavam as pessoas nelas próprias a tal ponto que elas não aguentavam.”
Donna Tartt; A História Secreta; Dom Quixote
Religo este extracto, de um dos livros que leio actualmente, com o paradigma da individualidade, constante na pós-modernidade, versus individualismo, enquanto lado destrutivo da individualidade, e ainda com o texto “Vida Real Inventada”, publicado aqui em 7 de Setembro.
Friday, September 09, 2005
UM país?
O relatório da ONU para o desenvolvimento humano e a demolição das torres de Tróia.
Segundo o primeiro Portugal é o país com mais desigualdade da União Europeia e desceu um lugar na ordenação em função do desenvolvimento humano. Não é de estranhar porque para a definição do ranking contam os níveis educacionais. (*)Mas no mundo o fosso entre ricos e pobres também aumentou. Temos dois mundos, ou até três – o dos ricos, o dos pobres e dos ricos que oficialmente são pobres – os que não cumprem as suas obrigações fiscais e outras. Infelizmente em Portugal este número cresce.
Quanto à demolição das torres, para além de ser o primeiro processo de implosão com dimensão em Portugal, parece que reverte em alguns ganhos ambientais e, evidentemente económicos. Qual será o mundo que este processo vai enriquecer: o primeiro, o segundo ou o terceiro? Ou será que vamos ainda conseguir construir Um país?
Thursday, September 08, 2005
Colhe todo o oiro
Colhe
todo o oiro do dia
na haste mais alta
da melancolia.
{Eugénio de Andrade}
vida real inventada
A presença de outro ou de outros, torna-se mais dolorosa, porque se é obrigado a ignorar aquilo que não é ignorável – a vontade intensa de construir aquela história.
É mais fácil, não sei se mais saudável, ter fisicamente afastado o objecto do nosso interesse ou o cenário da nossa história. Assim a nossa imaginação é livre e a confrontação, violenta e presencial, com a impossibilidade não existe, deixando por isso espaço à imaginação para ver apenas o rosto do outro, que eu próprio construo.
Até que ponto esta atitude não se traduz em comportamentos patológicos, em a que realidade se confunde com o sonho, passando o mundo a ser uma ficção? Ou é possível manter um saudável equilíbrio entre sonho e real, que permita dar espaço ao outro diferente da nossa criação, sem perder o sabor dessa nossa criação?
Apesar das dúvidas julgo que ser adulto é perceber este jogo e jogá-lo, constituindo deste modo a almofada para as nossas desilusões quotidianas. Sonhar de olhos abertos e como dizia Walter Beijamin, “nunca contar os sonhos antes de tomar o pequeno-almoço”. Adaptando: partilhar com parcimónia a nossa vida real inventada.
Tuesday, September 06, 2005
Távora, novamente
Raramente, em tempo de trabalho, conseguimos sentar-nos à mesa para jantar, os quatro, a horas decentes (entenda-se, entre as nove e as dez da noite). Hoje, foi mais para as nove, caso raríssimo.
Falamos de arquitectura ( e vida). Da importância de Fernando Távora na arquitectura portuguesa, da Escola do Porto, de Carlos Ramos, do conjunto de circunstâncias excepcionais que nos fazem hoje presentes, e que nós, teimosamente, escondemos no fundo do baú. Da internacionalização e da valorização das origens – legado de Távora, que nos abre portas de um modo consciente e nos faz redescobrir, informadamente, o nosso passado, a tradição. Temos uma enorme herança a defender, um enorme legado para pôr a render. Outros antes de nós o fizeram: Álvaro Siza…e todos os outros, que mais atrás, constituem a base onde ele é, para o mundo, Álvaro Siza.
Os olhos dos meninos brilhavam. Embora nenhum deles se prefigure na esteira da profissão, são sensíveis e sabem o que significa estar de corpo inteiro naquilo em que se acredita.
Por hoje, uma boa noite.
Sunday, September 04, 2005
Foi num dia calmo de fim de verão
De manhã fomos à praia. Não havia vento. Não estava muito quente. Não havia muita gente.
De tarde o tempo correu devagar. Nada foi feito do princípio ao fim, mas à medida do que foi apetecendo: ler, ouvir música, registar CD´s, cozinhar, tomar café fora. Tudo se misturou, na paz que interliga todas as coisas e os seres, inexplicável e harmoniosamente.
Agora um frio ligeiro retesa-me os músculos e o sol vai-se lentamente.
Foi num dia assim que morreu Fernando Távora.
A minha homenagem.
Porque também é preciso merecer a morte.
Para os mais novos (que sei) que lêem este blog.
A Joana teve o privilégio de o conhecer e por isso tem a sorte de o recordar.
Fernando Távora foi um Homem. Que nos seduziu, a mim e a muitos, de um modo suave, como esta tarde de fim de Verão, mas duradouro.
Fernando Távora não morreu, porque um Homem nunca morre.
Para os mais novos que gostam da vida e da arquitectura, comecem por ler " Da organização do Espaço"* e deixem-se ir levados por esta lenta tarde calma de fim de verão.
(*) Edição do Curso de Arquitectura da ESBAP - julgo que foi reeditado pela FAUP
Saturday, September 03, 2005
Nova Orlães - EUA
- 400 000 crianças abandonadas;
- 1 000 000 de pessoas sem abrigo (na sua maioria estes são as pessoas de menos posses, que não puderam, em um dia encontrar meios para abandonar a cidade);
- 25 000 pessoas refugiaram-se dentro da superdome, muitas estão armadas;
- 300 soldados com ordens para atirar a matar.
Nova Orleães localiza-se nos Estados Unidos da América do Norte.
Há efeitos exponenciais que derivam de má gestão ambiental e territorial.
Assustador.
Se assistimos, na sequência do Tsunami, a ondas de solidariedade e a comportamentos humanos e humanitários por parte das vítimas e de todo o mundo, porque é que aqui é diferente? Porque é que as pessoas se comportam como animais ferozes e a solidariedade internacional se retrai?
Thursday, September 01, 2005
O primeiro patamar da arquitectura
Concordo com Graça Dias quando diz que: “ Encontrar, identificar, lembrar, tornar análogo, é o nosso “processo científico”. Como tal, na pobreza das propostas de leitura residem quase sempre as causas de banalidade das respostas.”
É realmente na falta de capacidade crítica inicial, que se revela na incapacidade de equacionar o problema proposto (no caso da concepção arquitectónica todo o conjunto de condicionantes que informam o projecto), que reside o principal problema da nossa classe. Para além da preocupação em garantir à obra uma fidelidade discursiva que lhe confira uma identidade própria de autor, que Graça Dias tão bem descreve e que relança para o domínio da crítica, há um outro patamar, a meu ver anterior, que não se encontra de todo atingido pela maioria dos profissionais do ofício: a capacidade de leitura da “encomenda” enquanto resposta a um problema concreto, que só o autor do projecto com a sua leitura inteligente, crítica e informada, pode conformar.
Esta ausência de leitura: inteligente (porque relaciona); crítica (porque tem a capacidade de alterar contextos e propor alternativas); e informada (porque conta com a história, com a memória, com o sítio, com as condicionantes técnicas e programáticas e todas as outras); é bem visível na qualidade da nossa produção arquitectónica actual.
É a incapacidade de integrar este “processo científico” na produção arquitectónica e a vontade de afirmação de valores individualistas, em detrimento dos colectivos, que me faz, em parte, duvidar do futuro da arquitectura em Portugal.