Wednesday, September 28, 2005

Matéria/Corpo

"TORSO. Só quem fosse capaz de contemplar o seu próprio passado como fruto de contrariedades e da necessidade estaria em condições de, em cada momento presente, tirar dele o máximo partido. Pois aquilo que vivemos um dia é, na melhor das hipóteses, comparável àquela bela estátua a que o transporte quebrou todos os membros, e agora mais não tem para oferecer do que o precioso bloco a partir do qual terá de ser esculpida a forma do futuro."
Walter Beijamin; Imagens de pensamento; Assírio e Alvim
"O tema um pouco literário da forma incompleta já não é uma resposta suficiente, ocorre a ideia, profundamente rossiana, de uma reabertura de sentido da matéria que sucede quando a forma foi consumida pela vida e pela experência."Giovani Leoni; Eduardo Souto Moura ; Monografia- Gustavo Gili
Estou com muito sono. Tinha estes dois pequenos textos guardados na memória, para juntar, sem mais.

4 comments:

Anonymous said...
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Anonymous said...

Rimbaud precedeu Walter Beijamin com
«Vi quanto basta. A visão confirmou-se em todos os ambientes.
Tive a minha conta, Rumores urbanos, de noite, em pleno dia, e continuamente.
Conheci o suficiente. Os decretos da vida. – Ó Rumores e visões!
Estou de partida para novos afectos e ruídos!»
Ele mesmo, a certa altura, em “O génio” expande mais esta concepção
«O génio (…) é o afecto e o provir, a força e o amor que, ao enfrentarmos a pé firme as dores e contratempos, vemos passar no céu ameaçador e nos estandartes de êxtase.»
E, portanto, absolutamente moderno, na estática como na sua transcrição linguística, transportada a imprevisibilidade do vento, senão lê « O mal» ou « Erráticos» ou «Nocturno vulgar» que começa assim:
«Uma rajada de vento rasga sombras operárias nos tabiques – estorva o balancear dos telhados -, dispersa os limites das lareiras -, eclipsa as vidraças. » e « tudo se desatrela nas proximidades de uma mancha de castanho.»

Espero que aprecies O rapaz raro, iluminaçõe e poemas, de Rimbaud.


R

maria said...
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maria said...

Por isso resisto à pos-modernidade, no que ela significa de representação ( no sentido literal), cidade-espectáculo,individualismo ou rave,... Porque quem viu a luz sabe que ela pode cegar, mas sabe também que não pode desviar o olhar. Resta-me ser o TORÇO a que todos os dias tenho que restituir a forma. Ou antes, ser um bloco de pedra,uma ruína, que moldo pela catarse da comunicação, reinventando, muitas vezes com dor, um novo sentimento.
Quanto ao "O rapaz raro" terei que procurá-lo.