Sunday, October 30, 2005

Escola de Educação Ambiental da Quinta da Gruta


Voltei à Escola Ambiental da Quinta da Gruta.
Depois da inauguração formal. Hoje com chuva.
Pela segunda vez esta obra voltou a falar-me. Pondo a hipótese de o conceito não ser brilhante (sobre este tenho alguma dificuldade em estabelecer qualquer julgamento) penso que nesta obra, conceito e construção, não só andam a par, como se identificam completamente. É paradigmática sob este ponto de vista: a exaustiva atenção para que cada pormenor e mais do que isso, para que o próprio processo construtivo se identifique com a ideia. Sente-se que o resultado decorre duma íntima relação da obra com o seu autor e deste com o construtor/artesão. O processo construtivo está completamente determinado pelo projecto e pelo resultado que se pretende obter. Mudar a ordem de construção, mudar o dimensionamento de uma peça, de uma das camadas de que é composta a parede ou a cobertura, implica uma sucessão contínua de alterações em cadeia. Não há detalhe, o detalhe é a própria obra.
Tudo se conjuga para a desconstrução da forma a partir dela própria. A forte presença volumétrica exterior, construída a partir de uma solução de decomposição dos volumes ritmada e de regra mais sensível do que racionalmente perceptível, abre-se a um interior desconcertante. Um corredor roto, completamente iluminado de luz natural que nos coloca no exterior. Um corredor/rua que se vai sucedendo em praças, largos, recantos, mais ou menos misteriosos. Ainda que de um relance, após a passagem do átrio iniciático, se abranja toda a longitude do edifício, ele nunca nos é presente, excepto pela condição do nosso percurso.
Aqui arquitectura percorre-se, a arquitectura usa-se.

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