Thursday, October 13, 2005

linguagens

Ontem, Marco Martins, em entrevista a Carlos Vaz Marques na TSF, dizia que no início da sua actividade cinematográfica, nos primeiros dois anos, quando ia ao cinema não conseguia ver os filmes, olhava para eles como making of’s. Hoje uma terapeuta pela música, que foi ao programa da manhã da Antena 2, dizia que era preciso “ libertar a técnica para usufruir da música”. Dizia ainda que, embora com formação musical no Conservatório Nacional, se diferenciava dos colegas, porque quando ia ouvir um concerto, imaginava coisas em vez de analisar a obra.
Levantam-se questões interessantes e aparentemente contraditórias com o que penso. Provavelmente há vários estádios de maturação e entendimento de uma linguagem, mas será que só quando a dominamos completamente, somos capazes de retirar dela o verdadeiro gozo?
Será que quando desconhecemos completamente as regras de uma linguagem temos a mesma abertura para a acolher sem preconceito na sua plenitude? De uma forma menos completa mas até mais aberta e despreconceituosa? E será que se soubermos as regras ficamos presos a elas e não podemos interpretar a linguagem conforme o sentimento?
Dúvidas que partilho. Porém julgo saber que o caminho da procura e do conhecimento é irreversível, um vício que nos mantém vivos, pelo gozo de descobrir e precisar sempre de mais descobrir.

2 comments:

Anonymous said...

"… a autenticidade do novo mede-se pela resistência que oferece ao pensar"e, quando perguntavas «Será que quando desconhecemos completamente as regras de uma linguagem temos a mesma abertura para a acolher sem preconceito na sua plenitude», considerando que te referes à linguagem artística, julgo que tal interrogação deve ser aberta no plano do entendimento geral das manifestações humanas, incluindo até os enredos mais vanguardistas das formulações científicas de que estamos rodeados e que, embora os utilizemos eficientemente, não compreendemos de todo. Muitas das mais maravilhosas realizações humanas foram e estão a ser engendradas no visor de microscópios atómicos – a nano-tapecaria de partículas transmissoras, a joalharia molecular, etc – ou através de grandes lentes que perscrutam a infinidade geométrica e cromática da escultura celeste e, no entanto, beneficiando delas agora mesmo, devo admitir que disso só sei o que fantasio, ignorando como se diz, como se descreve ou lê tal progresso. E, complicando um pouco mais (supondo ser essa uma vantagem que não devemos desaproveitar enquanto ignorarmos coisas), retomo uma ideia de Heidegger: «Deus só começa a ser Deus no não dito da sua linguagem»

K

maria said...

Julgo que para isso é preciso ter fé - virtude a que eu não chego, porque sou mais do género ignorante mas curiosa, do que crente.
No entanto é interessante perceber que, mesmo que não dominemos completamente a génese e o conceito, qualquer manifestação artística tem, se for arte, capacidade de nos maravilhar.