Há inigmas. Às vezes vivo tanto algumas coisas que elas passam a existir. Li um livro de poemas de José Luís Peixoto. Li poemas em voz alta para que outros os ouvissem também. Aquele sobre as estrelas, o outro, mínimo, sobre a mãe ... e agora procuro-o e não encontro o livro. Não está na minha base de dados. Tinha o livro? Li o livro? Dei o livro?
Amanhã ele estará em Santo Tirso e eu estarei lá, para além do livro.
“Como o sangue, corremos dentro dos corpos no momento em que abismos os puxam e devoram. Atravessamos cada ramo das árvores interiores que crescem do peito e se estendem pelos braços, pelas pernas, pelos olhares. As raízes agarram-se ao coração e nós cobrimos cada dedo fino dessas raízes que se fecham e apertam e esmagam essa pedra de fogo. Como sangue somos lágrimas. Como sangue, existimos dentro dos gestos. As palavras são, tantas vezes, feitas daquilo que significamos. E somos o vento, os caminhos do vento sobre os rostos. O vento dentro da escuridão como o único objecto que pode ser tocado. Debaixo da pele, envolvemos as memórias, as ideias, a esperança, o desencanto.”
José Luís Peixoto; Antídoto; Temas e Debates
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