Monday, January 09, 2006

história e identidade

Alinhamento musical: Vivaldi, Arvo Pärte
Espaço: Uma sala aberta para o pátio/jardim
Tempo: Parado/suspenso
Contexto: Um almoço simples e um bom vinho
Conteúdo: Uma conversa sobre identidade
Causas próximas: a leitura de "Dimensão Oculta" de Edward T. Hall e viagem a Nova Iorque

Porque é que nós portugueses vivemos sempre a pedir desculpa, com um misto de complexo de inferioridade e de nostalgia do passado, da era dos descobrimentos?
Pergunto muitas vezes porque é que os programas de história no 4º ano, no 5º, no 6º, no 7º e no 8º anos do ensino básico (falta-me ver se no nono também), são sempre à volta dos descobrimentos? E sobre os descobrimentos, a perspectiva é sempre a de um povo empreendedor e conquistador?
Tenho para mim que o mais importante da nossa história dessa época, é a capacidade de aculturação, de perceber por dentro as civilizações que abordamos e de com elas nos misturarmos. Ao contrário dos espanhóis que impuseram pela violência o domínio da sua cultura, os portugueses, ficaram, estabeleceram laços, integraram. Mas essa é a perspectiva menos valorizada no ensino comum da história. Dá-mos sempre mais importância a um Afonso de Albuquerque, que na Índia dominou pela força.
Hoje Portugal acolhe povos de muitas origens, desde África, América do Sul, ao Leste Europeu. Não me parece contudo, que tenhamos hoje essa capacidade histórica, que outrora nos caracterizou, de saber aprender e integrar outras culturas. Ontem via na televisão uma reportagem sobre o Natal dos ucranianos, com manifestações de repercussão pública, que mais pareciam folclore do que vontade de apreender e aculturar. Mas esta capacidade de integrar exige uma consciência de identidade e de orgulho próprio que definitivamente não temos. Porque não temos consciência de povo, não sabemos de história, da nossa história e não nos reconhecemos. Estamos sempre mais preocupados com o vizinho do lado do que com o nosso lugar no mundo. Outro dia, Jorge Gaspar, dizia que não percebia porque é que o Porto queria rivalizar com Vigo, estando sempre preocupado com dominar o eixo atlântico, quando, como região, devia era preocupar-se com o seu lugar na Europa.
Esta reflexão decorre da viagem, não com o objectivo da fuga, mas como um modo de regresso, de retorno ao nosso interior, à nossa identidade.

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