Monday, August 14, 2006

fazer

“ Era como uma ebulição cega que só se descarregaria numa insónia ou numa dessas súbitas disposições para as lágrimas quando alguma grande música o comovia, ou era trespassado pela visão súbita de um campo sazonado. Para outros bastava-lhes simplesmente o prazer que estas vagas sugestões de beatitude, estas percepções da beleza lhes causavam em si mesmas. Mas ele provinha dessa obstinada e desequilibrada tribo que ansiava por fazer qualquer coisa com elas – por compreende-las e recriá-las numa forma menos lancinantemente transitória que aquela que a realidade outorgava. Que havia de fazer? Era esse sempre o seu pensamento, e ele atormentava-se intimamente com a noção de que não havia nada, que não podia fazer nada, que não havia nada a fazer.”
Durrell, Lawrence; Lívia ou o Enterrado Vivo; Difel; pág 152

Hoje de manhã quando ouvia Schumann e depois Brahms, pensava na vida densa, de loucura e sofrimento, que aqueles que hoje são capazes de nos comover, tiveram. Eles são desta “tribo” e conseguiram transformar a ebulição cega, compreendendo-a e recriando-a até à porta de entrada para a nossa comoção.
Que hei-de eu fazer, eu que também pertenço a essa tribo? Nada, não há nada a fazer…talvez apenas aquietar-me para simplesmente absorver o prazer.

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