Thursday, August 24, 2006

Vila do Conde


Hoje de manhã a Sílvia perguntou-me “ Madrinha, vamos onde?” Instintivamente respondi como é hábito “ A Vila do Conde.” Depois pensei no que respondi e interroguei-me “…e se fossemos?”. Fomos. O Pedro moeu-me a cabeça, como sempre: “… e o que vamos fazer? E o que tem?” Respondia: “Vamos passear. Vamos ver.” “Ver o quê?” voltava ele a perguntar. Depois veio a lição de moral: “És sempre o mesmo. Não gostas de experimentar. Se não sabes o que te espera, não arriscas. Ainda vais acabar por passar férias, todos os anos, na mesma casa, no Algarve.”
Paramos na marginal de Vila do Conde, a tal que criticam muito por ser cinzenta. Gostamos. Todos. O pavimento corrido e escuro, pontuado pelas caldeiras das árvores e as guias em granito, os pittosporum ainda imberbes, os balizadores (os únicos bonitos que até hoje vi), as rendas de canas que desenham as dunas, os pescadores, a capela da Sr.ª da Guia, o forte, fizeram-me mudar de opinião quanto à habilidade de Siza Vieira para desenhar espaços públicos. Custa-me a admitir que seja difícil de entender, como me custa a admitir que pudesse ser de outra maneira. É generoso, largo, enche o olhar que se espraia para se fixar num qualquer ponto do horizonte real ou imaginário. Provavelmente as pessoas de hoje são mais como o Pedro antes da experiência: gostam que as conduzam, que as explorem, que induzam consumo e comportamentos. Sentem-se inseguras em cenários diferentes do habitual. A diferença está em que o Pedro perante o imprevisto usufrui, dá-se e reconsidera, os outros, sentem-se desconfortáveis e morrem na praia.

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