Saturday, November 01, 2008

Róisín Murphy live (Optimus Alive! vs. Casa da Música)



Dois concertos com condições completamente distintas: em Julho uma tenda, ainda nem era bem noite, uma barreira imensa entre o público e o palco, como em qualquer festival, e as pessoas a circular, o tempo de concerto contado até aos segundos; ontem uma sala pequena e chique cheia de pessoas que ali estavam só para a ver, sem distância entre palco e audiência, a lembrar as pequenas salas de Manchester, tarde o suficiente (muito tarde!) para tornar a coisa ainda mais sexy, mas a poder durar horas e horas. O resultado foram dois concertos distintos e sobre os quais vou tentar não escolher por ser quase impossível: um fulminante, uma rápida pastilha do melhor da pop e da performance; o outro uma injecção demorada dessa mesma pop futurista, com ligeiros intervalos para todos respirarmos, ganharmos fôlego, descansar os olhos daquela mais saborosa cabeleira loira.

Se, em Julho, Róisín Murphy trocou tantas vezes de roupa como ontem, então fê-lo mais rápido, com um ritmo estonteante, sem tempo para a música parar. Hora e meia de cantar e trocar de roupa e dançar e seduzir. E é provável que em Julho a senhora tenha mudado de roupa tantas vezes quanto ontem. Essas mudanças de roupa foram, ontem, demoradas, estudadas, com pessoas a segurar o ambiente por ela e ela a surpreender-nos sempre com uns óculos novos, ou um casaco estúpido (sendo que em róisín estúpido significa extraordinário e lindo!).

Também a diferença de público sortiu enfeito na cantora. Se em Julho tinha, à frente, maioritariamente uma enchente feminina, ontem tinha um fifty/fifty bem arrojado. Inclui: um puto de 10 anos, alguns fotógrafos, gajos de óculos de massa, um rapaz que pronto, uma gaja como eu (ou que era eu), e aqueles putos do porto pertencentes àquelas coisas ou, seja, subgrupos desta nova cultura urbana ou qualquer coisa do género (o electropop, as calças justas e cheias de cor, a tshirts com decote em v). E, em Róisín Murphy, as pessoas que se encontram à frente podem mudar um concerto, porque a senhora é provocadora, adora eye contact e até contact, puro e duro, ao que parece. Canta sempre a olhar para alguém ou quase sempre. Se no alive! visto a população feminina ornamentar toda a primeira fila e o único homem ser homossexual ela me ter eleito (e não, não estou a ser convencida) como o alvo principal dos seus olhos muitas vezes, ontem com tanto homem, só lhe apanhei os olhos a sério uma vez. Esta dispersão de olhares e atenção, no entanto, fez de ontem um concerto mais provocador. Houve mãos, houve cantar mesmo ali ao nosso lado, houve pequenos lamas a beijar meninos e quase que houve um trambolhão (e eu até já tinha esticado a minha mão para a agarrar!).

Outra das coisas que fez do concerto de ontem altamente diferente do de Julho foi a interpretação das canções e o alinhamento em si. Se no alive! tivemos hit after hit, sendo as canções lentas normalmente do último álbum (leia-se Scarlet Ribbon), e até um Forever More dos falecidos Moloko a rebentar-nos o corpo e a espalhá-lo dançante por todo o lado; ontem houve muito mais Moloko mas nenhum hit dos mesmos, muito menos Overpowered e muito mais Ruby Blue. Houve muitas canções mais lentas. Nota-se que, depois de tanto tempo em tournée com Overpowered, o espetáculo está a mudar e assumir novas formas, novos corpos, novas linhas. Assim, nenhuma das músicas foi tocada na versão original pelo que pensei, muitas vezes, estar a ouvir um concerto mixado. A Ramalama apareceu no fim a rebentar toda a sala, a fazer flashar as luzes e as pessoas e o pequeno (rama)lama que Róisín trouxe as costas.

Se me obrigarem a escolher (e isto só acontece com uma pistola encostada à cabeça ou uma faca no pescoço) escolheria o concerto do alive! como meu concerto preferido de Róisín Murphy. Mas afastando o meu coração um bocadinho, o concerto de ontem foi exemplar no que toca à pop mais refinada: bem montado, estético, provocador e sexy, todas as pessoas extremamente bonitas em palco, bem tocado. Foi até provavelmente melhor que o do alive!. Acho que tenho em mãos um daqueles concertos que cresce com o tempo e quanto mais tempo passar mais gostarei dele. Hoje acordei a pensar naquelas horas.

Só uma nota: Róisín, nós não precisamos de saber que gostas de homens ou que gostas mais do Porto do que Lisboa porque o Porto é um rapaz e Lisboa uma rapariga. És capaz de ter estripado alguns sonhos de pessoas naquela sala. Desnecessário. Provocador. Gosto. Sorriso.

3 comments:

Agonia said...

Eu não fã da roísin mas gosto muito das musicas da menina. Não era fã de moloko mas gostava também das musicas.
Eu não conheço o Ruby Blue (excepto o single homonimo) e o overpowered tem musicas de que gosto muito (principalmente da body language que a caralha n cantou).
Como concerto foi muito bom, muito coerente embora talvez esse pop futurista de que falas permite menos empatia com o publico. Mesmo que se saiba que a mulher está de corpo e alma e se despe e se mexe muito bem.
foram horas muito bem passadas mas tardias.se tivesse começado à meia noite era outro impacto com um publico mais fresco.
há que sublinhar que a overpowered funciona imensamente melhor ao vivo assim como a scarlett ribbons.

joana said...

Acho que a "caralha" não cantou a body language porque é um lado b. Não deve entrar no alinhamento muitas vezes.

E em relação à empatia, penso que poucos estavam lá sem saber para o que iam.

(e em relação ao outro blog, até és uma praga bo-inha)

Agonia said...

vais-te arrepender tanto de dizeres essas coisas, menina do gancho.
ao menos dou-te animacíon às coisas darling, aposto que ninguém pegava tanto ctg ultimamente (sendo que o ultimamente é importante).