A hora mudou. Para mim, hoje, ainda não.
Quando procurava num livro a identificação das flores selvagens que encontrei em Ponte de Lima, deparei com um pequeno cartão, datado de Dezembro de 1983, em que um amigo meu transcrevia um texto que eu tinha escrito nos primeiros dias da minha actividade profissional. Na primavera do mesmo ano, já em Santo Tirso: “ …era amarelo e lilás, eram pampilos e tufos de lírios, nas margens do rio eram cerejeiras,…e rãs talvez. É um paraíso fechado e esquecido pelas ruas que o envolvem.
Alguém vive esse idílio, alguém o cultiva, alguém sua e poucos o pressentem.”
Esta atenção levou-me mais tarde a Christopher Alexander que nomeia o “lugar árvore” que me persegue ainda hoje, quando me identifico nos velhos carvalhos, nas tílias, nos castanheiros – árvores no lugar. Depois, ou simultaneamente, “genius locci” de Norberg-Schulz, o espírito do lugar. Saber ler o espírito do lugar, com olhos de hoje e sem as vendas ou as lentes, que moldam o nosso olhar com a luz do passado. Perceber que a paisagem muda para além do que queremos ver teimosamente. Ver como Alberto Caeiro e não como Álvaro de Campos, com uma alma limpa e não tempestuosa. O espírito está lá, fora de nós, no lugar. Se soubermos, viveremos nele em paz.
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6 comments:
"sentir tudo de todas as maneiras / viver tudo de todos os lados / ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo / realizar em si toda a humanidade de todos os momentos / num só momento difuso, profundo, completo e longínquo"
= no entanto =
"nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço/ Todas as sensações me tomam e nenhuma fica. / Sou mais variado que uma multidão de acaso, / Sou mais diverso que o universo espontâneo, / (..) Sempre separando-me de mim indefinidamente"
= no entanto =
"O que em mim vê tudo isto é o próprio isto"
= álvaro de campos =
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[ aSombraPerfumadaDaTília ]
( tentei desenhar uma paisagem mas, pelo que vejo depois de inserido o post, fracassou completamente)
era:
:::::::::::::::etc
:::::::::::::::etc
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:::::::lírio::::::
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e, ao fundo
[aSombraPerfumadaDaTília]
Pelos vistos as oportunidades dadas ao outro lado (de quem comenta) ainda são mais frustrantes do que a inabilidade para com as novas tecnologias. Restará abrirmos este blog a mais intervenientes - uma possibilidade.
Quanto a Álvaro de Campos, depende dos dias: uns acho que é mesmo assim o que em mim vê isto é o próprio isto. Eu e isto misturam-se sem me incomodar. Outros irrita-me: porque tenho que me misturar com isto, porque não posso simplesmente planar, andar sobre e próximo, tocar sem desfazer, amar sem ter?
É exactamente essa (hiper)humanidade (paradoxal) a que aludes que tanto me fascina nele, mesmo quando me arrepia!
H
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