GENÉRICO DE EFEITO PROLONGADO
Receita para fazer um herói
Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome,
Depois perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Serve-se morto.
Reinaldo Ferreira
Este foi o medicamento que me foi destinado em sorte. Terei que o tomar durante alguns dias para o perceber. Persistentemente como convém a qualquer remédio, para fazer o devido efeito. Tomo nota das contra-indicações: “ O medicamento não deve ser administrado em pacientes portadores de manifesta surdez à musicalidade das palavras, ao encanto das imagens e metáforas e à perplexidade entre o som e o sentido”. Não é o meu caso, posso tomá-lo à vontade.
Quanto aos efeitos secundários: “ Foram detectados sintomas de dependências em pacientes pouco habituados à leitura e à partilha dos sentidos. Não existem sinais de arrependimento em utilizadores que correm a este genérico de olhos vidrados.” Quem me conhece sabe que não os temo.
Por isso, vamos a isto.
A Poesia Está na Rua , Santo Tirso 2006
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