Friday, March 31, 2006

que dizer

Quando eu morrer ouçam o II andamento do concerto para piano n.º 2 de Dmitri Schostakovich. Porque ele leva-me em vida para . Podem ouvir o concerto todo, porque se começarem a ouvir só o Andante talvez não cheguem , onde eu vou, onde eu já fui, onde eu estou, onde eu estarei. E não me chorem porque esse é muito bom.
Chorem-me antes em vida. Nestes passos em falso que me transtornam e me deixam à deriva. Nestes não lugares que se nos impõe visitar. Felizmente há lugar, dentro de Schostakovich, como de Ravel, ou de Malher, ou de Bhrams, ou de Reich, ou…. para misturar o sonho com a realidade, sem medo, sem corpo, sem moral, sem tempo.

4 comments:

Anonymous said...

Eis uma transcrição do que escrevi a 17 de Novembro de 2003, não sobre a morte mas sobre o aparecimento da vida:

Como uma galáxia que deflagra subitamente no infinito, tu, na potência metamórfica de um mérito similar - também sucedido com os peixes prateados dos lagos interiores e com as libélulas translúcidas daquele pomar - foste humanamente designada quando, sagrando o nulo, um imponderável logaritmo de estética e ordem causou princípio e, então, a tua vez se desatou no tempo. Por isso, a originalidade que se abre completamente pelo aparecimento do teu nome é comparável ao extravagante impulso em que o lume de uma estrela se declara no longínquo palácio das noites sobrepostas. Porém, o tempo para que tu decorras completa e plena, terminada de todas as circunstâncias, desvanece-se na imensa medida do cosmos, na sua terrível escala de vazios inultrapassáveis. Mas, sem que o possas invocar, tu és insubstituível na ordem perpétua das entidades vivas e, a tua ausência, agora impossível, se todavia sucedesse, apesar da ínfima sístole de tempo que tu interpretas, quebraria a grande Harmonia. É que, cada ser, até o ligeiro e o efémero, tem um sentido independente do caso que o determina, é soberano a tudo, embora de tudo dependa para que a unidade dessa vanguarda se conclua. A galáxia que ocupas é incomensurável mas aguarda que todos os homens se cumpram para que se possa extinguir, soltando-se do seu raro significado. Tu aglutinas o decurso da humanidade com o teu caso inédito, insólito daquilo que fizeres, sonhando. E, mesmo que mintas, nada dirás que contradiga ou inflicta o destinado a ser. É que a tua acção, o teu ético juízo, foram previstos por um enigmático Narrador e mesmo quando o contestares, o teu escrúpulo, no fim, destina-se a aperfeiçoar um axioma estético que, até ao limiar do tempo, só Ele conhecerá.


L

maria said...

Certamente foi mais compensador escrever o teu texto do que o meu.
O teu, pela esperança, o meu pela desilusão. Há dias assim: há realmente razões que o coração desconhece... e quando tudo está certo no nosso raciocinio lógico e inteligente, algo nos aperta a garganta e diz:" E, mesmo que mintas, nada dirás que contradiga ou inflicta o destinado a ser."

maria said...

porque às vezes nem nesses lugares há lugar.

joana said...

é só às vezes. eu conto-te mais breve do que imaginas.*