Gostei de ouvir Francisco Allen Gomes dizê-lo, não porque a ideia seja nova para mim, mas porque me dá a oportunidade de voltar aos meus temas queridos e expô-los assim, claramente neste blog. Porque ele foi extremamente claro ao dizer que a sequência imediata do sentimento de desejo e da sua consumação não permite qualquer elaboração mental, qualquer efabulação, qualquer fantasia ou sonho, que alimentam, neste caso concreto o erotismo e a capacidade de qualificação de um acto. É esta curta distância temporal que leva à banalização, à necessidade de procurar outra experiência totalmente nova para repetir sempre a mesma pobreza de gesto. Mas é esta talvez a principal diferença entre o sexo animal e o sexo humano. Por isso estamos encurralados pela cultura e pela sociedade. Pela cultura porque não nos é permitido satisfazer, como os animais, a nossa necessidade sexual à medida da vontade, perdemos a original periodicidade sexual. Pela sociedade, entendida aqui como sociedade de consumo, porque vivemos uma época de valorização do descartável – usar e deitar fora, mesmo quando romanticamente encontramos o par da nossa vida. Talvez esta seja uma das principais razões dos nossos fracassos individuais e colectivos e uma das principais causas das cada vez mais frequentes depressões.
Saber incorporar como parte da construção do nosso eu a recusa, integrar o não, perceber o tempo, é um modo de viver distante da cultura ocidental. Por isso bebemos avidamente a orientalidade, ainda que percebida com os nossos ocidentais olhos.
Saber incorporar como parte da construção do nosso eu a recusa, integrar o não, perceber o tempo, é um modo de viver distante da cultura ocidental. Por isso bebemos avidamente a orientalidade, ainda que percebida com os nossos ocidentais olhos.
3 comments:
Pode não bastar um simples gesto para reter o par da nossa vida. Podemos até assumi-lo, mas não o ter.
E sendo assim, como se contém o desejo? Como não fantasiar, viver em sonho aquilo que na realidade não podemos viver?
Mesmo que o não transformemos em fracasso ou frustração, haverá nenessariamente lugar à fantasia, ao erotismo. Talvez a não consumação impeça a banalização desse desejo. Mas não quero crer que seja pela ausência que se mantém viva a vontade.
E...mesmo tornando descartável o desejo, mesmo trocando um único pela imediatez de vários sem nome nem rosto, perder-se-á o desejo por aquele, pelo único? Eu digo que não....
Eu banalizo muito o desejo... estico, fantasio! Chego mesmo a fabular o objecto, a o divinizar. Não deixa de ser curioso o facto de ser um sentimento abstracto que desvanece com a materialização do mesmo. Basicamente fujo à consumação do desejo, porque rigorosamente ele não me é materializável, mutua-se em outros sentimentos.
Como é evidente falo dos objectos de desejo animados, porque os inanimados, esses, possuem apenas três dimensões.
Talvez não tenha sido clara. O que queria dizer era mais ou menos o que expressaram nos comentários. Mais importante do que a posse imediata do objecto do nosso desejo é aquilo que nos permitimos fantasiar a partir dele. Tê-lo pode começar por ser mental e pode até nem chegar a ser material, com o seu conhecimento, e ser material pelo nosso conhecimento dele. Quando escrevia banalização era mais no sentido da consumação imediata, como quem mata a fome ou mata a sede, que não deixa espaço para a fantasia.Como dizia Allen Gomes "A consumação limita o lugar da imaginação. A rapidez vai contra a latência".
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