Tuesday, November 28, 2006

o lado sexista

Comentemos então o lado sexista da questão. O que me impressionou foi exactamente Susan Sontag afirmar peremptoriamente que os homens apenas se interessam pelas mulheres enquanto elas mantêm a frescura da idade e atractividade física. Ou seja, uma mulher quando envelhece deixa de ser interessante, sob um ponto de vista integral e único para o homem. Porque este desinteresse, ou o seu interesse tem sempre como porta de entrada a atracção sexual. Os homens chegam além, apenas quando a partir desse interesse são levados mais longe? Apenas tendo como finalidade essa satisfação? Esta incapacidade de, em qualquer idade a mulher manter para o homem interesse sexual, é um sinal de imaturidade, por parte dos homens, que me custa a admitir. Mas ela admite-o e afirma-o. A relação amorosa plena conseguida por parte destas duas mulheres, segundo pelo menos o prisma de Annie Leibovitz, só é possível porque as mulheres ultrapassam o preconceito e os códigos, admitindo a beleza mesmo num corpo marcado pela idade. Mesmo assim, ainda assim e talvez mais assim, a pessoa humana consegue a plenitude porque alia num só ser a experiência e a sabedoria num corpo admitido e vivido como belo. Consegue a unidade do dual que sempre nos conforma. Mas as próprias mulheres admitem e pensam que a idade as mata como seres sexualmente desejáveis. Desvalorizam-se, desleixam-se e hipotecam a sua atitude perante esta ideia universalmente assumida.
Mas se tal é verdade, o que me custa a admitir, então o caminho será o seguido por estas duas mulheres, amando-se integralmente até à morte, deixando sobrevir o luto e a saudade não dos tempos idos, da memória do que fomos, mas daquilo que hoje e em qualquer idade somos. Sempre belas enquanto integrais.

2 comments:

Ninguém said...

...qualquer opção, a todo o instante livre e geradora de felicidade mútua não me merece qualquer reparo, nem sequer estético.


E, muito sinceramente, considerar que a atractividade sexual é o principio e o fim da morfologia comportamental dominante é absurdo.Se assim fosse, de facto, o mundo social seria obviamente muito diferente ...

Patrícia said...

Talvez não me tenha feito compreender...Tenho como princípio que a beleza de cada um não depende de se ter sido mais ou menos "dotado" à nascença, tão pouco do cuidado com o corpo durante toda a vida. Sou fundamentalista nesta ideia. Não gosto dos rótulos em que uma mulher é qualificada apenas pelos seus atributos exteriores. Cansa-me e desinteressam-me aqueles que idolatram mulheres-bonecas, bonitas sem dúvida, mas sem ligarem a mais nada. Porque na verdade, todas as pessoas - e falando das mulheres, são bonitas!E o tipo de beleza a que me refiro é, pelo menos para mim, muito mais importante. Porque, se à primeira vista à mulheres que podem parecer desinteressantes, há olhares, formas de sorrir, de falar e até de respirar que as fazem lindíssimas. Estas mulheres são ainda mais bonitas! Muito mais bonitas! Posso parecer idealista com esta visão da beleza mas estou convicta do que digo. Aliás, não há dias em que ao acordarmos nos sentimos tão bem, tão em harmonia com o mundo, que os sorrisos são naturais, vem de dentro e não precisam de mais nenhum motivo? Nesses dias, irradiamos beleza. Não tenho duvidas! E o lado sexista da questão? Pois bem...Nem todos os homens são perfeitos asnos! Se há aqueles que preferem as "estampas" também há os que sabem ver mais fundo e apreciam as mulheres pelo que de facto elas são e não apenas pelo que elas aparentam ser. E, é claro, que tudo o que aqui digo se aplica às mulheres também! E, sim, ainda não me referi à questão da idade. Questão fulcral para muitos. Sim, é verdade que com a idade perdemos muito do que exteriormente aparentavamos. Se nos tornamos sexualmente desinteressantes? Não creio. Muito pelo contrário. Não trocava o que sou hoje, mesmo tendo mais 30 kg, pelo que já fui. Há uma maturidade, física também, que me tornou mais Eu. Como se cada ruga correspondesse a um traço de sabedoria, de harmonia e de bem estar. Muito mais única e inteira. Não me julgue pretenciosa. Apenas lhe digo como me sinto (é essa a única maneira que sei de comentar o seu post). Apesar disso tudo compreendo a opção de Susan. Não me dou ao luxo de a apreciar. Apenas a compreendo. Compreendo o processo de maturação, de expectativas e de desencanto. Paralelamente, a descoberta da identificação de uma estética que sendo minha se encontra no outro também. O conforto. A paixão. Mas esse é o lado que menos me apetece comentar por me parecer desnecessário justificar o porquê de se gostar de alguém.
Mas...Será que a "incapacidade de, em qualquer idade a mulher manter para o homem interesse sexual" não advém de ela própria, em primeiro lugar ter perdido esse mesmo interesse?...