Thursday, May 31, 2007

as palavras

Durante o dia lembro-me de palavras: uma, duas no máximo, que justapostas, sobrepostas ou separadas me sugerem ideias, para este espaço. Muitas das vezes ao longo do dia evaporam-se, como hoje. Tinha ideia de escrever sobre...
As palavras oprimem-me, às vezes. As minhas palavras oprimem-me. Na minha boca tornam-se fantasmas que crescem, repetem-se sem eu querer, são estribilhos ou cordas que me apertam. No meio de um discurso, saem-me soltas, sem que ninguém as oiça - apenas eu- para me fixarem num tempo passado que me faz esquecer, plissar, atrapalhar as ideias que pressigo na ânsia de me expressar. Por isso, também gosto de ler e gosto de escrever. Quando leio, as palavras dos outros coincidem comigo, aproximam-se e afastam-se, leio-me e leio outros. Quando escrevo uso as palavras dos outros, aproximo-as e afasto-as, releio, corrijo, escrevo, aproximo e afasto. Às vezes as minhas palavras, levam-me mais longe do que o meu pensamento e soltam-se em formas inconformáveis pelo papel. Mas não as ouço e não me ouço. A falar as palavras são meios, a escrever as palavras, para mim, são fins.

3 comments:

Anonymous said...

… … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … …
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… … … … … … … … … … … … … … dizendo mar, não é o mar que fica dito, ou a luz por se dizer sol. A palavra … … … … … … … … … … … … … … é o próprio raciocínio, não o que dele se extrai. Não há palavras ocas… … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … cada uma tange, tangem todas, sempre, o contínuo ajuste das - ás - ideias ou dos amores. Esse invólucro-palavra que, verdadeiramente, nem é a realidade nem somos nós aludidos, … … … … … … … … … … … … … … é uma espécie de infra-tese, exactamente ás sete e cinquenta e nove da tarde, ou de qualquer outro oblíquo instante. Tal como … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … o instante, a palavra é-o perfeitamente, quero dizer … … … … … … … … … … … … … … ? … … … … … … … … … … … … … … desnecessária por si mesma, todavia, absolutamente imprescindível para que o luxo das contingências em nós deflagre e possamos … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … talvez … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … inventar cada partícula de tantos futuros. Nós não somos … … … … … … … … … … … … … … o que a palavra não disser, mesmo que … … … … … … … … … … … … … … a … … … … … … … … … … … … … … boca qualquer janela desenhe mas, ainda assim, … … … … … … … … … … … … … … não está o universo dela dependente para se causar. Nós somos a palavra, quase só a palavra, incluindo a palavra universo… … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … … …

Anonymous said...

… … … … … … … … … … … … … … ultimamente só me apeteçe ser vago e circular, e não chegar a convencer-me definitivamente do que é dito. Dizer por dizer! Tal e qual!
Amanhã (des)mentirei tudo, alegremente, para voltar a dizer no depois que se seguir!

Anonymous said...

"Quando leio, as palavras dos outros coincidem comigo, aproximam-se e afastam-se, leio-me e leio outros. Quando escrevo uso as palavras dos outros, aproximo-as e afasto-as, releio, corrijo, escrevo, aproximo e afasto."

Adorei esta passagem Maria,já viste o fime "waking Life - acorda para a vida"? Fica a sugestão...has-de gostar.

Aparece pelo meu blog se quiseres ... http://miguelgomescoelho.blogspot.com/

Beijo e mais um vez lindissimo texto