Thursday, August 25, 2005

Sr. Albino

O Sr. Albino entrava na casa dos meus pais, há quarenta anos também a minha casa, de bicicleta e com uma mala de mão, preta. Dentro da mala estavam os seus apetrechos de barbeiro. Punham uma cadeira com uma banqueta, na parte coberta do pátio (quinteiro) e, à vez, sentavam-nos na cadeira para ele nos cortar o cabelo. Aos meus irmãos, um mais velho e um mais novo, e mim, a rapariga.
Ontem fui com o meu filho e o meu pai visitar o Sr. Albino. No quintal comprido e estreito de casa suburbana, tem centenas de gaiolas com passarinhos de criação. Os seus olhos reluziram ao ver a Çãozinha “…nasceu em 14 de Dezembro, para aí há cinquenta anos” – enganou-se por pouco. “ Com seis meses cortei-lhe o cabelo. Tinha um cabelo forte!” “ A vida é como a recta do Mindelo. Quando olhamos para trás já não sabemos onde é que ela está.”
Os pássaros, vai dá-los, porque já não tem saúde para os tratar. Trouxemos um canário calmo e muito amarelo.
Eu vivo na cidade – a aldeia da minha infância. É insólito como sem sair da “cidade” vivo ainda na aldeia, retorno ao passado e encontro uns olhos que me lêem depois de tantos anos.

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