Thursday, August 11, 2005

Sobre o discurso

De Proust que disseca o quotidiano como ninguém. Com ele os sentimentos mais prosaicos, mas também mais fundamentais e permanentes desde sempre no homem, revelam-se em todas as dimensões e profundidade.

“ A verdade que pomos nas palavras não abre caminho directamente, não é dotada de uma evidência irresistível. É preciso passar bastante tempo para que uma verdade da mesma ordem se possa formar nelas. Então o adversário político que, apesar de todos os raciocínios e de todas as provas, considerava o sequaz da doutrina oposta um traidor, partilha igualmente a convicção detestada na qual aquele que procurava inutilmente difundi-la já não acredita. E a obra-prima que para os admiradores que a liam em voz alta parecia mostrar por si mesma as provas da sua excelência e que aos outros ouvintes apenas oferecia uma imagem insana e medíocre, será por eles proclamado obra-prima, tarde de mais para que o autor possa sabê-lo.”

Marcel Proust; Em Busca do Tempo Perdido (Volume II) À somra das raparigas em flor; pág. 91; tradução Pedro Tamen; Relógio de Água

Um pouco céptico para o nosso tema da comunicação.

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