Planeio, antevejo, gozo, romanceio, ...
Depois a realidade surpreende-me com o imprevisto, o inaudito, a sensaboria, a incomunicabilidade.
Outras vezes, a realidade surpreende-me com o imprevisto, o indizível, o milagre.
A idade traz-me apenas a capacidade de superar a desilusão pela percepção de que o sonho é também um matiz do real.
Friday, June 30, 2006
Wednesday, June 28, 2006
às vezes
Por mais voltas que o mundo dê os temas/problemas vão sempre bater no mesmo ponto: ciúmes, disputas de afectos, …
Somos postos no mundo, sem nos perguntarem nada, mas estou em crer, que na maioria dos casos, somos postos aqui porque nos querem, para o nosso bem-estar e para sermos felizes ( ou então por puro instinto de continuação da espécie – mas esse é outro tema). A felicidade de uns não tem que implicar a infelicidade de outros. Por isso muitas vezes me vem à cabeça a máxima, que aprendi nos meus tempos de comunista e que ainda hoje sinto como minha “ De cada um segundo as suas possibilidades a cada um segundo as suas necessidades”. Se assim fosse seríamos muito mais tolerantes, porque não exigiríamos de todos igual, respeitaríamos a diferença. Se assim fosse, entendíamos que uns precisam de algumas coisas mais do que outros e que isso não põe em causa o nosso lugar. Ele é único e à nossa medida.
Na prática estes podem também ser os conceitos de equidade e de coesão de que tanto se fala hoje.
Mas o ciúme, a inveja e a disputa estão sempre à espreita, não para viver melhor com o vizinho, mas para lhe “passar a perna”. Aqui não falo só do plano do “ter” material, porque aí, pelo menos racionalmente, quase toda a gente chega (basta ouvir o chavão acerca do ter e do ser), mas falo do “ter” possuir, pessoas e afectos: disputam-se pais, disputam-se irmãos, disputam-se parceiros, disputam-se amigos, disputam-se colegas de trabalho. Disputam-se até ninhos, consolos e confortos, tão potencialmente neutros como são os parentais.
A capacidade de amar dos pais é infinita e reproduz-se à medida do necessário. Penso nisso muitas vezes relativamente aos filhos: por ter dois filhos não divido a minha cota de amor por dois, duplico-a, fico com o dobro da cota, amando na diferença, na intercepção e na disjunção.
Só que às vezes não é bem assim…
Somos postos no mundo, sem nos perguntarem nada, mas estou em crer, que na maioria dos casos, somos postos aqui porque nos querem, para o nosso bem-estar e para sermos felizes ( ou então por puro instinto de continuação da espécie – mas esse é outro tema). A felicidade de uns não tem que implicar a infelicidade de outros. Por isso muitas vezes me vem à cabeça a máxima, que aprendi nos meus tempos de comunista e que ainda hoje sinto como minha “ De cada um segundo as suas possibilidades a cada um segundo as suas necessidades”. Se assim fosse seríamos muito mais tolerantes, porque não exigiríamos de todos igual, respeitaríamos a diferença. Se assim fosse, entendíamos que uns precisam de algumas coisas mais do que outros e que isso não põe em causa o nosso lugar. Ele é único e à nossa medida.
Na prática estes podem também ser os conceitos de equidade e de coesão de que tanto se fala hoje.
Mas o ciúme, a inveja e a disputa estão sempre à espreita, não para viver melhor com o vizinho, mas para lhe “passar a perna”. Aqui não falo só do plano do “ter” material, porque aí, pelo menos racionalmente, quase toda a gente chega (basta ouvir o chavão acerca do ter e do ser), mas falo do “ter” possuir, pessoas e afectos: disputam-se pais, disputam-se irmãos, disputam-se parceiros, disputam-se amigos, disputam-se colegas de trabalho. Disputam-se até ninhos, consolos e confortos, tão potencialmente neutros como são os parentais.
A capacidade de amar dos pais é infinita e reproduz-se à medida do necessário. Penso nisso muitas vezes relativamente aos filhos: por ter dois filhos não divido a minha cota de amor por dois, duplico-a, fico com o dobro da cota, amando na diferença, na intercepção e na disjunção.
Só que às vezes não é bem assim…
outro tempo
As razões da minha ausência prendem-se com imensos afazeres e com dificuldades de entrar na net. Finalmente hoje consegui, agora. Não tenho nada preparado para escrever e as reflexões que me têm ocupado estão ainda demasiado embrulhadas para dar alguma coisa, ou então, são mais do mesmo. Ou então ainda, são muito profissionais, a nova lei das finanças locais, as novas arquitecturas das NUT’s, dificuldades de organização ou como gerir recursos humanos segundo as novas perspectivas autentozóicas. Que “chatice”, para este blog!
Mas são as pequenas vitórias e a maior liberdades de horários, conquistada sobre as férias do(s) filho(s), que me permitem esta disponibilidade mental, para me sentir senhora do tempo, conciliando bem o dever com o prazer. Ainda que às vezes o dever ( o que está por fazer) ensombre o prazer de não fazer.
Mas são as pequenas vitórias e a maior liberdades de horários, conquistada sobre as férias do(s) filho(s), que me permitem esta disponibilidade mental, para me sentir senhora do tempo, conciliando bem o dever com o prazer. Ainda que às vezes o dever ( o que está por fazer) ensombre o prazer de não fazer.
Thursday, June 22, 2006
O Príncipe das Trevas
” (...) Gabrieli estava em paz porque era o senhor do seu método. Este é o segredo de toda a felicidade. Porque não conseguia ele sentir o mesmo a respeito de escrever livros? Oakshot detestava os livros em que tudo era cuidadosamente descrito e as conversas estupidamente registadas. Mas de facto era isso que Sutcliffe fazia.
De volta aos canais descobriu subitamente que já não lhe interessava saber se Deus existia ou não – o poente era tão fantástico que lhe tinha apagado quase inteiramente a consciência. A partir daquele espectáculo uma pessoa podia deduzir tudo – a respeito de Deus, queria ele dizer. Tão incrível e meticulosamente planeado e executado. Imagine-se os Venezianos sujeitos a um anoitecer destes todos os dias das suas vidas… Era demasiado. Só um benemérito daltonismo os podia salvar de ficarem loucos ou pelo menos estáticos. (...)”
De volta aos canais descobriu subitamente que já não lhe interessava saber se Deus existia ou não – o poente era tão fantástico que lhe tinha apagado quase inteiramente a consciência. A partir daquele espectáculo uma pessoa podia deduzir tudo – a respeito de Deus, queria ele dizer. Tão incrível e meticulosamente planeado e executado. Imagine-se os Venezianos sujeitos a um anoitecer destes todos os dias das suas vidas… Era demasiado. Só um benemérito daltonismo os podia salvar de ficarem loucos ou pelo menos estáticos. (...)”
Monsieur ou o Príncepe das Trevas; Lawrence Durell; Difel; Pág146
pergunto
“ Pergunto, para mim, se a escrita tem passado?”
Hoje à hora de almoço, almoço colectivo e diferente do habitual no género e no lugar, lembrei-me desta frase. Relaciono-a com uma crónica de Miguel Esteves Cardoso, que li há tempos, em que ele referia como um mal dos portugueses é acharem que, perante a comunicação de uma ideia ou de uma experiência de outros, o que eles dizem ou vivem é exactamente aquilo que nós poderíamos ter dito ou vivenciado. Chocou-me. Porque sinto realmente e às vezes, não muitas, que a escrita não tem passado. Aquilo que leio é meu, na presente hora, minuto ou segundo em que o faço… e dou graças por alguém ser capaz de encontrar as palavras que me preenchem. Não poderia ter sido escrito por mim, porque infelizmente não consigo encontrar o modo pleno da expressão que traduza os sentimentos. Talvez que, para aquela pessoa que escreveu, a sua escrita não tenha o significado profundo e pleno que tem para mim. Mas é assim, a palavra deixa de ser nossa quando comunicada, os sentimentos vivem-se na comunicação.
Hoje à hora de almoço, almoço colectivo e diferente do habitual no género e no lugar, lembrei-me desta frase. Relaciono-a com uma crónica de Miguel Esteves Cardoso, que li há tempos, em que ele referia como um mal dos portugueses é acharem que, perante a comunicação de uma ideia ou de uma experiência de outros, o que eles dizem ou vivem é exactamente aquilo que nós poderíamos ter dito ou vivenciado. Chocou-me. Porque sinto realmente e às vezes, não muitas, que a escrita não tem passado. Aquilo que leio é meu, na presente hora, minuto ou segundo em que o faço… e dou graças por alguém ser capaz de encontrar as palavras que me preenchem. Não poderia ter sido escrito por mim, porque infelizmente não consigo encontrar o modo pleno da expressão que traduza os sentimentos. Talvez que, para aquela pessoa que escreveu, a sua escrita não tenha o significado profundo e pleno que tem para mim. Mas é assim, a palavra deixa de ser nossa quando comunicada, os sentimentos vivem-se na comunicação.
Wednesday, June 21, 2006
colapso
Gosto de sentir a alta tensão da vida, na mistura que ela tem de real e imaginação. Gosto da alta voltagem. Mas ela exige um contraponto, que se constrói no aceitar a magnitude da vida universal, com o que ela tem para nos oferecer: às vezes o que se gosta muito e outras, o que se gosta menos.
Induzir, não é o mesmo que manipular. Induzir é condicionar ou acelerar aquilo que já estava destinado ou já existia latente.
Construir ou juntar pedaços, recombinando-os em novos estados. Assim construir é criar.
Já todos sabemos que para sentir o mais é preciso viver o menos…e que às vezes não é tão bom viver no menos. Talvez porque fomos culturalmente habituados a querer sempre o mais.
Hoje foi assim até receber um telefonema que me lembrou uma falha de energia que gerou um colapso de informação. Uma nódoa no dia profissional.
Apaguei o café, peguei num cigarro e decidi-me a trabalhar…um pouco mais.
O referido telefonema aconteceu a meio desta escrita, dum concerto por Artur Pizarro que ouço ao longe e da paz infinita que corre lá fora no pátio e no jardim.
Induzir, não é o mesmo que manipular. Induzir é condicionar ou acelerar aquilo que já estava destinado ou já existia latente.
Construir ou juntar pedaços, recombinando-os em novos estados. Assim construir é criar.
Já todos sabemos que para sentir o mais é preciso viver o menos…e que às vezes não é tão bom viver no menos. Talvez porque fomos culturalmente habituados a querer sempre o mais.
Hoje foi assim até receber um telefonema que me lembrou uma falha de energia que gerou um colapso de informação. Uma nódoa no dia profissional.
Apaguei o café, peguei num cigarro e decidi-me a trabalhar…um pouco mais.
O referido telefonema aconteceu a meio desta escrita, dum concerto por Artur Pizarro que ouço ao longe e da paz infinita que corre lá fora no pátio e no jardim.
Se alguém quizer que continue...
Tuesday, June 20, 2006
grupos
Qualquer que seja o motivo que leva as pessoas a organizarem-se em seitas, sociedades secretas, grupos fechados ou até mesmo experiências piloto ou pioneiras, há um grande risco desses mesmos grupos se autodestruírem. Geram dentro de si os germens da sua destruição. Esses grupos, porque fechados, vivem do oxigénio que são capazes de produzir e que, depois de sucessivamente respirado, sem renovação, se esgota. Nestes grupos as relações interpessoais são directas e densas e estão por isso sujeitas a riscos como os da sede de poder, da ânsia de protagonismo, de invejas, de domínio e de posse…. Todos aqueles sentimentos destruidores e permanentes na espécie humana. Reflicto sobre isto a partir do caso da Escola da Ponte, mas não posso deixar de lembrar-me da Serra do Pilar, comunidade cristã que tanto me disse e que passou recentemente por um duro processo de clivagem, que acompanhei de fora. Nas primeiras comunidades cristãs, tantas vezes aí reflectidas e discutidas, passou-se pelos mesmos processos e cometeram-se os mesmos erros. Porque somos incapazes de aprender com a história? …ou este é mesmo um mal congénito que não conseguiremos expurgar?
(isto é mesmo para ser assim. Hoje pouco rigoroso, apenas um apontamento que me dará ainda que pensar...)
Saturday, June 17, 2006
O Código Da Vinci
Fui ver com o Pedro o Código Da Vinci. Exitei em escrever.Nem ele nem eu gostamos. Passamos quase três horas numa sala a ver um filme que não nos disse nada: nem pela construção do discurso, nem pelo encademento das cenas ou por elas próprias, nem pelo argumento, nem pelo desempenho de actores.
Gosto de policiais. Neste, tudo é tão previsível e explicável que não suspende, nem prende o espectador. As explicações simbólicas, secretas, cabalísticas ou gnósticas, são tão superficiais que nos fazem esboçar sorrisos de inverosimilhança. É tudo muito leve e descosido para constituir a verdadeira razão. A única frase que retiro do filme é dita por Tom Hanks “ Ou se acredita ou não se acredita!”, por isso não serão desmentidos históricos ou de segredos bem guardados, que modificarão a face da história, nem destruirão uma crença ou uma religião. Ela alimenta-se dela própria e destas especulações paralelas que a confirmam. O fundamento é o mesmo, depende apenas daquilo em que se acredita.
Alguns factos que poderiam ser interessantes na caracterização psicológica das personagens, que não existe de todo, são dados ao desbarato e apenas preenchem tempo do filme: a origem do sentimento claustrofóbico de Tom Hanks ou o poder magnético das mãos de Audrey Tautou.
Não li o livro, mas depois do filme que vi, não irei lê-lo. Mas vê-lo teve pelo menos o mérito de me atirar sofregamente para o Quinteto de Avignon, de Lawrence Durrel que fundamentou a construção da minha personalidade em momento de viragem.
Gosto de policiais. Neste, tudo é tão previsível e explicável que não suspende, nem prende o espectador. As explicações simbólicas, secretas, cabalísticas ou gnósticas, são tão superficiais que nos fazem esboçar sorrisos de inverosimilhança. É tudo muito leve e descosido para constituir a verdadeira razão. A única frase que retiro do filme é dita por Tom Hanks “ Ou se acredita ou não se acredita!”, por isso não serão desmentidos históricos ou de segredos bem guardados, que modificarão a face da história, nem destruirão uma crença ou uma religião. Ela alimenta-se dela própria e destas especulações paralelas que a confirmam. O fundamento é o mesmo, depende apenas daquilo em que se acredita.
Alguns factos que poderiam ser interessantes na caracterização psicológica das personagens, que não existe de todo, são dados ao desbarato e apenas preenchem tempo do filme: a origem do sentimento claustrofóbico de Tom Hanks ou o poder magnético das mãos de Audrey Tautou.
Não li o livro, mas depois do filme que vi, não irei lê-lo. Mas vê-lo teve pelo menos o mérito de me atirar sofregamente para o Quinteto de Avignon, de Lawrence Durrel que fundamentou a construção da minha personalidade em momento de viragem.
P.S( sem ser Princesa Sophie) - o Pedro diz que ficou com vontade de ler a descodificação do código
Thursday, June 15, 2006
Sobre arquitectura
O caminho que segue arquitectura em Portugal é preocupante. Não se consegue fazer boa arquitectura em Portugal.
O paradoxo existe quando, por outro lado, a arquitectura é uma disciplina cada vez mais mediatizada e influente. Ainda ontem ouvia no Ritornello um grande elogio a Siza.
Mas esta influência em vez de se centrar na qualidade e reconhecimento da boa obra arquitectónica desvia-se para a valorização da obra pela venda do nome do arquitecto.
Por isso convida-se Siza, Souto Moura, Llinás ou Chiperfield para conquistar mercados, já não só o português, mas o espanhol ou inglês. É ver todos os dias nos jornais as promoções de resortes, aldeamentos, empreendimentos imobiliários que no cartaz trazem em letra fosforescente nomes que duplicam e triplicam o valor real do objecto. Então, pode fazer arquitectura quem tem um nome fosforecente que garante mais valia económica e assim consegue impor um método, que implica trabalho, tempo e recursos para a execução, ou faz “arquitectura” quem se vende enveredando por caminhos que reduzem trabalho, tempo e recursos e conduzem a obras em que a imagem panfletária se enquadra nas receitas da sociedade de consumo. Estes segundos, praticam preços baixos, muito abaixo da tabela de honorários, minam o mercado com a concorrência desleal, envolvem-se em negócios imobiliários, fazem acordos com os construtores, destroem a profissão. Só que estes começam a ser a maioria e condicionam o mercado desvirtuando a arquitectura.
Quem faz bem, profissionalmente e gasta tempo e recursos a fazer um projecto de execução, mas não tem um nome que cubra o pagamento dos devidos e justos honorários, fica com o projecto guardado na gaveta, porque é caro, ou entra numa batalha desgastante que acaba muitas vezes nas secretarias dos tribunais.
A minha história construiu-se na celebração da arquitectura/construção. Na discussão do programa, na integração da obra no sítio, no respeito e diálogo com o cliente, no cuidado com o conforto, na batalha pela redução de custos… e assim continua na ligação que tenho à profissão em regime liberal e na Cultour. Entendo que o mundo mudou, mas tenho muito medo da revisão do 73/73. Não temos uma Ordem que nos defenda, tanto no controlo do ensino que se pratica como na defesa do exercício da prática profissional. Quem está também do outro lado, da instituição pública, teme necessariamente.
Não desistirei. Grandes arquitectos servem-me de referência. Eles continuam íntegros, exigem rigor, pagamento justo para um trabalho sério e empenhado e constroem para as pessoas viverem melhor. Eles foram Gigante, Melo, Távora e são ainda, Siza, Soutinho, Pedro Ramalho, Souto Moura, ….etc, etc, etc, e são ainda muitos os etc´s. São também mais novos, da minha geração e defendê-los-ei, custe o que custar.
Wednesday, June 14, 2006
digamos
Digamos, portanto, por um lado, enfim, tentamos, pois, portanto, digamos, enfim…..
Ouvia há pouco num debate este ruído, que embora ajude quem fala, dispersa quem ouve. Dei comigo a escrever palavras e a pôr tracinhos á frente para contabilizar as vezes que o Sr. Engenheiro as dizia. Não é a primeira vez que o ouço e lembro-me de ter feito o mesmo das outras vezes.
Não sabemos falar, perdemos a capacidade da retórica e do discurso comunicativo. No entanto ele é extremamente importante e boas ideias podem perder-se por incapacidade de comunicação que passa não só pela correcção do discurso, mas pela convicção e postura adoptada quando se diz – pela forma como se comunica.
Eu, mulher, sinto ainda mais esta deficiência e esta lacuna na minha formação. Para passar a barreira do pequeno grupo vejo-me aflita. Mas não quero ultrapassá-la à custa do enfim, portanto, porventura, às vezes, pois, assim, digamos…
Digamos que estou a ficar preparada para passar quatro dias de férias, mentais…
Ouvia há pouco num debate este ruído, que embora ajude quem fala, dispersa quem ouve. Dei comigo a escrever palavras e a pôr tracinhos á frente para contabilizar as vezes que o Sr. Engenheiro as dizia. Não é a primeira vez que o ouço e lembro-me de ter feito o mesmo das outras vezes.
Não sabemos falar, perdemos a capacidade da retórica e do discurso comunicativo. No entanto ele é extremamente importante e boas ideias podem perder-se por incapacidade de comunicação que passa não só pela correcção do discurso, mas pela convicção e postura adoptada quando se diz – pela forma como se comunica.
Eu, mulher, sinto ainda mais esta deficiência e esta lacuna na minha formação. Para passar a barreira do pequeno grupo vejo-me aflita. Mas não quero ultrapassá-la à custa do enfim, portanto, porventura, às vezes, pois, assim, digamos…
Digamos que estou a ficar preparada para passar quatro dias de férias, mentais…
Tuesday, June 13, 2006
A Casa e a Música
A Casa e a Música
Regressei à Casa da Música. À sala 1, domingo à noite, 23 horas. Uma outra experiência, interior e para o interior. A Casa não se comportou à altura. Muito grande, luminosa, barulhenta para o tom intimista e necessariamente concentrado, que o concerto exigia. Nós estávamos a isso dispostos. Chegamos com tempo, gozamos a intimidade dos sofás e de conversas várias antes de nos dispormos a subir e a ouvir. A sala estava completa e por isso fui pela primeira vez para o camarote um. As cadeiras – uma luta constante para segurar o assento debaixo do meu corpo. A guarda de acrílico dividia o meu campo de visão em três partes que prejudicava a unidimensionalidade do palco, músicos e ecrã.
Alva Noto + Ryuichy Sakamoto
Não defraudaram as nossas expectativas. Gostei bastante…e fui levada algumas vezes para aquele espaço fora, onde música deixa de ter significado para além dela própria, até que o pensamento é apenas e só som, limite, nota, espaço e aqui também imagem. Fechei os olhos por vezes, porque não percebi a essencialidade do objecto comum, imagem e som, ou porque a imagem me fazia perder o som. Principalmente a última “música” do programa, ainda que prejudicada pela acústica no lugar que ocupávamos, foi sublime pela densidade e incómodo, levados ao limite do prazer…
Não crítico quem não gosta, entendo. Nem acho que gostar deste concerto seja sinónimo de vanguarda ou de qualquer entendimento transcendente e profundo… é apenas uma disponibilidade urbana e nostálgica como tantas outras.
Voltaria hoje, voltarei sempre.
Porque, à parte, Ryuichy Sakamoto sempre me fascinou. Fiquei presa à sua imagem e dela não me quero libertar.
arrisco
Há muito tempo que procuro um conceito de fidelidade que ultrapasse o medo da perda, a antecâmara do ciúme, a celebração da estabilidade conservadora. À fidelidade, contrapõe-se infidelidade, instabilidade emocional, incapacidade de aprofundar relações, efemeridade.
Na minha modesta opinião, porque não tenho quaisquer certezas, sei apenas que estes contra argumentos não me satisfazem. Nem reduzo a fidelidade à prática sexual com outro, que não o nosso companheiro(a) escolhido para a vida, nem posso admitir que a sua prática, da fidelidade, apenas entendida deste modo redutor, me satisfaça. O conceito de fidelidade, que encontro explicito no que vou lendo, assemelha-se ao do celibato defendido pela igreja católica. O padre para se dedicar aos outros e a Deus não pode viver a sua sexualidade prática e explicitamente. A qualidade de uma relação a dois “implica um trabalho a tempo inteiro, de exigência de atenção de perseverança”, lia hoje na revista do Público. Este “a tempo inteiro” é aqui aplicado literalmente, tanto quanto em todo o resto do artigo, o comportamento oposto, infiel, é reduzido a “…“comunicação leve”, de telecomando na mão, metidos connosco, em permanente zapping”.
No meio das minhas interrogações e incertezas, julgo que a questão essencial não está no que faço materialmente com os outros, mas no modo como me vejo a mim própria, como sou capaz de me aceitar, sem necessitar de ser confirmada pelo amor exclusivo do outro. Só esta aceitação de não exclusividade e relatividade permitem disponibilidade inteira, que os artigos que leio pretendem remeter, como estado a que se acede apenas através da fidelidade conjugal em sentido estrito. Acho exactamente o contrário – a fidelidade não é uma garantia, é uma atitude. A paz não se conquista pela certeza da exclusividade, conquista-se pela luta constante contra os valores negativos que me prendem a mim mesma e me tornam o centro do mundo. Sei que esta é a grande aventura de não negar sentimentos por medo e também o combate diário para os entender, convertendo-os noutros, quando são de natureza egocêntrica e configuram motivações negativas. Esta procura, este constante pôr em questão, descobrindo egoísmos encobertos, por vezes por atitudes lidas pelos outros como altruístas, é para mim uma postura incompatível com a segurança de uma relação cegamente exclusiva. Essas, para além de raramente serem plenas, vivem da pseudo segurança que ilude e confunde plenitude com ausência de vida. Para mim o caminho, ainda que na maioria das vezes pura utopia, passa pela capacidade de dar sem exigir retorno, de amar porque se gosta mais do que se precisa de amor. Os nossos casamentos, selados por uma garantia em papel para a vida inteira, são por ventura a nossa segurança precária, de fachada, que a qualquer momento pode ruir, às vezes tarde de mais, porque se passou uma (meia)vida a acreditar numa farsa bem representada.
A este post não são alheias algumas histórias recentes, que me rondam a porta, de mulheres de meia-idade que descobrem que andaram apostar numa fidelidade unívoca.
Na minha modesta opinião, porque não tenho quaisquer certezas, sei apenas que estes contra argumentos não me satisfazem. Nem reduzo a fidelidade à prática sexual com outro, que não o nosso companheiro(a) escolhido para a vida, nem posso admitir que a sua prática, da fidelidade, apenas entendida deste modo redutor, me satisfaça. O conceito de fidelidade, que encontro explicito no que vou lendo, assemelha-se ao do celibato defendido pela igreja católica. O padre para se dedicar aos outros e a Deus não pode viver a sua sexualidade prática e explicitamente. A qualidade de uma relação a dois “implica um trabalho a tempo inteiro, de exigência de atenção de perseverança”, lia hoje na revista do Público. Este “a tempo inteiro” é aqui aplicado literalmente, tanto quanto em todo o resto do artigo, o comportamento oposto, infiel, é reduzido a “…“comunicação leve”, de telecomando na mão, metidos connosco, em permanente zapping”.
No meio das minhas interrogações e incertezas, julgo que a questão essencial não está no que faço materialmente com os outros, mas no modo como me vejo a mim própria, como sou capaz de me aceitar, sem necessitar de ser confirmada pelo amor exclusivo do outro. Só esta aceitação de não exclusividade e relatividade permitem disponibilidade inteira, que os artigos que leio pretendem remeter, como estado a que se acede apenas através da fidelidade conjugal em sentido estrito. Acho exactamente o contrário – a fidelidade não é uma garantia, é uma atitude. A paz não se conquista pela certeza da exclusividade, conquista-se pela luta constante contra os valores negativos que me prendem a mim mesma e me tornam o centro do mundo. Sei que esta é a grande aventura de não negar sentimentos por medo e também o combate diário para os entender, convertendo-os noutros, quando são de natureza egocêntrica e configuram motivações negativas. Esta procura, este constante pôr em questão, descobrindo egoísmos encobertos, por vezes por atitudes lidas pelos outros como altruístas, é para mim uma postura incompatível com a segurança de uma relação cegamente exclusiva. Essas, para além de raramente serem plenas, vivem da pseudo segurança que ilude e confunde plenitude com ausência de vida. Para mim o caminho, ainda que na maioria das vezes pura utopia, passa pela capacidade de dar sem exigir retorno, de amar porque se gosta mais do que se precisa de amor. Os nossos casamentos, selados por uma garantia em papel para a vida inteira, são por ventura a nossa segurança precária, de fachada, que a qualquer momento pode ruir, às vezes tarde de mais, porque se passou uma (meia)vida a acreditar numa farsa bem representada.
A este post não são alheias algumas histórias recentes, que me rondam a porta, de mulheres de meia-idade que descobrem que andaram apostar numa fidelidade unívoca.
Se choco, que dê ao menos, para pensar...
Saturday, June 10, 2006
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Minha querida ------.
Entras no universo mediático pela minha mão.
Ainda que os outros não possam reconhecer-te, nem nomear-te.
Tenho muitas saudades tuas, fazes muita falta ao meu lado.
Porque me lês e entendes o que para outros não tem significado.
Porque não me pedes que te conte e ofereces apenas a tua presença e o teu sorriso.
Ensinas-me muito mais do que pressentes – aquela sabedoria que não se aprende nos livros.
Não penses que por não te falar não te pressinto. Estás presente, sempre - referência, pensamento, espírito e matéria.
Aguardo-te.
Vem quando quiseres.
este era o post de ontem que, ainda por razões alheias, não consegui publicar...
Entras no universo mediático pela minha mão.
Ainda que os outros não possam reconhecer-te, nem nomear-te.
Tenho muitas saudades tuas, fazes muita falta ao meu lado.
Porque me lês e entendes o que para outros não tem significado.
Porque não me pedes que te conte e ofereces apenas a tua presença e o teu sorriso.
Ensinas-me muito mais do que pressentes – aquela sabedoria que não se aprende nos livros.
Não penses que por não te falar não te pressinto. Estás presente, sempre - referência, pensamento, espírito e matéria.
Aguardo-te.
Vem quando quiseres.
este era o post de ontem que, ainda por razões alheias, não consegui publicar...
Meditação
"O poste
A respiração: Inspira, expira, sem mudar o que quer que seja, tu és esta respiração que vem e vai, que sobe, desce, sem pausas, que vem e que vai…
A corda
A atenção: Observas, sem impaciência, sem cólera, sem julgamento, segues com um olhar interior, indulgente e neutro, esta respiração, que vem e que vai. Se tens vontade de te agitar, de espezinhar, de gritar, de “urrar”, contemplas os teus pensamentos, as tuas emoções que te abalam, te arrastam, e não te implicas, deixas vir, deixas ir. E todas as cóleras, todas as impaciências se dissipam como fumo. E observas de novo a respiração que vem, e que vai…"
retirado dos melhores contos Zen publicado pela Teorema
este era o post de quinta-feira que por razões técnicas só hoje vê a luz...
A respiração: Inspira, expira, sem mudar o que quer que seja, tu és esta respiração que vem e vai, que sobe, desce, sem pausas, que vem e que vai…
A corda
A atenção: Observas, sem impaciência, sem cólera, sem julgamento, segues com um olhar interior, indulgente e neutro, esta respiração, que vem e que vai. Se tens vontade de te agitar, de espezinhar, de gritar, de “urrar”, contemplas os teus pensamentos, as tuas emoções que te abalam, te arrastam, e não te implicas, deixas vir, deixas ir. E todas as cóleras, todas as impaciências se dissipam como fumo. E observas de novo a respiração que vem, e que vai…"
retirado dos melhores contos Zen publicado pela Teorema
este era o post de quinta-feira que por razões técnicas só hoje vê a luz...
Wednesday, June 07, 2006
amanhã
Amanhã escreverei qualquer coisa, nem que seja através das palavras de outros, porque ainda me faz falta este espaço.
Sunday, June 04, 2006
a propósito de referências
Ontem, quando ouvia Eduardo Souto Moura, recordei-me de outra reflexão feita noutro sítio e a outro propósito. Na Torre do Burgo, Eduardo falou das suas referências com o à vontade que o caracteriza: falou de Mies, em Nova York e em Chicago, falou de Calder e do convite feito a Ângelo de Sousa.
Em Santa Maria do Bouro, ESM, apropria-se das ruínas para com elas construir uma nova entidade. A ruína é um material de construção que ele manipula para construir o seu objecto, a sua obra. A ruína não é uma preexistência que se integra, com a sua identidade para conviver com outra identidade – a ruína faz parte do novo, é assimilada e torna-se contemporânea. A ruína é tão matéria, como o tronco de uma árvore, que dá corpo a uma peça de mobiliário.
No Burgo as referências são também assimiladas e deixam, por isso, de ser referências para constituírem partes da própria obra. Por isso ESM, fala delas com à-vontade – elas são matéria construtiva– são assimiladas e ao serem-no tornam-se noutra identidade ( processo semelhante ao desenvolvido por todos os seres vivos no na assimilação). Mies, em Nova York e em Chicago, deixa de ser, por isso, referência para se tornar matéria da obra- a Torre do Burgo.
Não deixa também de ser interessante a alusão a Nimeyer. Nimeyer não foi incorporado como Mies. Este sim funcionou como referência, como comparação, para validar o conceito da obra de Eduardo. Nimeyer não é interior ao processo conceptual, serve para testar uma ideia, para a confirmar e para usar, aqui sim, como referência.
Em Santa Maria do Bouro, ESM, apropria-se das ruínas para com elas construir uma nova entidade. A ruína é um material de construção que ele manipula para construir o seu objecto, a sua obra. A ruína não é uma preexistência que se integra, com a sua identidade para conviver com outra identidade – a ruína faz parte do novo, é assimilada e torna-se contemporânea. A ruína é tão matéria, como o tronco de uma árvore, que dá corpo a uma peça de mobiliário.
No Burgo as referências são também assimiladas e deixam, por isso, de ser referências para constituírem partes da própria obra. Por isso ESM, fala delas com à-vontade – elas são matéria construtiva– são assimiladas e ao serem-no tornam-se noutra identidade ( processo semelhante ao desenvolvido por todos os seres vivos no na assimilação). Mies, em Nova York e em Chicago, deixa de ser, por isso, referência para se tornar matéria da obra- a Torre do Burgo.
Não deixa também de ser interessante a alusão a Nimeyer. Nimeyer não foi incorporado como Mies. Este sim funcionou como referência, como comparação, para validar o conceito da obra de Eduardo. Nimeyer não é interior ao processo conceptual, serve para testar uma ideia, para a confirmar e para usar, aqui sim, como referência.
Friday, June 02, 2006
outras forças
Tenho por hábito ler os horóscopos de fim-de-semana. Os do Público. Se ler outros, fico desiludida, porque na maioria das vezes, são contraditórios. Funcionam bem, mais ou menos como aqueles compridos de farinha e excipiente que a gente toma e que nos fazem bem, só de pensar que se tomou. Ou o soro fisiológico, que sendo apenas água, nos faz bem aos olhos, ao nariz, às alergias,…
No domingo quando li o horóscopo do Público fiquei contente. Sabia que tinha uma semana difícil pela frente, mas correria pelo melhor.
A semana passou. Igual à última. Teve de tudo e excesso de trabalho e de festas. Hoje estou muito, muito cansada.
Acerca de outro problema, bem mais grave, diziam-me há pouco “Que mal faz acreditar noutras forças para além das explicáveis científica e racionalmente?” Nenhum, digo, se isso nos conforta e nos faz viver melhor esta vida que se nos oferece.
Do fim-de-semana que hoje começa, espero retempero e força, muita, para o reequilíbrio necessário a este período em que o calor, o trabalho, a família e mesmo as relações sociais se esticam até ao limite… e no qual todos começamos a ansiar pelas férias.
No domingo quando li o horóscopo do Público fiquei contente. Sabia que tinha uma semana difícil pela frente, mas correria pelo melhor.
A semana passou. Igual à última. Teve de tudo e excesso de trabalho e de festas. Hoje estou muito, muito cansada.
Acerca de outro problema, bem mais grave, diziam-me há pouco “Que mal faz acreditar noutras forças para além das explicáveis científica e racionalmente?” Nenhum, digo, se isso nos conforta e nos faz viver melhor esta vida que se nos oferece.
Do fim-de-semana que hoje começa, espero retempero e força, muita, para o reequilíbrio necessário a este período em que o calor, o trabalho, a família e mesmo as relações sociais se esticam até ao limite… e no qual todos começamos a ansiar pelas férias.
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