Ontem, quando ouvia Eduardo Souto Moura, recordei-me de outra reflexão feita noutro sítio e a outro propósito. Na Torre do Burgo, Eduardo falou das suas referências com o à vontade que o caracteriza: falou de Mies, em Nova York e em Chicago, falou de Calder e do convite feito a Ângelo de Sousa.
Em Santa Maria do Bouro, ESM, apropria-se das ruínas para com elas construir uma nova entidade. A ruína é um material de construção que ele manipula para construir o seu objecto, a sua obra. A ruína não é uma preexistência que se integra, com a sua identidade para conviver com outra identidade – a ruína faz parte do novo, é assimilada e torna-se contemporânea. A ruína é tão matéria, como o tronco de uma árvore, que dá corpo a uma peça de mobiliário.
No Burgo as referências são também assimiladas e deixam, por isso, de ser referências para constituírem partes da própria obra. Por isso ESM, fala delas com à-vontade – elas são matéria construtiva– são assimiladas e ao serem-no tornam-se noutra identidade ( processo semelhante ao desenvolvido por todos os seres vivos no na assimilação). Mies, em Nova York e em Chicago, deixa de ser, por isso, referência para se tornar matéria da obra- a Torre do Burgo.
Não deixa também de ser interessante a alusão a Nimeyer. Nimeyer não foi incorporado como Mies. Este sim funcionou como referência, como comparação, para validar o conceito da obra de Eduardo. Nimeyer não é interior ao processo conceptual, serve para testar uma ideia, para a confirmar e para usar, aqui sim, como referência.
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