Saturday, July 01, 2006

Escala


A escala é um conceito concreto que é de difícil domínio mas muito influente no modo como se vivenciam os espaços.
São muitas as vezes que olho para um desenho de um arquitecto, um desenho técnico ou uma ilustração, daquelas que agora estão na moda, e concluo que está fora de escala.
Uma casa é uma casa, tem portas janelas, cobertura, inclinada ou plana, envasamento ou não, mas tem que ter a escala de uma casa, para um agregado familiar de quatro ou cinco pessoas. Mesmo que tenha uma pessoa desenhada “à escala”, para dar a escala, muitas vezes não tem escala. Olho para o desenho e digo “ é um museu”, “ é um pavilhão desportivo”, “é uma casa das máquinas”,…
Quando pensamos em cidade o problema agudiza-se. Porque fomos formados para pensar objectos, para nos pensarmos no interior de objectos e o espaço aberto é ainda mais difícil de antever. Quem diz que uma árvore adulta, um carvalho por exemplo, pode ter vinte e cinco metros de altura? E vinte de largura? E qual é a dimensão do Terreiro do Paço? E qual altura dos edifícios que o ladeiam? E porque é que nos sentimos pessoas em Manhatham? Provavelmente mais humanos e mais confortáveis do que em Famalicão?
Saber ver… e depois perceber qual é a relação, qual é a interacção. Sentir e desmontar o sentir pelo estudo, encontrar a justificação geométrica, perceber a relação.
Em todos os tempos, desde a antiguidade clássica (ou talvez antes), passando pela idade média, pelo apelo clássico do renascimento, pelo novamente clássico do racionalismo ou mesmo do pós modernismo, quem leva a disciplina a sério precisa de estudar, precisa de regra, de módulo, de modulor
Não é possível fazer arquitectura e pensar urbanismo sem perceber o homem e a sua escala, sem estudar muito, história e cultura.

2 comments:

Anonymous said...

«(…)A arquitectura contemporânea tem a lógica em rede do “hipertexto”: não tem necessariamente uma relação específica com o contexto, ou uma sequencialidade linear, antes uma séria, por vezes exaustiva, de alusões que nos obriga a fazer permanentes links mentais. Não é hoje possível fazer critica de arquitectura
sem uma leitura de uma rede conexa ao edifício com links para a historia da arquitectura, a cultura popular, a tecnologia, a sociologia, a biografia de autor, etc. Não se trata de verificar os cânones, como na tradição clássica e moderna ou perceber as referências – as citações – numa perspectiva pós-moderna. Os edifícios estão hoje uns por cima dos outros, e a sua leitura critica só é relevante se percorrermos os bits que pairam à volta dos “átomos”. (…)»

Retirado de um artigo de Jorge Figueira


T

maria said...

Se concordar com a leitura, não sei bem se concordo, penso que esta descontextualização ou globalização da arquitectura é o que nos faz sentir o «não lugar», a «não pertensa», o desconforto. Continuo a crer e a querer, que os cânones, entendidos como o "tratado", a regra, são instrumentos que nos ajudam a fixar no lugar, ainda que ele seja cada vez mais universal.