Wednesday, July 05, 2006

traduções

"No original “balls”que significa também “balas”, mas no contexto aponta para a acepção “plebeia” do termo, perdendo-se portanto na tradução – obrigada a optar – a indefinição do original. Durrel pretende algures que o autor tem o direito de escrever até aquilo que ele próprio não sabe o que quer dizer – o que não é agora o caso –, mas abusa desse direito criando extremas dificuldades ao tradutor que, nessas circunstâncias, se encontra impossibilitado de concretizar o dever de fidelidade ao pensamento – confuso, impreciso, inexistente… – do autor. São inúmeros os passos onde isso ocorre ao longo desta obra”.
Nota do tradutor em Monsieur ou o Princípe das Trevas de Lawrence Durrell
... porque independentemente da justeza da tradução, este livro, na segunda leitura que dele faço, me desiludiu no que se refere a gralhas tipográficas, ...
... porque, sempre me fazem imensa confusão as traduções. Como se pode traduzir na fidelidade à forma e ao conteúdo? Se ao conteúdo, uma boa tradução é obrigatoriamente fiel, à forma, julgo que será muito mais difícil. Como se traduz poesia? Quando ela é plena de recursos estilísticos e de duplos sentidos?
Esta é no entanto a contingência e a condição de quem gosta de ler e não consegue ler originais, de quem não domina línguas, de quem não domina todas as línguas... e mesmo que as conheça, não poderá perceber totalmente o conteúdo do que lê. Tantas são as matizes que derivam do contexto.

3 comments:

Anonymous said...

Há uns dias lia " Os doze" de Aleksandr Blok traduzido do russo por Manuel Seabra. No prólogo do lvro ele alertava para o facto de haver autores cuja poesia, vertida para português, deixa de funcionar por estarem absolutamente dependentes da fonética do idioma em que foram concebidos. É o caso de Pushkin, diz M S, considerado o maior poeta russo. Mas julgo que só um grande escritor pode, na melhor das hipoteses, traduzir outro grande escritor e, ainda assim, se exercer a tradução com a regularidade necessária. Houve vultos das letras que encontraram nessa tarefa um modo de sobreviver.

T

maria said...

Relembro a deliciosa tradução de Pedro Tamen em " Em busca do tempo perdido". Se é bem feita? Dizem que sim. Eu não sei. Mas sei que o texto vertido para português me preenche completamente.
Relembro ainda Frederico Lourenço da Íliada. Porque me sinto segura quando a leio.
Hoje a Joana falava-me das "Ondas" da Vírginia Wolff. Eu disse-lhe que tenho também o livro em inglês. Se não dá para ler o livro em inglês, dá pelo menos para lendo em português, comparar com o inglês. Por isso gosto da poesia quando tem os poemas na língua original e na traduzida. Ainda que seja alemão, ou sueco, ou russo. E se for chinês ou japonês ou árabe?

Anonymous said...

Tenho a mensagem de Fernando Pessoa em chinês/portugues...foi traduzido por Jin Guo Ping !como terá ele traduzido "que voz vem no som das ondas..."?


P