Sunday, July 09, 2006

projector de slides

O meu projector de slides demora algum tempo a focar. Anda à procura da distância exacta, para trás e para a frente e depois, na maioria das vezes foca. Às vezes não. Quando isso acontece temos que rodar manualmente a lente até conseguir que a imagem fique nítida.
Este esforço de focar em função do objecto é um trabalho de todos os dias. Também nas relações humanas. É necessário encontrar exactamente o ponto de focagem da relação que mantemos com outra pessoa e adaptarmos a nossa lente à especificidade da imagem. Às vezes essa focagem não é automática porque a relação não é intuitiva. Essa focagem manual obriga a uma descodificação e a um esforço minucioso porque implica perceber sistemas, histórias, culturas, posturas, defesas, até encontrar o ambiente certo para a comunicação.
Por vezes a tendência é descartar, dizer não me interessa, não me diz nada. A experiência diz-me que não é assim. Para ultrapassar a barreira do relacionamento socialmente correcto e conseguir, mesmo com aqueles que às vezes julgamos que nada têm para nos dizer, ouvir e interpelar, temos que deixar de fora muitas coisas, na imagem de fundo desfocada, para apenas nos concentramos no dito foco que nos põe no universo comum. E existe sempre um universo comum.
Ouvia ou lia uma frase não sei onde que me interpelou: “ Se a Europa não entende o Islão então o Islão conquista a Europa.”

3 comments:

Anonymous said...

Gostei do teu post-it.
…e talvez reforçasse a ideia _____ necessidade da focagem se fazer sobre um fundo verdadeiro, sobre um plano branco e liso; quero dizer que uma neutralidade corajosa e vertical é imprescindível para que a projecção se realce, ainda mais quando o outro que se projecta, talvez não o sabendo, possa ter as cores esbatidas. Alem disso, por lapso, a qualquer um pode acontecer inserir-se “invertido” na luz que o difunde.


P

maria said...

...mas quem foca também nunca é neutro e também investe desfocagem, também se projecta, por vezes inseguro, fantasiando a sua própria imagem, recriando-a para o outro, à procura de uma certa focagem. Porque eu não sou o meu projector de slides... sou antes a mão que procura ... focar, porque quer perceber o outro lado, ainda que esse também tente difundir uma certa imagem. Somos isto, jogo, alternâncias, vontade de sermos entendidos, de colo e de carinho... ainda que por ideias, por imagens, por...
Temos a certeza de que estamos sózinhos, mas que o que dá sentido à nossa vida é esta mão que foca.

Anonymous said...

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