Wednesday, December 31, 2008

Fim de ano

O final de ano é apenas uma convenção: a partir da qual contamos o tempo. O tempo universal, porque o nosso é contado de outro modo, a partir do final de cada ano de vida, ou das primaveras que já vivemos. Por isso não acho graça a este festejo mas não deixo de aproveitar para fechar as contas, fazer o balanço, arrumar gavetas, deitar papéis fora. Assim foi e está a ser também este ano de 2008.
Ouvir a Tabacaria nesta magnífica interpretação é também um balanço: porque eu ao contrário da Joana, identifico-me bastante com Álvaro de Campos: ponho os olhos lá fora e apesar de entender a lógica do mundo sinto-me completamente desfasada " ... tudo é sonho, como coisa real por dentro."

Monday, December 29, 2008

Tabacaria, Álvaro de Campos



Eu não sou fã de Álvaro de Campos, não sou. Mas o Álvaro de Campos mais do fim até... até me enternece, até me toca, até me encaixa. Esta versão de Tabacaria é da Maria do Céu Guerra e é bonita. Chegou pelos filhos e pelos amigos até mim. Fico feliz por tê-la aqui.

Friday, December 26, 2008

Família

Já aqui abordei o tema: família.
Sem nos darmos conta o conceito de família tradicional, pai, mãe e filhos é substituído por outros: famílias mono-parentais, famílias de casais homosexuais, famílias constituídas por irmãos, famílias às quais às vezes se juntam pessoas que sem terem laços de sangue são como se tal fossem ( crianças adoptadas, empregadas que vivem toda a vida nas casas onde prestam serviços,…).
Tudo isto me faz reflectir sobre o que é mais importante na constituição de uma família: os laços de sangue ou os laços afectivos? Uma família é o que é e não a conformidade com um modelo ou um esquema. E as famílias de opção, constituídas por aqueles que nós escolhemos para connosco partilharem tudo na vida, sem papel passado, sem filiação expressa em BI, sem qualquer benefício fiscal, são as mais vivas e as mais reconfortantes, porque assentes na dádiva. Com o pai dos meus filhos estou por opção, enquanto quiser e isso me satisfizer. Aos meus pais e aos meus filhos estarei sempre e visceralmente ligada – e por isso afectiva e efectivamente serei pertença e pertencente.O pai dos meus filhos será sempre uma circunstância na minha vida, os meus pais e os meus filhos uma evidência permanente e inegável. Mas se na minha vida, o pai dos meus filhos é circunstância, na vida deles é evidência e desta forma estará sempre ligado colateralmente a mim!
Dádiva, conceito tão alheio às contemporâneas sociedades: aqui onde tudo tem que ter retorno ou benefício. Agir sem esperar o resultado de agir. Agir como se o momento do acto fosse a única coisa que interessa: porque o que interessa é a coincidência de corpo e mente no presente agindo.
( Há tantas maneiras de expressar isto: Fernando Pessoa, Sophia a par dos gurus orientais que se nos revelam em cada esquina…)

O presépio mais bonito


O presépio em casa dos meus avós é o mais bonito. Senta-se sempre na prateleira ao lado dos livros e foi-se transformando ao longo dos tempo. Melhor, foi-se afinando. Lembro-me de se escurecerem as nuvens e de se furar a ursa maior e menor, de se dourarem pequenos pedaços da cidade e de se escolherem luzes para que tudo brilhasse. As figuras também são as mais bonitas. Um bonito Jesus e uma bonita Maria e um bonito José, mais umas ovelhinhas. Adoro-o.

Wednesday, December 24, 2008

Feliz feliz feliz natal


Feliz feliz Natal aos meus e aos da Maria e aos de ambas e a todos os que por aqui passam e aos dos que por aqui passam. Aos que estão longe, aos vizinhos, aos gordos e aos magros, e aos altos, claro, aos baixos, aos de estatura média, aos aborrecidos, aos demasiado interessantes, aos que gostam de ler e aos que gostam de ver televisão. Aos bichinhos e aos bichinhos cá de casa (beijinho no Samurai), às plantinhas e às árvores. Feliz Natal, feliz feliz Natal.

Sunday, December 21, 2008

People are strange...

....pelo menos no Porto.

Saturday, December 20, 2008

natal alternativo

Só a andar contra a corrente é que a gente sobrevive! Reeditando um sábado de 2007, este ano percorremos o Porto, como só o fazemos quando estamos fora de Portugal: com olhos e coração aberto à procura das portas que se nos abrem e das paisagens que se nos apresentam.
D. Pedro V, D. Manuel II, Miguel Bombarda, Infante D. Henrique, Avenida, D. João I, Passos Manuel, Cândido dos Reis, Cordoaria, Passeio das Virtudes, Viriato, D. Manuel II, D. Pedro V - do meio-dia às 19.45 horas.
Sobrevivi à FNAC, a maior tortura do dia, para conhecer a loja da UP e aprender com a exposição de fotografia do Centro Português de Fotografia:“O Livro Vermelho de Um Fotógrafo Chinês” de Li Zhensheng.

Friday, December 19, 2008

sofrimentos

Sofrer: é emocional e também pode ser físico.
Dor: tem uma conotação física. Mas também pode haver dor só emocional?
Sofrer nunca é só físico.

Wednesday, December 17, 2008

Monday, December 15, 2008

Prendas

O que mais gosto nas prendas - de outros para mim ou de mim para outros- é o tempo que perdem ou que perco com elas. É assim que gosto de receber prendas, sem valor comercial mas com valor afectivo: prendas escolhidas e trabalhadas especial e especificamente para a pessoa: aquela, a única! É por isso especialmente gratificante recebê-las, com sentido, com dedicatórias, com o coração. Sou realmente uma mulher feliz e espero, sinceramente, fazer os outros felizes com a minha atenção feita em prendas.Recebi muitas e belas prendas: livros, música, queijo em forma de bolo de anos,chá, adereços exóticos importados de memoriais viagens, uma begónia ( planta memória das casas das nossas avós), palavras e sacos cheios de cereais e alfazema e ... uma magnífica bola de natal!

Parabéns Maria!


hoje (ontem) fizeste muitos e bons anos, não é?

Sunday, December 14, 2008

coincidências

Continuando com as coincidências:
Nada mais apropriado para comentar o meu post de ontem que este estrato que apareceu às primeiras linhas da leitura matinal:

"Façam o que fizerem os homens – diz ela-, o que sentiram quando o fizeram permanece ali. Se foi para fazer dinheiro, vai cheirar a dinheiro. É por isso que estas casas são tão feias, continuam nelas todas as economias com que as ergueram. É por isso que as catedrais são tão belas, as damas e os nobres vestidos de veludo e arminho, arrastam pedras pelas rampas. Pensa num pintor. Põe-se diante da tela com tinta no pincel. Seja o que for que se pense, quando faz o seu traço, se está cansado ou aborrecido… ali ficará. A mesma cor… mas senti-la-emos como impressões digitais, como a caligrafia. O homem é um meio para transformar as coisas num espírito e transformar o espírito nas coisas.”

Fala de Jill, personagem de
Regressa Coelho; Jonh Updike, Pág.156; Civilização Editora

Saturday, December 13, 2008

A Casa e a Música- Olivier Messiaen

Messiaen "era fascinado pelo som e a cor dos sons como um fim em si mesmo. Assim a sua música mais característica consiste em sucessões de afirmações musicais directas, sem transição." Eu gosto, eu gosto muito... e foi isso que eu ouvi, mas muito mais do que isso! Se Deus existe, e Messiaen era profundamente crente, Ele esteve presente na Casa da Música hoje de tarde. A ONP e sobretudo Stefan Asbury, foram interpretes da vontade divina feita momento. Verdadeiramente místico e telúrico o movimento que saído da terra, pela mãos dos instrumentos, nos envolveu. Nunca tinha visto de maneira tão evidente e voluntariosa o silêncio tornar-se música: o maestro obrigava ao silêncio no final de cada andamento e esses segundos/minutos de contemplação eram um tempo para além do tempo ( desconheço se eles estão inscritos na partitura).
"Et exspecto ressurectionem mortuorum" não sei se vou voltar a viver esta experiência ainda que volte a ouvir esta obra. Pena que a sala estivesse a menos de metade e eu ficasse com o bilhete por utilizar.

A Casa e a Música no Natal

Para mim hoje foi "Visions de l'Amen" de Messiaen por Nina Schumann e Luís Magalhães. Para a Maria, saberemos mais logo.

Eu gosto de diálogos. Gosto muito. E gosto das palavras. Gosto muito. E gosto de expressões e movimentos. Gosto muito. Agora imaginem as palavras mais bonitas. Messiaen são as palavras mais bonitas. Agora imaginem o diálogo mais recíproco. Visions de l'Amen é o diálogo mais recíproco. Agora imaginem os corpos mais expressivos. Nina Schumann e Luís Magalhães são os corpos mais expressivos. Agora imaginem a sala vermelha, as cadeiras pretas e roxas e aquela cortina a deixar entrar a luz retalhada e os pianos de cauda a encaixarem um no outro - uno. A minha hora do almoço de hoje foi outra vez assim, como há dois anos. Desta vez, eu sem mãe e a M. sem filha. E é Natal.

Thursday, December 11, 2008

Meryl Streep - The winner takes it all



Se o videoclip dos ABBA para a The Winner Takes it All fosse este bocado do filme, eu gostaria dos ABBA. Visto que já partilhei este bocadinho convosco torna-se quase desnecessário verem o filme (que é uma sequinha) porque esta é a melhor cena dele. A mestria da Meryl está em todo o lado.

Tuesday, December 09, 2008

Feijões

Acabei de ouvir na televisão: é um jogo a feijões em que o feijão está bastante caro. Só queria anotar isto porque é, de facto, (a)notável.

Monday, December 08, 2008

Musa


Eu não queria mesmo postar esta fotografia, mas não aguentei.

A Casa e a Música (2)




Também eu regressei à Casa em dia de muita chuva. Mais uma edição de clubbing, uma de pessoas menos conhecidas e, por isso, as salas só a metade do que se tinha visto na edição anterior.
Ólafur Arnalds acolheu-nos com o seu inglês marcado da Islândia, fez-nos sentar no chão (sentar no chão no clubbing?) e seguir com ele pelas paisagens sonoras, de cordas e teclas e batidas, da islândia. Parece-me impressionante que aquela ilha tenha uma identidade tão própria e marcada, pela qual podemos ligar todos os actos musicais de lá provenientes (björk, sigur rós, múm são os nomes sonantes, mas também estes mais pequenos) e, no entanto, cada um criar um universo constelar próprio, orbitando sobre sua própria experiência e interior. Deve ser a luz de verão e a falta dela no inverno e a neve e as termas e a pequenez das suas cidades, não sei.

Seguiram-se os The Faint e confesso que tinha feito razoavelmente mal o trabalho de casa de os conhecer, por não me chamarem especialmente. Tinha lido que eram bastante interessantes em palco e não se confirma. Se interessante é mexerem-se sempre da mesma maneira durante todas as canções então terei de reformular este conceito. Se interessante é estragar (quase) todas as músicas depois da introdução então preciso mesmo de rever o conceito de interessante. Encontrei-os aborrecidos, fazendo saltar apenas meia dúzia de pessoas mais tocadas pela música, com "style" a mais, a torná-los presunçosos, americanos foleiros e irritantes. É, no entanto, de realçar o facto de as projecções em palco dos senhores serem bastante (e aqui sim) interessantes. Mas não, não foi para mim.

E pirámo-nos para uma salinha onde tínhamos toys will be toys e claro toys! e música com brinquedos. Os rabos alapados nas escadas, esperando todas as vezes mais uma surpresa e susto vindo de um qualquer barulho estranho desencadeado por brinquedos que os meus primos tiveram. Se é música não sei. Mas é performance e deu-nos muito gozo. Se tiverem oportunidade de ver, vejam.

Com a noite a acabar, mas não a chuva, os também islândeses Gus Gus, invadiram o bar em formato dj set, abriram a pista de dança com sigur rós e abusaram bem da linha de baixo. Teria dançado muito mais não fosse o chão a colar-se às sapatilhas e o sono a começar a pesar no olhos. Mesmo assim, Gus Gus é bom.

(mais fotografias aqui. e note to self: escrever sobre o deslocamento da pop.)

A Casa e a Música

Regressei à Casa em dia de muita chuva para me acolher nos seus envolventes tentáculos: físicos e sonoros. Esperava-me Leif Ove Andsnes, até sábado, para mim totalmente desconhecido. Beethoven, Schönberg e Mussorgski preencheram o concerto, mais dois extras. Foi em Mussorgsky que o pianista mostrou o seu virtuosismo. Potente e seguro, pelo menos sob a minha perspectiva.
Fica-me no entanto uma dúvida que, suscitada por críticas de especialistas sobre outros músicos, me assaltou neste concerto. Será que o tecnicismo não se impõe à emoção e à sensibilidade?
Isto porque apesar de materialmente arrebatador o concerto não me arrebatou. Ou seria da escolha do repertório?

Saturday, December 06, 2008

Qualidade de Vida

O meu macbook pro chegou e pôs-me a pensar. Como designer, aprendi que os objectos devem facilitar-nos a vida e como pessoa aprendo que os objectos devem tornar a nossa vida mais leve, encaixar no que já temos, ser mais uma peça do puzzle. Agora, com o computador novo, parece-me tudo bastante simples, como se ele tivesse sido feito para mim e para esta casa. Também a casa parece ter sido feita para mim. E quando as coisas encaixam, a vida parece ligeiramente mais perfeita. A minha máquina fotográfica é amiga do meu computador, que é amigo da minha loiça de pequeno almoço, que é amiga do meu caderno que, por sua vez, é amigo dos meus livros. Os meus livros são amigos das minhas janelas, que são amigas das minhas pessoas, que são minhas amigas e eu sou amiga dos meus cobertores. E, assim sim, assim quero ser designer.

Friday, December 05, 2008

Balão vermelho.

O Illustration Friday pediu balão e teve balão. 
Vermelho.

Thursday, December 04, 2008

A minha vez



Granada (Alhambra), Sevilha e Mérida - particularidades!

Sevilha


dois bocadinhos menos convencionais.

Wednesday, December 03, 2008

O quadrilátero

Redes, confiança, parceria, cidades criativas, cidades inteligentes, visão estratégica. participação, liderança, redes de produção, sistemas, monitorização, inovação, cluster, pólos de competitividade, nós, talentos, expectativas, atractividade, apropriação, alavancagem, governança. Se quiseres ser moderno e ter sucesso usa estas palavras, não interessa o que querem dizer.
Assim foi o meu dia, mas não só, diverti-me imenso quando no fim da sessão o convidado para fazer a conclusão dos debates destruiu publicamente o conceito do projecto. Ainda há gente com coragem e determinação!

Mérida

Friday, November 28, 2008

iniciação

Acordei com Clarice Lispector e ela iluminou o início desta manhã cinzenta.
Agora vou deixá-la com outra para que a inicie nestas andanças.
"Não se enganava a si mesma. Era possível que aqueles momentos perfeitos passassem? Deixando-a no meio de um caminho desconhecido? Mas ela poderia sempre reter nas mãos um pouco de que agora conhecia, e então seria mais fácil viver não vivendo, mal vivendo. Mesmo que nunca mais fosse sentir a grave e suave força de existir e de amar como agora. Daí em diante ela já sabia pelo que esperar, esperar a vida inteira se necessário, e se necessário jamais ter de novo o que esperava. Moveu-se de súbito na cama porque foi insuportável imaginar por um instante que talvez nunca mais se repetisse a sua profunda existência na terra. "
"Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres", pág. 132/133

Thursday, November 27, 2008

Encurtar distâncias

Gosto do David Sylvian há muito e da sua música. Gosto da ex-mulher dele, Ingrid Chavez, da sua poesia, música e mundo que a rodeia e escolheu para si. Por andar viciada na remembering julia (uma canção de ambos) resolvi visitar o myspace de Ingrid e, ao deparar-me com as coisas bonitas que nele existem, adicionei-a como amiga. Fi-lo adicionando uma pequena nota: “when i grow up i wanna be you”. Hoje, quando acordei, tinha no email uma notificação de que o meu pedido tinha sido aceite e uma mensagem privada de Ingrid dizendo: “from what i can see… it seems that you’re enjoying being you.”

Ora bem, e pondo de parte o facto de estar ou não estar a gostar de ser eu, receber uma coisa destas logo pela manhã é bom e leva-me a reflectir sobre dois pontos:

Primeiro, a Internet aproxima-nos realmente. Deixa de haver oceanos e terra. Onde imaginaria eu que adicionar Ingrid Chavez no myspace pudesse abrir-se uma porta comunicacional destas. E assim como torna os ídolos e pessoas que fazem bem as coisas no campo que queremos para nós próxima, também permite aos artista (re)conhecer os seus discípulos ou pessoas escondidas no mundo a fazer coisa encrostadas de sentido (ler meaningful).

Segundo, o poder intensificador da palavra é uma realidade e não apenas uma coisa que uma dúzia de deslumbrados discutem num curso de literatura mundial. É bom, quando se dá palavras, receber palavras em troca e elas são capazes de criar relações. Entregarmo-nos ao trabalho da palavra para criar relações. Dou muitas palavras aos meus amigos, amantes e amados e não são muito frequentes as vezes que recebo palavras (desculpem a pieguice), como se ninguém quisesse alicerçar relações comigo. No entanto, hoje, a Ingrid trouxe uma tamanha energia nas palavras e as minhas não eram assim tão grandes.

Obrigada.

Sunday, November 23, 2008

A crise ii

Algumas ideias que decorrem da segunda sessão sobre a crise na passada quarta-feira na Câmara de Santo Tirso, com Alberto Castro:

- As crises são cíclicas;

- Esta difere da de 29 essencialmente em dois pontos: é financeira e é globalizada

- Em Portugal: a casa está mais arrumada que há dois ou três anos, mas continuamos com baixas qualificações dos recursos humanos e dependentes do exterior.

Que fazer:

1º Controlo dos efeitos sociais da crise, protecção dos segmentos mais desfavorecidos;

2º Os apoios devem ser por inserção na vida activa e não através de subsídios: em vez de dar subsídios, porque não pôr as pessoas em trabalhos necessários e que não exigem grande qualificação – vigilância de museus, por exemplo!

3º Não penalizar a competitividade – pagar a tempo. O estado deve pagar o que deve a tempo, deve dar o exemplo.

4º Usar bem os recursos

5º Aproveitar a crise como oportunidade: fomentar a mobilidade, estimular a procura, adoptar medidas de impacto imediato. Em vez das grandes obras públicas que arrancarão daqui anos, fazer obras de impacto local.

Aqui as autarquias são importantes - as autarquias são as que melhor gastam o dinheiro público.

Obras em escolas são um modo de estimular a economia e de investir no que mais nos falta, educação, participação cívica. Uma boa escola, ambientalmente equilibrada é um óptimo estimulante educativo e uma garantia de melhor desempenho.

Saturday, November 22, 2008

À volta do barroco

Tenho andado À Volta do Barroco. Confesso que não muito seduzida. Não posso esquecer dois concertos do ano passado: La Petite Bande e Andreas Steir.
A surpresa chegou hoje com a Orquestra Barroca da Casa da Música. Huw Daniel seduziu-me.
A minha noite de ontem para hoje meteu-me num túnel: passo pelas coisas sem lhes tocar, uso-as sem as sentir, as pessoas estão afastadas de mim por penumbras, membranas finas que as mantém noutro mundo; durante pequenos lapsos de tempo o mundo foca, as imagens coincidem para logo a seguir as perder novamente. Acordei com dores de cabeça que foram crescendo.
Nada melhor para me fazer sair deste túnel que o concerto para violino n.º 2 de Bach com por Huw Daniel por solista. Bach é realmente a síntese e o mais extraordinário é que hoje continua ainda a ser a síntese - no meu sentir.
( Não posso ser injusta e não referir os dois concertos da semana passada de que gostei, Cantus Cölln e Concerto Palatino e Tallis Scholars, sobretudo estes últimos que encheram o domingo de manhã)

Os clássicos

Segundo Ana Margarida Carvalho, falando sobre cinema, Ítalo Calvino diz que “um clássico é aquele que nunca acaba de dizer o que tem para dizer.”


Tem piada ter lido isto hoje, depois de rever “As Pontes de Madison County”. Agora que sei a história de trás para a frente e que a Francesca não vai nunca abrir a porta do carro, agora que sei que me é impossível não chorar nos últimos trinta minutos e que se pudesse queria ser uma Meryl à espera de um Clint, dou por mim a focar-me em pequeninas coisas que me escaparam de todas as outras vezes. E, paralelamente ao filme que amo, há um pequeno filme diferente sempre que o vejo. O pequeno filme é o que me revela novas e pequenas coisas, que me centra de novo a atenção, que me volta a encher por completo ou, talvez, ainda mais. Segundo Calvino estarei, então, perante um clássico. Desculpe-me Calvino, mas não preciso que mo digam, nem mesmo Calvino! Será que se continuar a ver As Pontes de Madison County ele continua a desabrochar e desabrochar e desabrochar?

Thursday, November 20, 2008

Atenção à RTP, hoje!


É isso: para quem, como eu, se gosta de deitar tarde, hoje às 00.44 a RTP passa "As Pontes de Madison County" para ver e rever e chorar e sonhar. Eu já vi e revi e tenho em dvd não sei se vou resistir, afinal de contas é a Meryl e o Clint e aquela história (não "estória").

Antes podemos, claro, ouvir a Ministra da Educação, essa pessoa já tão famosa e que quase todos querem, pelo menos, espancar neste pequeno país. Eu vou ouvir só para perceber o que concordo e discordo e para ver aquela carinha de má. E depois da Maria de Lurdes até temos o Jogo Duplo para testar a sabedoria e rir um bocadinho e os Contemporâneos para rirmos imenso (ou ficar assim parada a achar imensa piada -se é que me entendem- ao Nuno Lopes). Se há humor em Portugal, nos dias que correm, então esse humor vem pela mão destes senhores.

Um serão televisivo. Um bom serão televisivo, quem diria! Assim sendo, tenho de despachar tudo o que tenho para fazer agora de tarde. Oupa, banho, roupa e rua!

(Sim, esta foi mais uma daquelas entries poucos sãs. Peço perdão, deve ser da lua.)

Saturday, November 15, 2008

Museu Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso





Inauguração do 8º Simpósio de Escultura Contemporânea de Santo Tirso - Parque Urbano da Rabada ( Ângela Ferreira, Michel Rovelas, Jean Paul Albinet e Wang Keping)
Porque é que é preciso virem de longe mostrar-nos aquilo que não conseguimos ver quando estamos tão perto?

Thursday, November 13, 2008

Rhoda


A Rhoda é da Virgínia Woolf e tem uma bacia de cobre cheia de água onde as pétalas brancas são barquinhos e os galhos de afundam, roçam o fundo do mar e não se vêem. A Rhoda é a mais leve de todas. Mais leve que a Susan, mais leve que a Jinny, que o Neville, o Bernard e o Louis. É mais leve porque tem um mar na bacia e não se importa com a Matemática. Esta é a Rhoda da Virgínia Woolf e esta é a minha Rhoda.

Wednesday, November 12, 2008

sonhos

Às vezes faz sentido colocar alguns textos passados, reflexões a público. Porque de tão passados ficam neutros, ainda que sempre presentes. Hoje este, a propósito de um sonho (embora já não me lembre de quem entrou!):
"Entraste subtilmente no meu sonho, perturbante sonho.
Tento puxar os fios para com eles amarrar uma teia de silêncio, de ecos
Mas foge-lhe o sentido ficando apenas a sensação do prazer desfeito
Não isento de culpa nem de rostos(A culpa advém dos rostos, porque os rostos tem nomes?)
No fundo de uma floresta densa e impenetrável existe uma clareira que se abre sobre o mar: um triângulo de areia branca, bordado de verde forte e do castanho da terra. Aqui sou parte da terra e do mar. Nada mais. Aqui todos os poros estão abertos ávidos de polinização. Todo o corpo é fecundo, é terra fértil. Ao primeiro afago, ao primeiro beijo, ao primeiro toque, desdobrar-se-á em dança, em música que sem um gesto ou um som, permanecerá audível em infinito eco.

Porque perdemos a sabedoria? Porque ganhamos o medo? Porque somos estes tristes seres enroscados sobre nós próprios que definham como um caracol coberto de sal?"

crise

Parece-me que devo a este blog uma pequena reflexão sobre a "crise" antes que comece a detestar a palavra, a ficar alérgica, a perder a sensibilidade ao conceito...
Na passada segunda feira assisti a um interessante e doméstico debate sobre a crise, na Câmara Municipal de Santo Tirso. A principal mensagem é que a crise de financeira passou a económica e de económica e financeira passou a crise de valores. Há muito que acho isso sem ser profeta. Há muito que sinto que sou doutra geração, de outro mundo, de outra hora... não entendo o dinheiro virtual, o valor virtual, não entendo aparência em vez da essência.
Às tantas perguntam se a crise é funda? Eu acho que é pro-funda. Funda é quantitativo e profundo é qualitativo. A crise é profunda, é de valores.......por isso estou tão céptica relativamente à sua ultrapassagem!

Monday, November 10, 2008

Nouvelle Vague @ Teatro Sá da Bandeira




Foi com surpresa que encontrei os Nouvelle Vague tão deliciosos no Sá da Bandeira ontem. O início da noite complicado fez-me perder um bom bocado da primeira parte (“o seu nome não está na guestlist”, “o seu nome está na guestlist”, “não, dizem que o meu nome não está na guestlist”, “ó enganei-me no seu nome”, “essa menina pode entrar”) e entrar numa sala cheia de gente até às paredes, toda ela já derretida com a menina Mélanie Pain. Lá consegui furar pela direita e encontrar um lugarzito que me permitisse as fotografias que me ofereceram o bilhete.

Mélanie Pain, que abriu para Nouvelle Vague, é também Nouvelle Vague e os Nouvelle Vague são muitos. Mais duas raparigas a cantar, mais um rapaz gingão pretinho, mais o José sempre a dedilhar cordas, mais gentes nas baterias e violinos. O engraçado dos Nouvelle Vague é eles virem de vários sítios para cantar músicas compostas por outros (as ditas covers) e fazerem-nas suas e não suas. O engraçado dos Nouvelle Vague é eles serem bons músicos e improvisarem a todas as horas. O engraçado é terem sempre boas luzes a pintar o palco.

O engraçado é também cada uma das vocalistas ter uma personalidade própria: a docinha (Melánie) a sexy (Marina) e a com ar de louca (nome?); e cada uma recriar um ambiente próprio que pode e deve conjugar-se com o ambiente das outras. E conjuga, aquele palco é vida e vida e nós ficamos deleitados.

O engraçado é o concerto ter começado há meia hora e o palco já estar cheio de público que os próprios Nouvelle Vague fizeram subir e na loucura sempre a entoar, de forma exuberante e juvenil, que estavam too drunk to fuck. O engraçado é ver todo o povo a mexer a anca (o que seria improvável na versão original dos Blondie) ao som da Heart of Glass e ver o marear de corpos e cabelos, de um lado para o outro. O engraçado é ver o exorcismo de Marina e deixar-nos estupefactos em Bella Lugosi Dead dos Bauhaus. Ou toda a gente que desata a cantar a Sweet Dreams dos Eurythmics, mesmo que não contasse com ela na setlist. Engraçado é ver os corações todos a abrirem ao som de Love Will Tear Us Apart, dos (nossos queridos) Joy Division. Vê-los a cantar baixo ou a gritar a letra de Ian Curtis, conforme as alturas. Engraçado é ver como o coração continua ainda aberto em In a Manner of Speaking. Engraçado somos nós todos a cantar relax don’t do it, when you wanna come do it mesmo antes de sair da sala. Engraçado é serem eles a conduzir-nos por esta viagem que faz a noite transformar-se em coisa curta e de segundos. Engraçado é fazer uma viagem pelos hinos da (nossa) vida com um som novo e um palco mágico à frente.

Penso, se não tivesse resolvido o meu problema de entrada, se o meu nome não existisse mesmo na guestlist, se tivesse ficado em casa, tinha perdido dos grandes concertos do ano e, relembro, este ano já vi Bob Dylan, Björk, Primal Scream ou dEUS, Nick Cave, Róisín Murphy, Chemical Brothers e Tindersticks e muitos mais. Ainda bem que o problema se resolveu, ainda bem que a máquina fotográfica se transformou em bilhete. Os Nouvelle Vague são muito mais do que poderíamos pensar. Enchem muito bem todos os corpos de balanço e vontade e energia!

Nota: quando eu e a Mariana chegámos à baixa para o concerto constámos um imenso reboliço em torno de todas as salas de espectáculo e bares pelos quais passámos. Um Porto ressuscitado a uma noite de sábado, cheio de oferta, vivo e a respirar com muita vontade. Aqueceu-nos muito e a mim apeteceu-me andar de t-shirt.

Sunday, November 09, 2008

Domingo de manhã



"como não ter inveja dessa casa, desse puto, dessa música?" - pensámos. Temos tanta tanta sorte. Ou fizemo-la!

Saturday, November 08, 2008

A turma de Laurent Cantet

Filme radical. Quem se atreve a fazer um filme de duas horas que quase não sai da sala de aula? Em que não há vida para além da que se vive numa escola e numa turma do 8º ano? A vida exterior é apenas a que se reflecte na sala da aula e nesta apenas nas aulas da disciplina de francês. Mas na sala de aula está tudo: o saber e o poder; o ensino e a sua precariedade; a xenofobia e a marginalidade; a insolência e a prepotência; a tolerância e a fragilidade. Fui vê-lo com um aluno e, penso que, rodeada de professores. O aluno gostou.

Fiquei impressionada com a tensão de uma sala de aula, porque cada palavra, cada atitude, é um peça de um complicado puzzle, sujeita à extrapolação que a porá no centro do mundo com as mais terríveis e injustas repercussões.

Conceptualmente radical, formalmente discreto, globalmente um filme do mais interessante que já vi e que se adequa à mudança de paradigma que temos, em tempo de crise, que ousar: deixar a aparência e viver a imanência: para ser bom não é preciso (materialmente) nada.

Wednesday, November 05, 2008

Obama

"Agora a rádio transmite música repousante e sem a interrupção de anúncios e, como procede primeiro de Harrisburg e depois de Filadélfia, forma um raio sonoro no qual Coelho infalivelmente voa. Ultrapassa a barreira da fadiga e chega a um mundo plano onde nada importa muito. A segunda parte de um jogo de basquetebol costumava transportá-lo para esse mundo; não corria para obter pontos, como pensa o público, mas sim por ele mesmo, com certa ociosidade.”
Corre Coelho, Jonh Updike, pág 41, Civilização; Editora, 2006

Deste modo, hoje fui americana. "Corre Coelho" tresanda a USA, também naquilo em que nós( pelo menos eu) somos americanos: no acesso a este mundo plano em que nada importa para além do gozo de estar(aqui)!


Yes you can, Mr. Obama!


YES
YOU
CAN

Fico feliz por perceber que na cabeça do senhor Barack Obama, presidente eleito dos Estados Unidos da América, não caberá um chapéu de cowboy. Isso, por si só, já faz dele uma pessoa bonita e da América um país que sabe, finalmente, votar. Ar fresco. Yes you can, Mr. Obama. Yes you can, United States of America.

Tuesday, November 04, 2008

Samurai


Eis o novo hóspede - de nome Samurai!

Lua Cheia


Sunday, November 02, 2008

MGL em domingo outonal

“ Decido passar a trabalhar, a partir de Setembro, apenas (ainda) três dias por semana; queria deixar, mais do que o trabalho da quinta, as suas relações humanas; sinto-me vencida por elas - sexo, poder, inveja, confrontação, sentimentos que levados ao paroxismo de um movimento sem paragem, não estou preparada para viver. Se eu pudesse convertê-los em éter, ou tirar o hálito nauseante às bocas.”
Maria Gabriela Llansol; “Finita”; Assírio e Alvim; Edição 0065; Junho de 2005

Na ousadia de um diário, ela, apesar de vencida pelos humanos sentimentos, abre-nos a porta da casa, num vislumbre de paz. Em nenhuma escrita leio, como na sua, o som do ar e da luz, o peso da imanência, a cor do tempo físico, a pacífica melancolia da existência.

Saturday, November 01, 2008

Convento de Santo António dos Capuchos



Esqueci-me de levar a máquina fotográfica, por isso as fotografias são o que são e não espelham o lugar: o Convento de Santo António dos Capuchos em Guimarães, propriedade da Santa Casa de Misericórdia. Aliás, foi pela mão desta instituição, por sua iniciativa, competência e determinação, que ontem nos foi dado um fim de tarde e uma noite fora de comum a propósito da inauguração de um percurso museológico e do orgão ibérico, depois de restaurado. Gostei da singeleza, da escala, da discrição, do aconchego... e também o evento não andou longe disso: sem exagero elevou-se pelo bom gosto e pela simplicidade. Muito bom exemplo neste país e neste mundo de espavento oco.

Róisín Murphy live (Optimus Alive! vs. Casa da Música)



Dois concertos com condições completamente distintas: em Julho uma tenda, ainda nem era bem noite, uma barreira imensa entre o público e o palco, como em qualquer festival, e as pessoas a circular, o tempo de concerto contado até aos segundos; ontem uma sala pequena e chique cheia de pessoas que ali estavam só para a ver, sem distância entre palco e audiência, a lembrar as pequenas salas de Manchester, tarde o suficiente (muito tarde!) para tornar a coisa ainda mais sexy, mas a poder durar horas e horas. O resultado foram dois concertos distintos e sobre os quais vou tentar não escolher por ser quase impossível: um fulminante, uma rápida pastilha do melhor da pop e da performance; o outro uma injecção demorada dessa mesma pop futurista, com ligeiros intervalos para todos respirarmos, ganharmos fôlego, descansar os olhos daquela mais saborosa cabeleira loira.

Se, em Julho, Róisín Murphy trocou tantas vezes de roupa como ontem, então fê-lo mais rápido, com um ritmo estonteante, sem tempo para a música parar. Hora e meia de cantar e trocar de roupa e dançar e seduzir. E é provável que em Julho a senhora tenha mudado de roupa tantas vezes quanto ontem. Essas mudanças de roupa foram, ontem, demoradas, estudadas, com pessoas a segurar o ambiente por ela e ela a surpreender-nos sempre com uns óculos novos, ou um casaco estúpido (sendo que em róisín estúpido significa extraordinário e lindo!).

Também a diferença de público sortiu enfeito na cantora. Se em Julho tinha, à frente, maioritariamente uma enchente feminina, ontem tinha um fifty/fifty bem arrojado. Inclui: um puto de 10 anos, alguns fotógrafos, gajos de óculos de massa, um rapaz que pronto, uma gaja como eu (ou que era eu), e aqueles putos do porto pertencentes àquelas coisas ou, seja, subgrupos desta nova cultura urbana ou qualquer coisa do género (o electropop, as calças justas e cheias de cor, a tshirts com decote em v). E, em Róisín Murphy, as pessoas que se encontram à frente podem mudar um concerto, porque a senhora é provocadora, adora eye contact e até contact, puro e duro, ao que parece. Canta sempre a olhar para alguém ou quase sempre. Se no alive! visto a população feminina ornamentar toda a primeira fila e o único homem ser homossexual ela me ter eleito (e não, não estou a ser convencida) como o alvo principal dos seus olhos muitas vezes, ontem com tanto homem, só lhe apanhei os olhos a sério uma vez. Esta dispersão de olhares e atenção, no entanto, fez de ontem um concerto mais provocador. Houve mãos, houve cantar mesmo ali ao nosso lado, houve pequenos lamas a beijar meninos e quase que houve um trambolhão (e eu até já tinha esticado a minha mão para a agarrar!).

Outra das coisas que fez do concerto de ontem altamente diferente do de Julho foi a interpretação das canções e o alinhamento em si. Se no alive! tivemos hit after hit, sendo as canções lentas normalmente do último álbum (leia-se Scarlet Ribbon), e até um Forever More dos falecidos Moloko a rebentar-nos o corpo e a espalhá-lo dançante por todo o lado; ontem houve muito mais Moloko mas nenhum hit dos mesmos, muito menos Overpowered e muito mais Ruby Blue. Houve muitas canções mais lentas. Nota-se que, depois de tanto tempo em tournée com Overpowered, o espetáculo está a mudar e assumir novas formas, novos corpos, novas linhas. Assim, nenhuma das músicas foi tocada na versão original pelo que pensei, muitas vezes, estar a ouvir um concerto mixado. A Ramalama apareceu no fim a rebentar toda a sala, a fazer flashar as luzes e as pessoas e o pequeno (rama)lama que Róisín trouxe as costas.

Se me obrigarem a escolher (e isto só acontece com uma pistola encostada à cabeça ou uma faca no pescoço) escolheria o concerto do alive! como meu concerto preferido de Róisín Murphy. Mas afastando o meu coração um bocadinho, o concerto de ontem foi exemplar no que toca à pop mais refinada: bem montado, estético, provocador e sexy, todas as pessoas extremamente bonitas em palco, bem tocado. Foi até provavelmente melhor que o do alive!. Acho que tenho em mãos um daqueles concertos que cresce com o tempo e quanto mais tempo passar mais gostarei dele. Hoje acordei a pensar naquelas horas.

Só uma nota: Róisín, nós não precisamos de saber que gostas de homens ou que gostas mais do Porto do que Lisboa porque o Porto é um rapaz e Lisboa uma rapariga. És capaz de ter estripado alguns sonhos de pessoas naquela sala. Desnecessário. Provocador. Gosto. Sorriso.

Friday, October 31, 2008

Thursday, October 30, 2008

do outro lado fatih Akin

Filme de itinerários e desencontros. Filme de angústias e dores surdas, de pessoas muito queridas e mal amadas, de solidões, de indivíduos que muito têm em comum e nunca se encontram no conforto uns dos outros. Filme de olhos expressivos, doces, duros, vagos, quentes. Filme de itinerários, da Turquia à Alemanha e à Turquia, das ruas, das estradas, dos carros. Da literatura. " Como me reconheceu?" " Era a pessoa mais triste desta sala!" É assim um filme triste e de espera: ficaremos a olhar eternamente o mar.
Depois é bom rever Hanna Schigulla.

Sou cor de róis-ín!




Amanhã vou ver esta miúda, já não nos Moloko, mas ainda assim a ser extraordinária todos os dias. E tenho a certeza que vou adorar. Já no ALIVE! foi uma loucura futurista, amanhã, na casa da música, será loucura de certeza, outra vez. E é gira. E é sexy. Bastante. Muito. Go, Róisín, go!

Sunday, October 26, 2008

Parabéns ó!




Aos vinte e dois, o meu dia de anos tem vinte e cinco horas!

Friday, October 24, 2008

Peter Zumthor



Peter Zumthor é indefinível, dizem os críticos. O adjectivo que lhe encontram “certo” ou é erro de tradução ou não me parece nada adequado. “Certo” é anódino, é frio, é correcto. Zumthor é suíço, mas não anódino, frio, nem só correcto.

Dizia a Joana que Zumthor é cósmico. A Joana percebeu Zumthor melhor que os críticos. Sim Zumthor é cósmico no sentido em que percebe exactamente qual é o seu lugar no universo e o interpreta enquanto arquitecto. No exercício da profissão Zumthor deixa que a o universo fale através dele: usa a matéria, transforma-a, assumindo por vezes ele mesmo o papel de construtor, participando na construção da obra e vivendo-a.

Mas o que me impressionou mais no que vi foi a liberdade com que ele não é “certo”: ele é o que é, o que lhe apetece ser e o que o contexto humano e físico lhe sugere: por isso encontramos nas suas obras diversidade de abordagem e consequentemente diversidade expressiva. Apesar de suíço, Zumthor fala-nos da terra, das bruxas, do terror, da paz ou de amor… Zumthor é cósmico!

O Último Tango em Paris

Fui no domingo à noite rever "O Último Tango em Paris". Ia com alguma apreensão. Tinha visto o filme, talvez em 1975, no cinema, muito novinha. Há altura, o encarar o sexo fora de qualquer contexto e o evidenciar o desejo físico, foram para mim não tanto uma revelação, mas mais um desafio aos modelos - não esquecer que era a época de todas as liberdades.
Confirmei no domingo um grande filme, onde apenas as modas denunciam a época. Bertolucci um realizador ambíguo e romântico, que se compromete pessoalmente com a obra. Nos filmes de Bertolucci não conseguimos perceber a distância entre o realizador e a obra, tudo parece auto-biográfico: a maneira como filma, a música que escolhe, neste caso o argumento, tudo sublinha uma visão subjectiva e comprometida. Neste filme o grande tema do conhecimento pelo corpo, eterno tema sempre censurado, vem à luz do dia de um modo cru e sem ruído, porque todo o ruído se passa fora das quatro paredes do apartamento em trânsito, à espera de ser alugado. E ele o corpo e os corpos, são o reflexo das relações de poder, de posse, de dádiva, de morte. Tudo se perde quando os corpos ganham nome e com ele um passado que destrói qualquer vontade de futuro. Aí a universalidade da experiência choca com a minudência de uma vida banal.

Monday, October 20, 2008

Macaquinhos de imitação


Isto é o que acontece quando estamos as duas sozinhas em casa a ver o jogo duplo. Se alguém diz que sabe fazer qualquer coisa nós experimentamos para termos a certeza que também sabemos. Esperamos, no entanto, ser mais inteligentes que a senhora que disse que sabia escrever ao contrário, em espelho, porque ela não passou da primeira ronda.

Thank you Mr. Alan Fletcher

Sunday, October 19, 2008

Clarice Lispector ii

Acabei há pouco de ler "A Maçã no Escuro" de Clarice Lispector. Depois de "Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres", este voltou a tocar-me. Mais pesado, mais denso, o outro quase parecia uma novela, estrutura-se em três capítulos: Como se faz um homem; Nascimento do Herói; A Maçã no Escuro. Os títulos espelham bem o evoluir do tema, mais do que da acção, porque ela é praticamente inexistente. O tema: a destruição e a reconstituição do homem, até ao herói - senhor de si e dominador da natureza e depois a desconstrução novamente, o desajuste, a angústia do sentir fora da coincidência, a vida como se fossem diversos tempos sobrepostos num mesmo presente - incompreensível presente e incompreensível mistério o de viver em relação.
Há realmente qualquer coisa de iniciático nestes livros: uma filosofia e um sentimento que se apanha e nos envolve como se de uma membrana invisível se tratasse.

Saturday, October 18, 2008

A casa e a Música

Há algum tempo que não ia à casa da música. Hoje estive quase para não ir, mas ainda bem que fui. Nada melhor que um concerto para entrar numa introspecção centrada que nos atira para fora de nós. Não foi sempre assim e tive alguns momentos de distracção, sobretudo na primeira parte, de que gostei menos. Nela, Nicolai Lugansky, tocou Janácek e Chopin, o concerto nº3. Na segunda Liszt de que gostei muito. Não sou perita na arte para apreciar bem, mas não me soou ao tecnicismo que normalmente é apanágio dos jovens músicos, talvez não dos da escola russa.
A Casa da Música estava cheia e soube ver de dentro o cair da tarde.

Friday, October 17, 2008

...

Diz-me outra vez

Como me vês

Sem confronto

Resta a imagem

Virtual ou ao invés

Sem saber como me vês

Serei apenas miragem


Devorada pela entropia

Exagero a miopia

Poço escuro abafado

Onde a acalmia

Mais soa a enfado

Do que a qualquer

Pressentida sintonia


Rota

invertida

Desfocada

Pouco querida

Mal amada

Sem saber como me vês

Serei miragem outra vez

Thursday, October 16, 2008

Juliette

Porque é que a Juliette Grécco não vem ao Porto? O Porto não a merece, ou poucos a merecem no Porto? Que aproveite Lisboa.

De tanto olhar, tanto olhar.


A minha praia (o meu mar) é assim. A tua praia também o é, não é, Maria? O poema é do Eugénio de Andrade e foi encontrado durante o pequeno almoço silencioso de hoje.

Wednesday, October 15, 2008

Fall 08


Bom dia contamina(n)dos! Saudações, saudações! Partilho agora o meu outono em música com vossas excelências e pode ser que vos revele a playlist mais tarde! É possível que faça um cd disto em breve e, é certo, que este será endereçado a algumas das pessoas que por aqui passam. Enquanto a preguiça por aqui anda e o trabalho também, podem fazer download aqui.

(eu sei que esta entry não foi muito sã. mas que frases mais mal amanhadas! não sei que se passa.)

Tuesday, October 14, 2008

regras de boa educação

No meio de uma discussão familiar eu, que sou "bem educada", tomei conhecimento de uma regra de boa educação que desconhecia, ou que, pelo menos, não tinha incorporado como tal:
" A uma pergunta, nunca se responde com outra pergunta!". Bem visto e muito razoável, senão pensemos...

Monday, October 13, 2008

Domingo de serralves



Serralves é um sítio bestial porque se vai, quase sempre, com as melhores companhias, vê-se as melhores coisas da arte e as pessoas mais soltas e descontraídas. Serralves hoje acolheu-nos tão bem. E eu cá falo por mim, não há melhor que ser aconchegado pelos braços tão grandes e abertos das árvores e das paredes. (Mais fotografias aqui)

(Vou fazer um esforcinho por escrever uma entry sobre a magnífica exposição "Intersecções Intersectadas" de David Goldblatt, porque é, sem dúvida, um marco na minha vida recente e um exemplo do que melhor se faz no mundo. Forcem-me!)

Saturday, October 11, 2008

Flickr addicted

As minhas fotografias preferidas dos últimos dias, no flickr, para quem, como eu, busca inspiração:

1. madison county, ia; 2. birdhouse; 3. meryl streep; 4. out with the old; 5. green: movie, postcar and olive oil; 6. 1010081754.jpg; 7. untitled; 8. face; 9. good morning people!; 10. untitled; 11. untitled; 12. bravooooo!; 13. full; 14. untitled; 15. circles-2; 16. paper doll #83; 17. hello!; 18. cave; 19. lops plotting her escape; 20. totally fucking ridiculous; 21. sl; 22. untitled; 23. la valse à mille temps; 24. la valse à mille temps; 25. untitled; 26. untitled; 27. life on a thread; 28. untitled; 29. untitled; 30. untitled; 31. untitled; 32. jo13; 33. banho de mar; 34. caleidoscópio i; 35. untitled; 36. untitled

Ondas

É extraordinário como a experiência de algumas obras produz ondas de ressonância que se sucedem e repercutem na nossa íntima atmosfera. Felizmente tenho a oportunidade de as experimentar: o meu espaço interior abre-se até ao infinito, a respiração torna-se profunda e suave, o ar quente pousa sobre o corpo envolvendo-o com os seus braços. Tudo o mais passa-se lá fora: o ruído, a ira, a intolerância, o histerismo, o exercício do poder.
Aqui não há lugar para tudo mais... apenas para tudo o menos.

Il Gattopardo

O leopardo novamente.
Hoje o filme. Felizmente o TCA está a passar um ciclo de cinema italiano. Aí vou ter a possibilidade de rever alguns filmes que pontuaram o meu crescimento.
Para o bem e para o mal, não o meu crescimento ( esse, modéstia à parte foi para o bem), mas a revisão de icónes!
Hoje: Il Gattopardo. Aqui, no conta-mina, ficou o testemunho da recente leitura do romance de Giuseppe Tomasi Lampedusa: príncipe siciliano.
Lucchino Visconti, oriundo da aristocracia milanesa, realizador maior da cinematografia mundial e meu.
Depois da leitura recente do singular romance, o filme poderia ser inconsistente. Não, o filme não é o livro. O capítulo que mais me impressionou no livro não é descrito no filme: o filme não chega lá. Mas a Terra, o vento que preserva a Terra da Morte, a inalterabilidade da história, "muda-se para se ficar na mesma", a presença da história e a sua permanência feita destino, "fomos sempre colónias", o Príncipe de Salina, genialmente interpretado pelo soberbo homem, o pó…………………………….
O filme, extenso, com uma particular gestão do tempo, impõe o contexto como essencial na leitura do tema. Aquilo que pode parecer supérfluo, a mais, é fundamental para a caracterização do príncipe: e o príncipe é a Sicília. Às tantas pensava: se retirássemos tempo ao filme, se as valsas e as mazurkas fossem metades, encurtávamos o filme,mas ele seria? Ele é por aquilo que não é, como a aristocracia siciliana se define por dar importância aquilo que nós, ( os plebeus) não damos importância.
No filme faltou-me o devaneio científico do príncipe de Salina bem presente no livro!
Depois a maravilhosa valsa de Nino Rotta dá mesmo vontade de trautear tal é a familiaridade.

Friday, October 10, 2008

O Segredo de um Cuzcuz - Abedl Kechiche

Não o vi no circuito comercial normal. Fui vê-lo ao TCA, ontem, porque me foi recomendado e sinceramente - gostei!!!
Para um crítico cinematográfico será muito interessante! Para mim, amante no sentido do gozo e sem qualquer pretensão três ideias:
- Achei muito interessante a manipulação do tempo: duas ou três cenas, diálogos incessantes, repetitivos, massacrantes, exaustivos, mas muito provocadores - se encarados como um mantra chegam ao coração!
- O desempenho dos actores é excelente! não sei quem são nem se SÃO, são-no simplesmente, como se representar fosse a nossa vida.
- As filmagens, pouco fixas: não induzem, não julgam, vagueiam pelos rostos, meios rostos, locais, movimentos - tensas, perdidas, exaustivas, incessantes ---- encontradas.

Wednesday, October 08, 2008

A música certas às nove da manhã.



São aqueles bocadinhos da música certa na hora certa que tornam as manhãs preciosas e o dia comprido, leve e intemporal. São eles que fazem raiar a melancolia de mansinho e que acolhem, ao de leve, o corpo frio, enchendo tudo com um pleno vazio.

Obrigada, johnny, por hoje.

Sunday, October 05, 2008

Terra Mãe

no outono:
terra: plena; cheia; madura; dádiva; abraço; berço; acolhedora; calma; parada; lenta; espectante; sábia; mãe.

hoje fui isto também: mãe: insegura deixei que a dúvida me caçasse e as lágrimas soltaram-se lentas.

viagens

“ E agora, olhando Martim, a mulher teve medo de perder este contacto insubstituível que a informava sobre a natureza mais secreta daquele homem ali em pé; e de quem, ignorando tudo, ela possuía o ilimitado conhecer que vem de se olhar e ver. Os factos tantas vezes disfarçavam uma pessoa; se ela soubesse factos talvez perdesse o homem inteiro.”

Clarice Lispector;“A maçã no escuro”; Relógio d’Água; pág 269/270

Sobre a densíssima densidade do livro, aparentemente desconexo, que frequentemente me deixa também esta sensação: mais vale lê-lo e entendê-lo como um todo, sem tentar discernir partes. A atenção sobre os factos talvez me faça perder o livro inteiro. Lê-lo embala-me e leio-o como quem embarca numa viagem sonâmbula ao centro do mundo, ao coração das trevas (humanas).

Saturday, October 04, 2008

Se esta rua fosse minha

A Rua Cândido dos Reis hoje à tarde foi uma boa surpresa.

Friday, October 03, 2008

outros doces


Comprei um melão que sabia a abóbora. Andei a comê-lo aos poucos, chamando a vocação de mãe, que aproveita tudo. Ontem de manhã comentei com a minha "empregada" o facto. Diz-me ela " Porque não faz compota?" Aqui está, e está boa, não sabe a melão nem a abóbora! Sabe a canela e limão.
Para quem "descasca" no casamento não está nada mal esta recomposição do lar, não acham?

Thursday, October 02, 2008

casamento

A favor ou contra o casamento de homosexuais?
Prefiro ser contra o casamento. Para que é que as pessoas se casam? Para garantirem o futuro?
Nenhum papel garante o futuro... garante chatices: agarra pessoas quando elas já não querem estar agarradas; faz perder dinheiro, tempo e paciência; culpabiliza as partes; alimenta o desrespeito pelas opções individuais e trá-las ao juízo público.
Porque é que o casamento não se transforma num simples contrato, regido pelo mesmo código que os outros contratos e com liberdade de ser celebrado entre quem quer independentemente do género ou do número? Um contrato que dá benefícios fiscais a quem decide cohabitar com outro(s) e tem uma economia familiar conjunta. Sendo contrato como os outros, rescindivel a qualquer momento por acordo entre as partes.Porque não libertamos o casamento do preconceito e da matriz judaico-cristã? Se assim fosse escusavamos de andar agora a discutir na AR o casamento entre homosexuais, questão do foro íntimo que não devia ser regrada por qualquer legislação.

Primeiros restos de Outono.


O outono está aí, sente-se no ar que invade o quarto quando se abre a janela de manhã. Fui dar uma volta pelo jardim, hoje, e voltei com este primeiros restos de outono. Achei que este cheiro a castanho, amarelo e vermelho se devia contaminar.

Wednesday, October 01, 2008

Clarice Lispector

Clarice lispector. Ainda que a sua escrita não seja bonita, pelo menos à nossa portuguesa conceptualização, é extremamente reveladora, iniciática, diria. Sempre surprendente pelas múltiplas leituras que provoca e, ainda mais, pelo que se antevê virá ainda a gerar. Um excerto de "Maçã no Escuro", menos sintético do que "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres", mas em certa medida, talvez por isso mesmo, mais arrebatador!

“Apenas isso? Quase nada! ainda rebelou-se o homem, mas meu Deus isso é quase nada.
Não, isso é muito. Porque, por Deus, havia muito mais do que isso. Para cada homem provavelmente havia um momento não identificável em que teria havido mais do que farejar: em que a ilusão fora maior que se teria atingido a íntima veracidade do sonho. Em que as pedras teriam aberto seu coração de pedra e os bichos teriam aberto seu segredo de carne e os homens não teriam sido “outros”, teriam sido “nós”, e o mundo teria sido um vislumbre que se reconhece como se se tivesse sonhado com ele; para cada homem teria havido aquele momento não identificável em que se teria aceite mesmo paciência de a monstruosa Deus? Essa paciência que permitia que homens durante séculos aniquilassem com o mesmo obstinado erro outros homens.” pág 230/1; edição Relógio de Água

Tuesday, September 30, 2008

A hora da canção (pt2)

Tv on The Radio - Family Tree

Under my love
Wake up to your window
The day calls in billows
It’s echoing moonlight on to the blue nightmare of your heart
In cosy red rainbow
It’s shaking off halos
And the memory of our sacred so and so’s

Oh take my hand sweet
Complete your release and bury your feet
And married we'll be
Alone in receiving ours is a feeling not that they would see
They don’t know that we could be
That way your cradle escaped the sea
?

Were laying in the shadow of your family tree
Your haunted heart and me
Brought down by an old idea whose time has come
And in the shadow of the gallows of your family tree
There's a hundred hearts soar free
Pumping blood to the roots of evil to keep it young

I’ll be your mind
Is it safe to say that we’ve waited patiently
Call me on time
And well go over to nanas place disgracefully
Fall into line
There's the garden grave and a place they've saved for you
I'll fall by your side
?

Were laying in the shadow of your family tree
Your haunted heart and me
Brought down by an old idea whose time has come
And in the shadow of the gallows of your family tree
There's a hundred hearts soar free
Pumping blood to the roots of evil to keep it young

And now we’ll gather in the shadow of your family tree
In haunted harmony
Brought down by an old idea whose time has come
And in the shadow of the valley of your family tree
There's a hundred hearts soar free
Pumping blood to the roots of evil to keep us young


Friday, September 26, 2008

5.as de leitura

Só não fiquei decepcionada porque não tinha posto a fasquia muito alta.
Gonçalo M. Tavares, jogou à defesa, preferindo uma "conferência" ao tradicional formato da entrevista, que é mais comum nestes eventos. Na conferência traduziu duas ideias em duas partes do discurso: na primeira, sobre o poder ( julgamento e punição) e na segunda, sobre o homem na era da tecnologia. Nada que me comovesse ou que me impressionasse. Competente, um pouco convencido e nada emocional: arrancou duas ou três gargalhadas tímidas à assistência ( a mim apenas sorrisos) e umas palmas por deferência, pelo menos as minhas.
De resto, não houve performances, que normalmente me surpreendem pela positiva. Bernardo Sasseti, foi pouco, muito pouco, mas valeu quase a pena pela primeira peça. A guitarra de Alexandre Soares, não me perturbou.

Caramel - Nadine Labaki

Realizado pela actriz principal, no papel de Layale, este filme é uma agradável incursão no mundo árabe, aparentemente muito diferente do mundo ocidental. Mas para além do universo ser o médio oriente, a acção passa-se em Beirute, é também o feminino, em toda a sua leveza e cumplicidade. Filme sem história, para além da vida normalíssima de um bairro em Beirute: com as suas decepções, os seus sonhos, os seus amores ... e uma atenta e gratificante dedicação.

Wednesday, September 24, 2008

Sombras de Casa

casamento - adopção

Não era sobre isto que ia hoje escrever… mas este tema ocupou o meu pensamento durante algum tempo o dia de hoje: o casamento homossexual e a adopção por casais homosexuais.

Antes de mais, concordo com os dois. Depois, concordo com muito mais do que isso, ou seja, acho que somos limitativos e preconceituosos nas relações funcionais e afectivas que conscientemente e socialmente admitimos: casal: homem/mulher, apenas, ou qualquer sucedâneo deste tipo, mais tolerante se for homem só ou mulher só, solteiro(a), viúvo ou viúva e menos consensual, mas já maioritariamente admissível, divorciado(a)/separado(a).

Para mim tudo é admissível. A célula base na qual se vive, ou se decide viver, pode ser homem/mulher ou pode ser homem/homem, mulher/mulher e as relações afectivas que as ligam podem ser as mais diversas, pai/filho(a); mãe/ filho(a) irmãos, amigos,… se são amantes ou não, não é para mim relevante, como também não o é, qual é natureza das suas relações. Quantos casais, que supostamente têm uma vida sexual “normal”, não se enquadram na normalidade, que provavelmente não existe em nenhum casal (o eterno problema das médias ou das normas).

Mas no meio disto tudo misturar a adopção? Parece-me completamente fora de contexto. Porque é que para adoptar se avalia a natureza das relações afectivas do(s) pai(s)? No caso de ser um casal a adoptar, avalia-se se o sexo é bom ou a quantidade de sexo, ou a capacidade de educar? Então porque é que se avalia a natureza da relação da pessoa individual, ou conjugada, que pretende adoptar?

Porque é que se mistura casamento com adopção?

Monday, September 22, 2008

Rui Paes

O que me chamou/impressionou ( no sentido literal e estrito do verbo) na conversa de Rui Paes na 2?
O que é certo é que eu, aquela que tinha tirado o avental há minutos e aberto este mesmo computador, me senti irresistivelmente atraída pela conversa do artista com Alberta Marques Fernandes no jornal da 2. O que conheço da sua produção? Algumas das ilustrações em "Pipas de Massa" que ofereci no natal de 2006 à minha sobrinha mais nova. Cativou-me a personagem e a fluência do discurso despretensioso e vivo. Parecia que estava no mais confortável dos sítios a falar para a mais antiga das suas amigas. Um discurso pouco comum em entrevistas e muito menos comum num telejornal: lúcido, coerente e imaginativo.
E a figura: homem de quarenta e muitos, meio careca, as pálpebras um pouco descaídas, alguma inércia na figura que soma o conjunto dos mais comuns atributos de homem de meia idade. Fez-me lembrar William Hurt, estranho não?