Tuesday, April 03, 2007

Arquiturismo

Apenas uma voltinha pela net antes de recomeçar o trabalho.
A Cultour este fim de semana esteve em grande no "Fugas" do Público. Arquiturismo. Um novo conceito de turismo, uma nova porta para a arquitectura. Sem melindres, sem complexos, apenas com a consciência do valor que temos e que somos. Sem pedir nada a ninguém, de cabeça levantada, mostramos ao mundo o melhor da arquitectura portuguesa. Seriamente e exigindo o retorno que nos é devido. Cá estamos para ficar.

Sunday, April 01, 2007

mar


Apesar do frio não resistimos ao apelo do mar...

dignidade

Do debate que ouço, ainda neste momento em “ Um certo olhar”, uma frase de Jorge Wemens reteve-me a atenção e sugere este comentário. Sobre a falta de dignidade humana, sobre o pouco valor que cada homem dá a si próprio, neste caso comentando a situação desumana a que se sujeitaram os trabalhadores portugueses em Espanha: viviam, sem se questionarem, a troco de cama, tabaco e meninas. Ele dizia que a falta de respeito por eles próprios decorre da falta de devolução social de uma imagem digna. Como se a sociedade fosse um espelho. Como se nós fossemos o espelho que devolve a imagem de grandeza e dignidade aos outros. Assim mesmo. Também assim penso. A auto-estima e a confiança de cada um depende da força e do respeito que a sociedade lhe demonstra. Uma sociedade que se limita a devolver-lhe, como necessidades básicas dormida, tabaco e meninas é uma sociedade visivelmente doente, especialmente podre e desequilibrada.

A “minha” imagem grande de pessoa humana é aquela que “tu” ajudas a construir. Quanto maior e melhor for, melhor serei. E a ela não podem nunca estar alheios valores de respeito pela individualidade, pela liberdade e pela diferença. Valores de democracia e de igualdade de direitos e deveres.

o prazer de ler

O prazer de ler. Peguei no livro de manhã, logo a seguir a acordar e não parei de ler até o acabar. Tive que alterar o plano do dia. Ainda não sei escrever sobre ele, ou talvez nunca consiga escrever sobre ele. Suscita-me silêncio, pensamentos, frases soltas apenas inteligíveis para quem o leu. Suscita reflexão e contraponto. Haruki Murakami, Sputnik meu amor, apenas o posso recomendar, para depois o poder ler nos vossos olhos.

Friday, March 30, 2007

mulheres

Ouvia calmamente António Barreto na Grande Entrevista. É bom ouvi-lo. Retenho a sua reflexão sobre as extraordinárias mudanças sociais das últimas décadas. Retenho a sua reflexão sobre a condição da mulher. Dizia que as mulheres de hoje são também as mulheres de há cinquenta anos. Fazem o que faziam há cinquenta anos e acumulam na sua vida diária as conquistas benéficas que a evolução social lhes trouxe: trabalham em casa e trabalham fora de casa. Tão simples quanto isto. Todos nós o sabemos. Mas nós sofremos. É isto que eu não quero, ser esta super mulher que se realiza no trabalho, nos outros trabalhos e cumpre escrupulosamente os seus deveres de mãe. Felizmente as tarefas que herdei de há cinquenta anos são compensadas por dois filhos maravilhosos e por um pai (deles) que apesar de ser ausente, como os pais de há cinquenta anos, tem a exemplar virtude de ser referência no exercício profissional e no seu trôpego amor por nós. É assim possível desmultiplicar momentos únicos de diálogo interminável, vencido apenas pelo cansaço do corpo.

Esta é uma casa fora do comum. Onde o correcto está muitas vezes ausente, onde a luz não se apaga, onde está sempre alguém. Onde quando toca o alarme todos voltam.

Mas não estou satisfeita e por isso, entre nós, discutimos muitas vezes outras formas de organização social. Delas não está de fora o tal “gineceu”, talvez o post mais polémico deste blog.

Wednesday, March 28, 2007

Vazios

A prova de que este blog não se tornou um correio entre mãe e filha será a sua continuação. Pois. A Joana está cá de corpo inteiro para encher a casa. Não há skype, mas há blog!
Apetece-me deixar aqui um texto, que alguns já conhecem, e que aparecerá na Trienal de Arquitectura em Lisboa. Um texto sobre o medo do vazio.

"Vazio.

No urbano o “vazio” não existe. Podem existir espaços sem construção. Podem existir espaços não construídos mas ocupados com funções urbanas – espaços públicos que estruturam o urbano. Podem existir espaços memória de outra ocupação – terrenos agrícolas ou florestais. Mas não são vazios. São sempre espaços “entre”, contidos por construções, agarrados por estruturas, interstícios que fazem parte do organismo urbano…

A necessidade de preencher o vazio e a incomodidade perante o vazio, são uma pulsão e um sentimento que sobrevêm depois da pós-modernidade.

Dos quatro projectos que Santo Tirso apresenta nesta Trienal nenhum deles tem como génese a necessidade de preenchimento do vazio. Todos são uma requalificação do espaço que ocupam: dando-lhe uma nova função, recuperando-o para a mesma função, ou enfatizando a sua actual função.

Dando ao “vazio” uma nova função:

Complexo Desportivo Municipal – Rótula de ligação entre a cidade dos anos setenta e as novas estruturas da década de noventa. Nele o Pavilhão Desportivo Municipal é uma peça maior. O conjunto ficará concluído com a construção de um polidesportivo, campos de ténis e estruturas de apoio.

Habitação a Custos Controlados – Conjunto habitacional construído em terrenos agrícolas abandonados, na periferia da cidade. Qualifica e estrutura o urbano.

Recuperando o “vazio” – Reabilitação do Cine-Teatro, intervenção sobre um edifício degradado mantendo a função. Recupera a memória para um novo conceito de espaço cultural.

Enfatizando o “vazio” – Renaturalização e Requalificação da frente de rio, um percurso no “vazio”, o espaço natural também como espaço urbano.

Dando ao “vazio” uma nova função. Recuperando o “vazio”. Enfatizando o “vazio”.

O vazio tem lugar no espaço urbano.




Saturday, March 24, 2007

Bem...

Até já!

Saudades

É assim mesmo. Hoje em directo, sem rascunho. Porque a semana foi muito completa. Tanto que não tive tempo para, aqui, confessar pensamentos.
A internet, tem para mim, muitos benefícios. Gosto, gosto muito de vir aqui, todos os dias para pontuar o meu dia. Sei que este é um lugar de exposição. Aqui escrevo o que quero, só o quero, sem a pretensão de fazer literatura, mas com intensão de escrever português correcto. Apenas isso, português corrido, para deixar alguns pensamentos que, para mim, fazem sentido. Este lugar faz-me falta. Entendo a Joana desesperada quando lhe falta a internet, lá naquele país frio, onde não há cheiro a estrujido ou a sopa, onde as árvores florescem mais tarde, onde a quentura é artificial para disfarçar o frio, lá fora.
Amanhã esta casa terá um jantar português para ela, em sua honra!
Porque é que as saudades são maiores quando a proximidade da presença se avizinha?

Friday, March 23, 2007

Hussein Chalayan



Se aguentarem o início, eu juro juro que vale a pena.

As manhãs...


...em colagens.

Thursday, March 22, 2007

o dia

Dia de efemérides e de comemorações. Juntam-se no mesmo dia 21 de Março: dia da árvore (as árvores marcam o meu espaço); dia da poesia (a poesia pauta a minha vida); dia do sono (adoro dormir bem); dia de aniversário de João Sebastião Bach (Bach é cada vez mais a música).

Dia em que a poesia continuou numa conversa a três que não acabou, porque o encontro do homem com Deus, do homem com ele próprio, ou do homem com a natureza, infinitamente benéfica ou infinitamente maléfica, continuará na leitura do pré-sono.

Não tenho medo.

Wednesday, March 21, 2007

mimalhos

Cheguei cedo a casa para planear o dia de amanhã e de depois de amanhã. Dias com programas especiais que exigem sabedoria para coordenar sem deixar de fora prazer e obrigações prazenteiras de mãe. Tudo se compõe nesta casa. Basta ter a chave da porta para entrar. Basta entrar para estar em casa. Quente ou “fria”, porque o tempo meteorológico assim o determina, mas todos sabemos que aqui há sempre lugar a outra espécie de aconchego – mimalho, mimado, independente mas presente…até hoje ninguém faltou à chamada.

Tuesday, March 20, 2007

Babar



tenho saudades dele.

Monday, March 19, 2007

Santo Tirso

Santo Tirso no seu melhor, parado no tempo, ou para trás no tempo.
Domingo dia 18 de Março, a "Poesia está na Rua".

O meus vinte graus.

Neve, granizo e cara de sofrimento. Lá fora gela-se até aos ossos. Faz doer a cabeça e os maxilares. É complicado, estou habituada ao quentinho e tenho inveja dos vossos vinte graus. (não queria por a minha cara, mas é realmente ilustrativa do assunto, desculpem.)

Sunday, March 18, 2007

By this river.

Abri o itunes e pus a tocar a "by this river", do Brian Eno. É uma daquelas canções à qual volto sempre, com uma amargurada doçura. É uma canção de solidão. A primeira vez que a ouvi foi no filme “O quarto do filho” do Nanni Moretti. Comprei o cd. É antigo e nota-se, tirando esta canção que é, todos os dias, mais eterna e mais intemporal. Aliás completamente intemporal.

Pus-me a pensar, hoje, tem quarenta anos, a canção. Quarenta anos é muito, é o dobro da minha idade. Foi composta vinte anos antes de eu nascer, trinta anos antes de eu começar a ouvir musica, trinta e cinco anos antes de eu começar a ouvir música boa. Precede-me. E, se a ouvir como se fosse a primeira vez, não parece que foi composta ontem, ou o ano passado, ou há quarenta anos. Parece, sim, que sempre existiu. Como se fosse anterior ao humano, como se já pairasse nas estrelas. E, desenganem-se os cientistas, as estrelas não têm anos. Sim, a "by this river", é viva desde sempre.

Meus queridos:

Se alguma coisa aprendo com a vida é que ela se deslaça sobre desequilíbrios que tentamos equilibrar.

Qualquer relação profunda é a tentativa de encontrar o equilíbrio, a sintonia absoluta e momentânea. É raro o momento em que dois caminhos se encontram no ponto mais alto do corpo e do espírito. Se mesmo olhando para cada um de nós, é difícil recolher de nós estes momentos de sintonia entre corpo e espírito, consegui-lo com outro(s) será ainda mais raro. Duas linhas quebradas, quatro linhas quebradas e probabilidades matemáticas dão-nos a solução deste problema que é a vida.

Na minha cabeça conceptualizo um desenho que não posso tornar visível. Esse desenho persegue-me e apazigua a minha alma. Dá-me a força para desfiar fios, teias frágeis e luminosas que lanço para trazer o ponto mais alto de outra linha quebrada para junto do meu. Outras vezes olho de baixo para o “teu” ponto mais alto e a custo subo com cuidado pela teia que “me” lanças. E quando são três, ou quatro, ou… no mesmo ponto alto?

(Explicará isto a força das multidões?)

Mas no materialismo em que nos criamos é difícil saber conviver com os desequilíbrios. Perseguimos a segurança das certezas. Ilusão.

Por isso, meus queridos, percebo a dor da insegurança mas também percebo a doce subtileza do caminho e custa-me não puder tornar a vossa vida constante e linear, sempre na haste mais alta da comunhão ( não da melancolia, perdoa-me Eugénio). Paradoxo do sentimento amoroso.

Peixinho



Como somos todos um bocadinho peixinho, às vezes, tomei a liberdade de pôr o meu peixinho dentro deste aquário, emprestado pelo google. Acabei o romance que também era sobre um peixinho. Muito bonito. Leiam.

Saturday, March 17, 2007

Ao que me obrigas, Maria

Obrigada pela mãe, Joana "posta" fotografia do par de sapatos novos. Lentamente ficando foleira como as inglesas?

primavera

É impossível ignorar a Primavera! Ela não chega por calendário. Chega pelas árvores ( que estão cheias de tenras folhas verdes) chega pelo sol ( que se concentra na pele para irradiar calor depois) chega pelo céu azul, chega pela memória de outras Primaveras ( retalhos, quadros, cenários vividos), chega pela fantasia…

Chega pela melancolia, a tristeza mais alegre, mais doce… Ouvia hoje que os portugueses são como os russos, são tristes. Por isso gosto da música dos russos, Prokofiev, Shostacovich, Tchaikovsky, Stravinsky,… ou mais recentemente Arvo Pärt, que não sendo russo vem de lá perto.

Hoje a casa não tem música, apenas o ruído… das máquinas, dos bichos, dos passos, dos teclados… não caibo nesta casa, como não caibo dentro de mim. Mas também não quero conversar, nem ouvir, quero apenas estar, porque “naufragar é doce neste mar.”

Thursday, March 15, 2007

...e menino

Wish you were here.


A Manchester Gallery tem uma zona didáctica, para os mais pequenos. Tem várias brincadeiras para as crianças perceberem as peças do museu e a arte. Quase tudo em Manchester é feito para pequenos e graúdos. Há, na Manchester Gallery, um projecto na zona das crianças, que adoro. Chama-se “Wish you were here”. Tem muitas malas antigas e umas etiquetas para escrever uma mensagem. Tem duas minhas e muitas, muitas de outros.

Cavalinho

O cavalinho voava no ar

às três da tarde no monte do xisto.

Ninguém mais fixou o cavalinho no ar

quando às três da tarde

ele dançava lento no azul grego do céu.

Pégaso ou cavalinho de pau?

A infância dos sixty ou

a eterna ternura da antiguidade clássica?

Mas o cavalinho

(apesar de ser apenas um balão perdido

por uma criança qualquer)

tirou-me de mim e levou-me à grécia

hoje - lá

onde também se perdem cavalos

num domingo à tarde.

Rapazes

Gosto de rapazes. Gosto da conversa dos rapazes. Para mim é um divertimento ir buscar três, quatro ou cinco rapazes ao treino de basquete. São divertidos e leves nas conversas. Riem-se, dão gargalhadas, provocam-se e eu com eles. Também dou gargalhadas.

O meu rapaz provoca-me “ Isso são conversas de mulheres! Gostam de ser sempre as rainhas do mundo. E depois não ligam a ninguém!” Respondo “ Eu não sou assim:” “ Ai não! Claro que és.” E pronto, fico a pensar…é certo que nós gostamos de segurança. O risco é sempre calculado…ou então desculpado. Quando tomamos a iniciativa, medimos antes muito bem, as probabilidades do não. E se apesar de o medirmos ele nos surpreende, encontramos sempre uma fantasiosa razão, para interpretarmos positivamente esse não. Há sempre uma razão, uma desculpa para o nosso “fracasso”, porque para nós, é disso que se trata. Seremos sempre rainhas ainda que só na nossa efabulação.

Com a idade cada vez gosto mais de homens.

Tenho saudades da minha companheira.

Sunday, March 11, 2007

Cartas de Iwo Jima

de Clint Eastwood

Discutimos e não concordamos ou então não soubemos explicar-nos. A causa foi a atitude do Barão de Nishi, que manda os seus homens juntarem-se aos sobreviventes do outro lado da ilha e fica na gruta do Monte Suribachi ferido de morte para se suicidar. A questão que nos pôs em discórdia resulta do facto de ele dar o tiro de morte ainda quando era audível para os seus homens.

Se para os japoneses é uma questão de honra morrer pelas próprias mãos, sendo o acto do suicídio a última e eterna libertação, para mim o momento que ele escolheu para o fazer chocou, ou no mínimo perturbou, os homens que, sabendo que só lhes restava a morte, tiveram que continuar a lutar até ao fim. Na opinião deles a expressão no rosto dos soldados foi de dor pela morte do general.

A visão que o filme nos dá, para além de ser evidentemente uma perspectiva nova sobre o que se passou, a perspectiva japonesa, não deixa de ser uma visão ocidental e americana. As personagens chave do filme, o general Kuribayashi e Nishi, têm fortes ligações ao mundo ocidental e são recriadas no dilema entre o patriotismo heróico e a sua condição de homens. O general redime-se deste dilema, quando salva pela terceira vez Saigo, devolvendo-o pela rendição à família, que também podia ser a dele. Os sentimentos humanos são aqui mais fortes do que o suicídio consentido ou imposto. Kuribayashi suicida-se, pede a Saigo que o enterre para que ninguém encontre o seu corpo, o que aconteceu na realidade e liberta-o da honra patriota para a dimensão humana.

Discordamos ainda noutro ponto: para eles, Kuribayashi não quer ser encontrado porque acha que fracassou, para mim porque para além disso, a morte pelas suas mãos é a suprema redenção. Gostei.

Saturday, March 10, 2007

impressões de mãe

O sol aquece-me a pele.

A diferença de idades entre os meus dois filhos mostra-se providencial. A minha companheira está longe no espaço mas fiquei com um companheiro. Hoje de manhã disse-me “Vamos à praia!” Sugestão imprevista que aceitei. Afinal que diferença faz entre Julho e Março se está sol? Ir, deixar que a vida corra…ouvir quando há que ouvir, falar quando mesmo não há nada “especial” para dizer.

A casa está desarrumada de vida. Haverá um bolo simples para fazer, um grande “queque” como ele gosta. Faço-o com gosto, porque sei que nos agarra uns aos outros, é presença e será sempre memória de uma qualidade de ser mãe.

Friday, March 09, 2007

upgrade

O que eu gostava de ser era empresária, ou antes, mentora de empresas. Nas minhas divagações surgem-me muitas ideias para novas empresas. Até gostava de ter uma empresa de ideias para novas empresas. Será este o meu próximo upgrade?

A última, que surgiu juntando alguns dados, é uma empresa direccionada para a terceira idade. Porque sei que:

- Cada vez há mais idosos;

- Nós “os de meia idade” debatemo-nos com o apoio amante aos pais e com vidas profissionais em pleno;

- Os idosos não gostam de deixar as suas casas, as suas coisas;

- Os sistemas de informação são essenciais, quando bem aplicados, para melhorar a qualidade de vida;

- As domóticas e as robóticas permitem o controlo remoto.

Então construir uma empresa de apoio aos idosos, ou a quem vive sozinho, à distância, uma empresa que vele pela sua segurança e lhes faça companhia sem interferir e sem ferir as suas individualidades, é a ideia.

Esta empresa permitiria lembrar a tomada de um medicamento, acorrer em situações de doença súbita, de queda, de depressão, de necessidade de um serviço urgente, de entrar em contacto com uma pessoa, etc.

Pode incorporar ainda pessoal para assistência domiciliária comum ou associar-se a outras que o façam.

Quando tenho estas ideias fervilho e só tenho pena de não possuir os meios para a poder realizar.

Wednesday, March 07, 2007

Balão

memórias

Divirto-me e emociono-me. Deito o "rabo do olho" para a televisão pública que faz cinquenta anos. Desde que me lembro como gente que o pequeno ecrã me acompanha. O meu pai comprou a primeira televisão em 1968 para os jogos olímpicos do México. Com ela vi "O nascimento de uma nação", "Nosteratu"; aprendi a conhecer os desenhos animados da europa oriental e do Canadá, Norman McLaren; ouvi "Se bem me lembro", João de Freitas Branco,"Histórias da Música"; vi Vilaret, Mário Viegas; David Mourão Ferreira, Nemésio e Agostinho da Silva; vi Almada Negreiros; muito desporto, muitos filmes, muitos documentários...
menos, cada vez menos, vejo televisão.

premonições

Não foi premonição mas ontem falei de mimos. Hoje chegaram-me três explícitos: primeiro uma dedicatória, depois um livro, e depois um mimo dentro de outro mimo e outro dentro, uma carta muito especial.

Do livro:

Coisas de Partir

Tento empurrar-te de cima do poema
para não o estragar na emoção de ti:
olhos semi-cerrados, em precauções de tempo
a sonhá-lo de longe, todo livre sem ti.

Dele ausento os teus olhos, sorriso, boca, olhar:
tudo coisas de ti, mas coisas de partir...
E o meu alarme nasce: e se morreste aí,
no meio de chão sem texto que é ausente de ti?

E se já não respiras?Se eu não te vejo mais
por te querer empurrar, lírica de emoção?
E o meu pânico cresce: se tu não estiveres lá?
E se tu não estiveres onde o poema está?

Faço eroticamente respiração contigo:
primeiro um advérbio, depois um adjectivo,
depois um verso todo em emoção e juras.
E termino contigo em cima do poema,
presente indicativo, artigos às escuras.

Ana Luísa Amaral; Poesia Reunida 1990/2005; edições quasi

ten days of perfect tunes



DOWNLOAD AQUI

Penso que já estejam familiarizados com o site em que guardei o ficheiro. O ficheiro é .rar e tem a compilação de canções, a capa e a parte de trás do cd. Tudo feito com amor. Isto é um kit. Adoro isto, a sério. Aproveitem, divirtam-se.

Tuesday, March 06, 2007

novos mimos

Durante o dia são vários os temas que me sugerem reflexões para este blog. Vou falar de mimos. Porque agora, assim estou. Vivemos de mimos ou os mimos fazem-nos viver. Pequenos gestos de mim para os outros e dos outros para mim, mantêm-me agarrada. Circunstâncias. Todos somos circunstâncias na vida de cada um. Como diz Joseph Conrad “ Vivemos como sonhamos-sózinhos”. Eu sei. Tu decerto também sabes. Porque esta é uma ideia maior que perpassa por este blog. Mas porque o sei, quero que saibam, todos e cada um, que cada gesto que me faz lembrar que não estou sozinha é bem vindo. “Se a vida é dura e mais dura é a razão que a sustém”, como diz o Poeta, então que ela seja mais doce e mais leve pela demonstração do amor que nos agarra. Aqui, neste blog, também.
É muito importante expressá-lo, para que os outros perssintam o gesto e para que a dádiva nos fortifique. Como digo muitas vezes ( pensando nos meus filhos e não só) só quem é bem amado é bom. Com muito amor, muito carinho, somos melhores, superamo-nos.

Monday, March 05, 2007

miss u


Não costumo pôr a minha figureta neste blog, mas esta mensagem é muito muito muito importante. A todos, e os todos sabem quem são, MISS U! (Parabéns, Inês.)

Saturday, March 03, 2007

Moonless



Eclipse total da Lua.
Visto aqui, aí e em Barcelona

às vezes outra voz

É como se estivesses aqui
( quando te sei ausente)
e quando estás presente
( também te sei ausente)
distante, não indiferente.

Moldo o vazio com a luz da perda:
assim encontro a minha medida.
Tão só, tão louca, às vezes perdida.

Caminho no areal da música em tempos
medidos pelo relógio do sentimento
que ela me sugere ou activa.
Tão só, tão frágil, às vezes perdida.

O mote é ausência presente
numa casa de memórias únicas.
Viver não só nem somente:
Tão plena, tão forte, sempre diferente.

Março, o mês da Primavera


março
(é o mês da primavera)




Desculpem esta vontade estúpida de partilhar esta assimilação do momento. Às vezes os ventos de Manchester irritam-me. E voltei a adormecer, hoje de tarde, em cima da cama.

Friday, March 02, 2007

slogans

Alguns dos slogans da minha juventude acompanham-me.
“Vida sã e luta dura” é um deles. A minha adolescência caminhou a par com a revolução de Abril. Fui educada nas “escolas” da esquerda e assumi muitos princípios como princípios de vida. Com o tempo aprendi a ser mais tolerante comigo: a fazer concessões à vida sã ( as noitadas, alguns cigarros, o prazer de um bom copo, de um bom cozido…) e à luta dura ( algumas concessões ao dever pelo prazer). Quem me conhece dirá: tretas! Mas não é assim. Simplesmente as concessões são quase sempre derrapagens controladas. Quando não o são, a minha vida anda às cambalhotas! Não se dão conta disso, pois não? Sou uma boa “actriz”, excepto para aquela meia dúzia de eleitos a quem abro a minha alma. Felizmente tenho o privilégio de ter alguns amigos que me aturam.
Tudo isto para dizer que esta semana li no meu signo que deveria ter cuidado. Defendi-me. Dormi mais do que o costume, esqueci-me de algumas tarefas, conversei muito, fui menos vezes ao ginásio e à piscina e…
Hoje estou leve. Corpo? Não tenho, as minhas pernas não existem. A cabeça paira entre a terra e o céu porque tudo está em ordem.
Fui compensada por ti, e por ti também!

Wednesday, February 28, 2007

Retratos ao pequeno almoço.

pessoas, num starbucks, esta manhã.

Menina 2

Ainda tem problemas. As pernas pequenas. A cara plana e sem alma. Mas é tão difícil. Mais uma tarde em casa deve chegar. A cadeira ficou bonita! E o chão. E tenho um amigo para ela em mente. Pôr o imaginario cá fora ajuda a ficar leve! Concretizar é supremo.

Tuesday, February 27, 2007

A Poesia está na Rua

Gosto de pessoas, de trabalhar em equipa.Gosto de sentir colectivo. Gosto de criar ambientes em que as pessoas dão o seu melhor e se realizam. Os melhores “recursos” são os humanos. Assim é quando as coisas correm bem e as pessoas são recompensadas. È um incentivo para darmos o nosso melhor, para nos superarmos. Foi deste modo na sexta à noite quando um brilhosinho nos olhos e os corações quentes se despediram de mim que, como simples espectadora, assisti a uma vitória dos que comigo trabalham. A sala estava cheia, as pessoas sossegadas, o espectáculo correu bem… e no fim Zeca Afonso veio ter connosco. Saímos melhores daquela sala.
A Poesia está na Rua, esteve dentro da biblioteca literalmente e não só… fizeram-se poemas vivos.
Deixo o link da Câmara para procurarem notícias vale a pena! www.cm-stirso.pt.

Monday, February 26, 2007

Sunday, February 25, 2007

assim

Minha querida:
Vamos comunicar passando pelo mundo...(dos blogs). Aqui estamos as duas expostas. Isso não nos preocupa. Zangaste-te? Provavelmento com razão. Nós cá do outro lado preparavamo-nos para um daqueles jantares de sábado... em que a mãe ocupa mais do seu tempo na cozinha para receber "bem" as visitas. Estiveste cá. Nos "links", na recordação das tuas mãos doces, dos teus desenhos, das tuas fotografias... Joana na Ilha em Portugal também...na Várzea, ou no Xisto.
Portugal chega a Salford no arroz de couves e na carne estufada que aprendeste a fazer e que te fazem sentir em casa. Somos assim. Assim, assim, assim, assim...
A viagem já está marcada e em Abril o Xisto vai chegar a Salford!

Caderno


Acho que é a primeira vez que acabo um caderno. E a primeira vez que não quero acabar. Normalmente desisto lá para metade de meio. Este teve nas minhas mãos desde o fim de Setembro e foi crescendo. As folhas traçadas, os cantos amachucados. Colar, desenhar, escrever e pintar. Relembrar, memorizar. Tudo para guardar. Adeus, companheiro.

Friday, February 23, 2007

Ryuichi Sakamoto



Quando não é imagem e música mas poesia.
Quando nos fazem ganhar o dia.

assim

Hoje escrevo directo. Isso cada vez mais acontece. Simplesmente porque tenho vontade de deixar algumas palavras para o mundo e porque gosto da cumplicidade voyerista que se gera nos cruzamentos de esquina. Até onde a gente deixa que assim seja. Intimidade controlada e reescrita para o mundo restrito e aberto dos que nos lêem. Assim é. Uma família alargada que extravasa os laços de sangue para se verter nos laços do afecto. Aproveitem o privilégio... "presunção e água benta cada um toma a que quer".

Thursday, February 22, 2007

Wednesday, February 21, 2007

Before Recycling


Voltarei a explorar o reuse. E fico feliz. No primeiro ano, quando estudámos o assunto pela primeira vez, era tudo muito no ar, ainda. Estou mortinha por enfiar o nariz nos projectos da Droog. Têm as peças mais bonitas, mais poéticas. Dêem uma espreitadela.

planeamento do território

Os feriados também dão para isto, para trabalhar muito. Estive a trabalhar no relatório do Plano Director Municipal. Gostei. Esta é uma área apaixonante: integrar políticas num território concrecto, perceber como se concretizam objectivos através da materialização de projectos, acreditar profundamente naquilo que se faz... O sabor amargo sobrevem quando sabemos que a sua concretização não depende da bondade das nossas propostas nem da paixão que nelas pomos.
Mas de um modo informal e empírico este trabalho constituiu, para mim hoje, uma avaliação da minha actividade de vinte anos. Vinte anos é muito tempo na vida de uma pessoa e é muito pouco na vida de um município. Por isso esta reflexão me fez ver quão insignificante sou individualmente. Só construindo um projecto colectivo conseguimos interferir positivamente no curso da nossa história. O planeamento territorial é isso: um projecto colectivo que só faz sentido se pensado no tempo.

Tuesday, February 20, 2007

A Magnólia






A exaltação do mínimo,

e o magnífico relâmpago

do acontecimento mestre

restituem-me a forma

o meu resplendor.

Um diminuto berço me recolhe

onde a palavra se elide

na matéria – na metáfora -

necessária, e leve, a cada um

onde se ecoa e se resvala.

A Magnólia,

o som que se desenvolve nela

quando pronunciada,

é um exilado aroma

perdido na tempestade,

um mínimo ente magnífico

desfolhando relâmpagos

sobre mim.


Luísa Neto Jorge

Poesia, 1960-1889

mimos

"(…) O que há de extraordinário ali é que o mistério é à luz do sol. Na Acrópole ao meio-dia, com o sol a pino, toda a gente fala em voz baixa. Os próprios turistas, tão exuberantes em Itália, ficam transformados.

A Itália também me maravilhou – mas é diferente. Veneza e Florença são mundos construídos pelo homem centrado em si mesmo. Não são mundos religiosos. Na Grécia tudo é construído como religação do homem à natureza. Em Veneza e em Florença a natureza pouco seria sem o que os homens construíram: o que há é cidade. Mas os templos gregos só são compreensíveis situados no mundo que os rodeia. A ligação entre a arquitectura e o ar, a luz, o mar, os promontórios, os espaços é total. E essa ligação é simultaneamente racional e misteriosa, profundamente íntima.

Há também na Grécia uma atmosfera extremamente primitiva, um misto de doçura e de austeridade, de afinamento exacto e de rudeza. E uma identidade entre o físico e o metafísico.

(…)

Será possível que eu lá volte? Assim espero. E de todo o coração desejo que você um dia lá possa ir. Pois o que ali há, além de tudo o mais, é uma intensa felicidade de existir que nos lava todas as feridas."

Correspondência 1959-1978; Sophia de Mello Breyner/Jorge de Sena; Edições Guerra e Paz; pág. 70; 2ª Edição


E de todo o coração desejo que vocês um dia lá possam ir...


Dúvidas

Sou uma mulher feliz! Quantas vezes penso assim? Muitas. Aqui nesta casa, só agora se ligou a televisão... e não por mim. Estivemos sentados à mesa a conversar. Reflectiamos sobre o futuro dos mais novos. Reflectiamos sobre como em Portugal se mata a vida, se ganha a vida a fazer "nada". Corre-se, sofre-se para conseguir sobreviver a fazer bibelots de marfinite, que se vendem em feiras portuguesas e espanholas: candeeiros de marfinite, com bases que são damas antigas, gatos, flores, ou outros temas igualmente "necessários"ao padrão de vida que criamos. Mas para quê? Não há outras actividades mais essenciais à vida? E os filhos, inadaptados, não entendem o que estudam na escola, não gostam do que estudam na escola, decoram à pressão as matérias para tirarem um três que lhes garante a passagem e um lugar na vida, talvez a fazerem candeeiros de marfinite!
Tive uma reunião com um rapaz, muito mais novo do que eu, que criou uma empresa, para fazer a ligação entre o mercado português e o chinês. Boas ideias e profissionalismo. Pensava... se tivesse menos vinte anos! Mas tenho mais vinte anos e cabe-me induzir, picar, contaminar... porque acredito no futuro. Em ti também, Joana.

Sunday, February 18, 2007

diáspora

Domingo de carnaval, tradicionalmente em Vermoim, é dia de cozido. Na terça-feira de Carnaval é dia de feijoada. Fiz cozido. Fui a casa do meu irmão ele estava a fazer cozido. Telefonei aos meus pais, eles estavam a comer cozido. Vermoim, foi em várias casas e também foi em Melcões. Vermoim também foi em Salford, provavelmente sem cozido. Lá chega o cheiro e a saudade.

Diamante de Sangue

de Edward Zwick
Resolvemos ir ao cinema ver um “filme”. Diamante de Sangue é realmente um filme, com tudo o que o cinema americano tem de bom e de mau. É um filme americano. Chorei. Deixei que o lado melodramático puxasse pela corda do sentimento e as lágrimas escorressem livremente pela minha cara. Sob esse ponto de vista o filme é muito bem feito. Ficamos postos e expostos diante de uma realidade verosímil e muito dura que move os nossos mais profundos e bons sentimentos: solidariedade, amor, família, no que ela significa de laços de afecto verdadeiro.
Por outro lado a sua inverosimilhança vem do facto de percebermos que é impossível que aquela história acabe bem. Porque ela na realidade não acaba bem. Porque ela continua em África, apesar de a Serra Leoa estar “em paz”. Mas no filme acaba “bem” com a família reunida e recuperada em Londres!
E depois, Djimon Hounsou ( Solomon) é bom, é África: é grande, bonito, imponente, tem um pescoço alto e ombros oblíquos, tem uns olhos expressivos e escuros que transmitem o espanto e a incredibilidade perante o que está acontecer à sua família, perante o que está a acontecer em África.
Gostei muito.

Friday, February 16, 2007

educar

Educar, tarefa difícil. Entender que as pessoas não se constroem apenas na escola. A escola, os conteúdos e o modo como se aprendem, fazem parte dessa construção. Mas as pessoas fazem-se também cá fora, nas conversas, no diálogo com os outros, na aprendizagem do corpo, na vivência dos afectos e neles, nas cambalhotas que dão as relações. Aprender a viver a aceitação e a recusa, saber lidar com esta, sem esconder a cabeça na areia, são momentos essenciais na construção da maturidade. Por isso penso que, mais importante do que tirar muito boas notas, é saber estar, crescer. Há uns tempos o Pedro tinha um teste e como de costume deveríamos rever a matéria que ele já tinha estudado a seguir ao jantar. No entanto, estávamos os dois numa conversa muito interessante e rica. Então eu disse-lhe que mais valia continuar a conversa, mesmo que isso custasse abdicar do tradicional Muito Bom. Assim foi, o Pedro não teve Muito Bom, e nós continuamos a conversar. Teria tido Muito Bom? Provavelmente não, mas mesmo que sim, troco-o bem pela cumplicidade que continuamos a partilhar. Tenho a certeza que as nossas conversas são mais importantes para a construção do homem do que a sabedoria que se transmite na escola, ou que um 5 no fim do período.

Thursday, February 15, 2007

europan 9

Agora para os arquitectos que por aqui passam. O Concurso Europan 9 está aberto. Santo Tirso é um dos locais. O sítio, na acepção que nós conhecemos dos bancos da faculdade, a que não é alheio o conceito de Siza, é magnífico. Nós, os que trabalhamos no município somos a garantia de seriedade e paixão pela arquitectura. O júri é de qualidade. Concorram. Ser jovem arquitecto dura pouco tempo, até aos quarenta anos!!! Vá lá, www.europanportugal.pt.

As vidas dos outros

...de Florian Henckel von Donnersmarck

Interessante. Perceber a sobriedade do cinema europeu, na boa tradição da sua herança.
O filme fala de pessoas, para além de falar de censura, de intromissão e de política. Ou não fossem, muitas das vezes, as ambições e desejos pessoais que determinam a política. Aqui o individualismo do projecto pessoal sobrepõe-se ao colectivo: para Christa, a actriz, a representação, é a sua forma de realização e está no topo da escala de valores. Esta é a marca da contemporaneidade, que sob a capa de um projecto político colectivo, no caso do ministro, se manifesta do mesmo modo: a sobrevalorização da libido em relação à defesa e inviolabilidade do regime – a investigação começa pela necessidade da consumação do desejo e não por qualquer motivo político.
O investigador, Wiesler, que o realizador evidentemente escolhe para o cruzamento e confronto da dualidade individual/ colectivo ou, se quisermos, particular/público, é a personagem chave nesta trama: ele intervém nestas fracturas e, através de pequenas acções cirúrgicas, quase determina o curso da(s) estória(s). O desenrolar da acção torna-se assim num jogo, no qual, a mudança quase imperceptível de posição de uma peça, condiciona a sua leitura e o seu desfecho. Como cidadão anónimo, ou se quisermos como carta jogada fora do baralho, ele recolhe finalmente, num livro oferecido, a verdade da história que ele próprio manipulou.
Sabe bem ver um filme assim: discreto, bem interpretado, sóbrio e sombrio, tendo por fundo a arquitectura austera de Berlim oriental.

Tuesday, February 13, 2007

As árvores do Porto.


(boavista em dezembro)

No estrangeiro temos pontadas de saudades. Conheço as árvores de Manchester. Há sempre pássaros a chiar e guinchar nas manhãs, bandos grandes de penas. Mas as árvores molhadas do Porto são as árvores molhadas do Porto. Os passeios frescos das últimas manhãs de Dezembro. Lembro, faltam-me. Isso, a sopa de casa e o peixe. E depois aqui não há aquelas pessoas que... Na distância tudo fica tão preci(o)so. Quando voltar, quando o cheiro a Portugal chegar às minhas narinas, tudo será ainda mais casa.

Monday, February 12, 2007

Pássaros na manhã


em curvas decididas.
em linhas perigosas.
debaixo e sob a ponte.
no fio dos meus olhos.

(qualquer coisa assim...)

SIM

SIM. Este não é um problema de mulheres. É um problema social que afecta especialmente as mulheres, elas são a sua parte vísivel e material. Mas esta é uma vitória particularmente nossa, SIM.

Sunday, February 11, 2007

Os estranhos




Porque o desenho me dá prazer e, às vezes, quero apanhar as pontas das pessoas e cosê-las, à mão, nas minhas páginas. Os estranhos nunca estão seguros quando eu os quero segurar.

Guillemots na Manchester Academy



Ontem fui ao primeiro concerto por estas terras. Confesso, é bom estar no centro do mundo, em que todas as bandas das quais gosto tocam. É quase impossível ver tudo o que se quer, tamanha é a oferta. Ontem, eu e Andrea conseguimos bilhetes de última hora para os Guillemots. Os Guillemots são a minha banda sonora de Abril, Maio e Junho do ano passado.
Entrámos sem muitas expectativas, culpa dos bilhetes de última hora. A sala não é bonita, é só uma grande garagem, talvez muito fruto da cultura punk dos anos 80 (Joy Division, yeah!). Aí senti, pela primeira vez nestas coisas, saudades de Portugal. O público porta-se pior que o nosso, também. Falam e berram histericamente quando não devem. Mas os Guillemots são grandes e bons e surpreendem-nos. São muitos e entram na música: a contra-baixista fecha os olhos enquanto sente as cordas, o saxofonista olha para o céu, o vocalista senta-se num cadeira de baloiço. Fazem uma festa. E nós fizemos a festa com eles.
Aqui um pequeno vídeo que fiz, no concerto, à socapa.

Saturday, February 10, 2007

ontem


De manhã política.
De manhã numa casa do final de século, com lindíssimos azulejos e um jardim pontuado por japoneiras soberbas ( foi pena não ter levado a máquina fotográfica).
Em Paredes, na Casa da Cultura. Muito mal recuperada. Um interior desastroso, funcionalmente péssimo.
De tarde política aplicada, ciência e empresas. Público e privado. Muitos técnicos e muitos políticos.
De tarde no Porto, na Alfândega, Museu dos Transportes. Na sala do arquivo, magnífica.
Gostei mais da tarde. Vi amigos de muitos lados, de muitos anos, feitos de muitos modos. No decorrer do percurso escolar, do trabalho, dos movimentos e organizações juvenis, da profissão.
O Norte. O Porto no seu melhor e pior por entre o sol e a chuva do fim de tarde.

Friday, February 09, 2007

hoje

“ O amor mais rico é o que se entrega ao arbítrio do tempo.”
"Clea"; Durell, Lawrence; Difel; pág. 282

Acabei de ler o quarteto de Alexandria. Retenho esta frase, que no livro é uma citação ficcionada. Diz-me muito em sentido lato. Porque corremos atrás das coisas, dos pensamentos, das ficções? O tempo, também ele e sempre ele, ensina-me que a incorporação da ficção, tornando-a tão real quanto a realidade, é uma filosofia de vida, que se adquire com a experiência, com o Tempo.
Só assim podemos superar o desgosto da distância entre o que vivemos e o que sonhamos. Só assim podemos combater a ânsia de alcançar a felicidade definitiva.

Thursday, February 08, 2007

Que vergonha!!

Eu detesto sujar este blog, mas estou longe e preciso de partilhar. Desculpem os palavrões que se seguem. ESTA MERDA NÃO TEM JEITO NENHUM! (mais sobre aqui)

Wednesday, February 07, 2007

Central Library


e os apontamentos distorcidos.

E depois de estudar...

... uma cervejinha.

Joe Colombo na Manchester Art Gallery

Joe Colombo é um ícone do Design. Não do meu, mas é. Está na Manchester Art Gallery uma exposição retrospectiva de Joe Colombo e fui vê-la hoje. E ainda bem. As peças são mais bonitas ao vivo. E a universale chair é mais bonita quando nos sentamos nela. Um mimo. (Os meus apontamentos e um postal comprado para tentar explicar...)

Tuesday, February 06, 2007

cristais

Cristais, reacções químicas, danças de moléculas, protões e neutrões.
Quando penso nas relações humanas, esta dança apresenta-se-me no meu imaginário. Sempre em mutação. Sobressai uma virtude ou defeito, uma característica ou amorfismo. Mudam os afectos, reagem as vontades, sobrevêm paixões ou neutralidades.
Paixões que acalmadas pacificam e equalizam os sistemas moleculares, tornando-os estáveis, propícios a uma nova reacção… química. Falamos de química acertadamente, a química do corpo e a da mente. Falamos de contexto, o mesmo será dizer de ambiente, substâncias e reagentes que, considerados em comum, determinam a reacção, a paixão. Dança das moléculas, dança dos corpos em activos pensamentos. Não somos mais que matéria e espaço. Espaço tenso, sujeito a forças atractivas e repulsivas numa aparente e móvel estabilidade.
Olhem-me nos olhos, também eles compostos de ínfimas partículas que se arranjam para devolver sintonias e vontades. Quando olho e não vejo nada, para além da espessa cortina do nevoeiro inter-estrelar, penso que morro no processo de imaterialização desta matéria.
Onde estão?

sou uma expert

Acabei de ligar o skype em casa do Tio Manel. Estivemos a falar com a Joana. Estou perita nas novas tecnologias. Nunca pensei, mas é bom, muito bom. Estar contigo Joana, todos os dias, puder ver-te em tempo real, ou quase... é óptimo. Afinal não sou assim tão trenga. Bem, hoje não dá para mais, o esforço foi hérculeo.

Friday, February 02, 2007

Janeiro em canções


Download aqui
. No canto superior direto têm uma caixa, insiram as letras e números à esquerda e carreguem no botão que diz download, et voilà! Enjoy.

SIM

Duas razões para ser sim:

1- Porque é que em Espanha, sendo a lei idêntica à nossa, é possível praticar o aborto por vontade da mulher até às …. e em Portugal não. Por razões subjectivas que são dadas como válidas subjectivamente e, na subjectividade, a opinião que deveria valer era a da verdadeira interessada. Não me conformo com a ideia de, se eu decidir fazer um aborto em Portugal, ter que sujeitar a minha vontade ao referendo dos médicos ou outros profissionais, que têm o direito de definir se essa decisão põe em causa a minha saúde mental, a minha integridade como pessoa humana, ou não. A decisão é minha ou é de outros exteriores que por mim decidem? Tenho também que referendar o meu corpo e a minha absoluta vontade?

2- É uma razão de saúde pública. É completamente cego dizer que não se pode praticar o aborto, sabendo que se pratica. E desafio qualquer mulher a pensar a situação por dentro, como algo que pode acontecer-lhe. Eu penso: se por ventura hoje engravidasse, usando os métodos anticonceptivos que uso, decidia abortar, com 99% de probabilidades. O 1% deixo para quem, no tal acompanhamento previsto pela lei que vamos decidir no dia 11 tornar possível, me conseguir convencer a não o fazer. Se fosse hoje, recorreria a uma clínica privada, que o faria sem interrogar, em segurança.

Tenho 48 anos, reivindico uma vida sexual activa, o meu direito à realização integral e nunca pratiquei um aborto.

Delicatessen

Ontem lá peguei num dos filmes da biblioteca que tinha trazido. Delicatessen é porco, estranho, nojento e é lindo. A história (as estórias) macabras, duras, suicidas e deliciosas. As cores saturadas. As pessoas saturadas. Há as bolas de sabão do Louison, o sopro no olho da Julie, com as caras muito perto, e a casa de banho com água até ao tecto que partilham, no fim.

Uma surpresa boa, vejam.

Wednesday, January 31, 2007

Cinema


Esqueci-me de vos dizer que o Pandora’s Box é genial. Esqueci-me de dizer que é muito bem filmado, que tem imagens muito bonitas. Esqueci-me de vos dizer que a exibição era com acompanhamento ao vivo, piano. Esqueci-me de dizer que ontem foi dia de Catherine Deneuve e Truffaut, em Le Dernier Métro e que, agora, tenho ali na mochila o La Strada e o Delicatessen. Ai cinema cinema!

Tuesday, January 30, 2007

comunicar

Agora é assim. Iniciei uma nova era com a minha nova máquina fotográfica. Ainda não sei utilizá-la bem, mas pelo menos, já sei reduzir o tamanho das imagens para publicar.
O novo ano dá frutos de muitos modos. As duas promotoras do blog continuam em alta e cheias de novidades e de esperanças.
Gosto muito de falar com a Joana e vê-la com os movimentos lentos e doces diferidos no tempo através da web câmara. Perdemo-nos e, num instante, se passam horas. Na realidade as novas tecnologias são qualquer coisa de inimaginável. Aos poucos os de minha geração são conquistados por elas e rendêm-se às novas formas de comunicação. Mas não pus de lado a forma epistolar e ainda esta semana lhe escreverei uma carta em papel que começará com " Minha querida filha" e terminará " A tua mãe que te adora, Maria". O papel, a caneta, o envelope, o selo, o carimbo, a viagem ... e a recepção são um percurso inestimável e insubstituível - uma outra emoção.

Mais duas imagens


Monday, January 29, 2007

Lençol

Aqui está a fotografia que faltava. O bordado é meu, a renda da minha Avó. O lençol anda em serviço na casa.

Guiding Architects

Estava um dia azul. Aprenderei a reduzir o tamanho das fotografias para melhor as colocar aqui.
Terminou o 7º Meeting dos Guidings Architects. Deixo o link http://www.guiding-architects.net
.

Sunday, January 28, 2007

Duas exposições



Hoje foi dia de procura, aqui nas Inglaterras. Além de me perder de propósito nas ruas e de me encontrar, de procurar uma determinada loja de cds que queria encontrar, andei no rasto das galerias de arte. Uma encontrei por mero acaso. Outra fui lá dar guiada por mapas e guias. E vi, então, duas expoisções. Nenhuma extraordinária. Medianas, mas com um ou dois detalhes lindíssimos. Na Urbis, uma esposição sobre Hong Kong, com um filme de animação lindo (tenho de lá voltar), na Cornerhouse a instalação com o meninos sem cabeça, mas com muitas cores e muitas sombras. E, amanhã, é dia de Pandora's Box no Cornerhouse. Ai vida boa...

Saturday, January 27, 2007

Uma fotografia...


...das terras por onde ando.

Thursday, January 25, 2007

meia semana

Já contava que assim fosse. A promessa de uma semana contra o tempo material estava expressa.
Para quem gosta de fazer a compensação é suprema. Para quem gosta de parar, de pensar, as dúvidas são muitas. Fica o dilema, mas o pensamento não para e encontra sempre um nicho onde alojar-se: uma viagem até casa, uma ida ao quarto de banho, um a sessão de ginásio ou de piscina, um intervalo para fazer o jantar, o ritual do pré-dormir... os papéis com recados acumulam-se em montes metodicamente sobrepostos no meio da aparente desarrumação. Os papéis que funcionam no momento da escrita como forma de memorização, apenas. Quando a eles regresso descubro com satisfação que as tarefas estão escrupolosamente executadas.
Sobrevivi à partida e quem quiser saber da outra metade pode procurar o senhorerasmus ou simplesmente sobre o nome Joana deste blog fazer um clic.

Sunday, January 21, 2007

esta semana

Semana em alta a que se inicia.
A mais nova, quando acordar, estará na "ilha".
A mais velha, para além de sobreviver à partida, terá que preparar-se para um fim de semana empresarial e cosmopolita.

"Nos próximos dias 27 e 28 de Janeiro vai realizar-se no Porto o 7º Meeting da rede de Guidings-Architects. Esta organização reúne as empresas europeias que trabalham na organização e acompanhamento de viagens turísticas orientadas para tema da arquitectura contemporânea, sendo sua característica a integração de arquitectos na sua direcção.
O Porto foi escolhido como local de reunião porque a Cultour foi recentemente aceite como representante portuguesa nesta rede internacional, fazendo actualmente parte dela como membro efectivo. A Cultour, que iniciou a sua actividade em 2005, será a anfitriã do encontro, que no seu programa inclui, para além da reunião de trabalho a realizar nas instalações da FAUP, no dia 27, uma visita guiada às obras de arquitectura contemporânea mais emblemáticas da cidade a realizar no dia 28 de Janeiro. A arquitectura contemporânea constitui um dos nichos de mercado mais promissores para o desenvolvimento do turismo cultural em Portugal e a cidade do Porto, enquanto berço da Escola do Porto, um dos destinos mais visitados por turistas estrangeiros.
Este encontro contará com a presença de catorze empresas para além da Cultour que representam onze países, originários de toda a Europa desde o leste, donde se destaca a sua congénere de Moscovo, passando pelo norte, com Oslo, pelo centro com a Alemanha e Aústria, até ao mediterrâneo representado pela Itália, pela Grécia e pela Espanha (Barcelona). Serão cerca de trinta os participantes que durante dois dias irão debater os problemas e as oportunidades com que se debate esta actividade, tentando encontrar soluções conjuntas para ultrapassar as actuais debilidades e projectar a sua actividade no mundo.
Num contexto em que Portugal se pretende afirmar como destino turístico é particularmente relevante que a cidade do Porto tenha sido escolhida para este encontro de elevado nível profissional." Nota de imprensa

Saturday, January 20, 2007

Fiama

Morrem os nossos poetas queridos.
Os nossos poetas queridos nunca morrem.
Morrem para nós quando nós morremos.

Das Lágrimas

A pequeníssima aranha assusta

a criança que eu estava a olhar,

e chora. “ Meu duplo filho,

não temas a imensa labuta

da caçadora de insectos.

Ela estende uma rede, tão frágil

que a podes romper com o menor dedo.

A menos que, antes do gesto, encontres

a beleza do tecido luminoso,

quando a aranha ofende o Sol

roubando-lhe alguns raios,

ou a beleza da água que ela retém,

como diamantes sem preço,

rosácea de lágrimas.” Fiama Hasse Pais Brandão


"Sobre a sua obra poética escreveu o também poeta António Ramos Rosa: "Fiama sente a inextricável complexidade do mundo e a sua perplexidade perante ela é permanente, embora não passiva. Essa perplexidade não paralisa a investigação activa do real, antes parece estimulá-la e desenvolvê-la"."

retirado de www.rtp.pt


Galeria de cheiros

Os nossos cheiros, a memória dos cheiros: Cheiro a café, cheiro a torradas, cheiro a tília, cheiro a terra molhada, cheiro a mosto, cheiro a...
(para completar)

Friday, January 19, 2007

Para a cp...


o último projecto antes de Inglaterra.

Thursday, January 18, 2007

lençóis

Na casa dos meus pais havia um hábito que ficou submerso e do qual me recordei ao pensar nas malas da Joana. Todas as semanas à sexta-feira mudavam-se os lençóis da cama, mas só se mudava um: o de cima passava para baixo e punha-se um lavado em cima. Mudava-se também a travesseira. Combinavam sempre, porque os lençóis eram brancos, sempre brancos. Bordados por nós, eu já entrava na linha de montagem que era liderada pela minha avó e pela minha mãe, ou com um entremeio em renda. Alguns estão agora em minha casa e usam-se. Porque eu não gosto de guardar, gosto de usar.

A Joana tem que levar lençóis para Inglaterra. Por isso me lembrei que pode levar só três e usar o método que usávamos em casa dos pais.

( não consigo pôr a imagem porque é muito pesada)

Tuesday, January 16, 2007

desculpas

Tenho um post escrito e uma fotografia tirada.
Ontem tive problemas de acesso à net e hoje estarei muito ocupada à noite ... alguns sabem porquê e desculpar-me-ão.
Amanhã.

Sunday, January 14, 2007

Ota, em todos os sentidos!



A comunicação global para o Aeroporto Internacional da Ota tem-nos ocupado os dias. Rouba-nos a paciência a todas as horas mas, quando vemos as coisas no sítio, juro, ficamos felizes. Duas, das muitas,aplicações.

As bandeiras dos nossos pais - Clint Eastwood



Fomos ontem, sem a Joana, ver o filme. Saímos os três com ar de quem queria mais. Talvez faltem “As Cartas de Iwo Jima”. No entanto durante mais de duas horas conversamos sobre o filme. Para mim, que não sou grande conhecedora de história, sobretudo se comparada com os meus dois companheiros de filme e de conversa, foi interessante ver outros lados da guerra, assentes sobre o equívoco e a mentira.

Apenas duas ideias:

- A guerra vista do lado do negócio, como monstro sorvedor de dinheiro, muito dinheiro. A construção do herói a partir de um logro. A utilização do logro e do herói para angariar fundos. As famílias que dão os homens para a morte também dão o dinheiro para os matar.

Mas os homens são bem mais interessantes do que os heróis. Ou melhor, como diz o filme, não há heróis, há homens.

- Pela primeira vez num filme de guerra vi claramente que os homens que a fazem são miúdos. Usualmente os actores consagrados dos outros filmes roubam-nos essa ideia de juventude assustada e perdida que se vê na guerra sem saber como. Neste filme é assim mesmo. Olho aqueles actores e vejo meninos.

Sob ponto de vista da imagem é espectacularmente cinzento e imenso.

E agora esta deliciosa transcrição da entrevista de Clint Eastwood publicada no Expresso da semana passada: “Tenho um amigo que tem mais ou menos a mesma idade que eu e que me disse há dias: “ Sabes qual é a grande vantagem de um gajo já ter passado dos 70?” Eu, naturalmente, fiquei um bocado perdido, porque não me estava a ocorrer nada de positivo. “ O que nos podem fazer se não nos portarmos bem?” Talvez seja isso.”

Saturday, January 13, 2007

Cheeeeese!


Cá em casa recebemos as nossas prendas de anos. Eu e a mãe. Casa conta-mina e casa casa. Agora temos as duas máquinas digitais compactas, para levar para todo o lado, com saltinhos e olhinhos abertos. Uma mais ligeirinha para a maria, uma mais robusta para mim e a esperança de muitas imagens para adornar este blog. De segunda a oito, fotografo em Manchester, amigos!

Friday, January 12, 2007

sentidos

Ouvir, o prazer do som e do silêncio.

A música e o ruído, o ruído música.

Sentir com as mãos, com os dedos,

com o corpo, o calor e a seda.

Cheirar, o cheiro natural, das flores.

Madressilva, canela.

Mais do que ver.

Mais do que degustar – paladar.

Ouvir, sentir e cheirar,

Mais do que o gosto,

Mais do que o ver.

Ou só ver parado e sentir com a língua

O cheiro do tacto.

Thursday, January 11, 2007

índia

A Índia apoderou-se de mim. Sem rumo, sem história, sem objectivo, sem intenção. Apenas como qualquer coisa que se cravou na minha carne e dela passou a fazer parte ( ou já fazia, Calicute, Bombaim…). Alguma coisa que se evidenciou para me fazer sofrer de vontade de lá ir…para já de um modo pouco disciplinado, apenas pela imagem, pela dispersão onírica que ela permite.

…e o mais estranho é que este movimento foi originado pelo insólito de ver Cavaco com uma pinta na testa.

Wednesday, January 10, 2007

Por aqui...


...abre-se mão de coisas que não se devia (exposições, amigos, livros) mas, vos garanto, que estes serão os melhores cartazes de sempre. E vão dar muito prazer!

Tuesday, January 09, 2007

Meditações

A certeza de que um dia tudo isto acaba.

A força da vida e o gosto de viver.

Não sei o que reserva o futuro e também sei que não importa preocupar-me com isso. Mas a passagem do tempo assusta. Porque tenho a certeza que depois desta vida nada resta. Resta o que deixo nos outros e no mundo. Depois pergunto: pretensão? Porque esta consciência de que nada somos também é aquela que dita a humildade de nada sermos.

O que procuro? Porque luto? Porque trabalho? Para comer “viver”? Para dar condições de vida aos outros? Para permitir aos meus filhos terem momentos de felicidade?

Assusta-me pensar que há coisas boas que vou deixar de sentir e de fazer? Mas quando deixar de sentir é porque já não me interessa ou porque o relógio biológico entra noutro tempo? Vou perder ou vou ganhar? Vou sentir-me mal, ou sinto-me agora mal, porque penso que me vou sentir mal?

Somos todos iguais no começo e no fim. Quando nascemos e quando morremos. O que nos distingue é o que sentimos e o que fazemos sentir. Abençoados os que são capazes de nos fazer sentir: os que criam um magnífico concerto como o que ouço ( n.º1 para piano de Brahms); os que criam aquele especial espaço sem nome onde tudo bate certo pelo incerto, pelo desconexo; os que criam aquela imagem bidimensional que nos transporta para intemporalidade do presente. Neste reconhecimento o artista sou eu, que me perco e envolvo, que sei reconhecer no instante da solidão suprema a felicidade de ser.

“ Acautela-te, leitor, porque o artista és tu, somos todos nós – a estátua que deve desenvencilhar-se do bruto bloco de granito que a contém e começa a viver.”

Durrell, Lawrence; Clea; Quarteto de Alexandria; Ulisseia

Monday, January 08, 2007

quarto de banho 2


A fotografia é pior, eu sei. Em breve não terei desculpas para qualidades destas, mas para já... é do telemóvel. Mas teria que retornar àquele espaço. Para que vejam a tal janela.
Assim fomos criados, numa mistura entre velho e novo, em que o equilíbrio se compõe com o nosso gosto e o nosso sentido de estética. Uns mais artísticos e sensíveis aos ambientes, outros mais desprendidos, mas todos compostos desta mistura que nos molda. Desenho erudito e desenho tradicional ou empírico. Lavores femininos ou mãos de carpinteiro. Montalbán ou Tio Patinhas.
Todos moramos em casas modernas e todos sabemos o que é passar por uma porta de 2,50 de altura, mais a dita bandeira. Vivemos em casas funcionais mas regressamos sempre aos compartimentos interiores, que obrigam a pedir licença por respeito à individualidade. Também dava direito a umas bulhas quando um de nós entendia que não tinha sido devidamente respeitado.
A primeira metade da minha vida foi passada em outras duas casas fascinantes que recordo, sobretudo uma, com saudade, porque a ela não posso retornar a não ser em sonhos vivos.

Sunday, January 07, 2007

quarto de banho







Tem cerca de 16 m2. É grande como um quarto grande. O pé direito ultrapassa os quatro metros. Até cerca de um terço da altura, está revestido com azulejo branco, rematado com um friso preto e branco. O chão é revestido a mosaico amarelo, rosa, castanho e beije, onde se desenham flores estilizadas ( pelo menos como tal sempre as li). A caixilharia da janela foi desenhada pelo meu pai. Lembro-me de as colocarem, há seguramente quarenta anos. Tinham uma ferragem inovadora, oscilo-batente. Mantêm-se impecáveis. Torneiras passadoras nas paredes, tubagens à vista, esquentador a gás, uma cadeira e um banco pintados de branco onde repousam as leituras de ocasião – um policial de Manuel Vasquez Montálban, “ O comportamento Sexual da Mulher e a Arte da Sedução Erótica” em edição antiga da Moraes, jornais e revistas variadas e um Tio Patinhas.

As portas altas, excessivamente verticais, com as bandeiras ocupadas por dois vidros, a luz amarela originária de um ponto suspenso, enquadrado por uma túlipa de vidro, o som dos passos ou da água que ecoa no imenso volume de ar, o lavatório embutido num armário balcão revestido a pastilha branca, também desenho do pai, uma atmosfera única, que faz parte da nossa infância, e que sinto essencialmente presente na constituição da pessoa que sou: não como memória ou memórias, mas com uma qualidade cénica e romântica, um halo de orgulhosa decadência, que me estrutura. Este lugar constitui-me.

Friday, January 05, 2007

Barcelona


De dia um até hoje de manhã estive em Barcelona. Mais nas ruas que nos museus, mais nas pessoas que nas representações. Excelente maneira de começar o ano, abrir os olhos aos pequenos detalhes, às coisas pequenas: as caixas de lata, nos antiquários, as praças com música nos cantos, as escadas nas traseiras da Sé acompanhadas de gelados, colheres que rodam na boca e muitas conversas e as roupas limpas estendidas no acordar da tarde. Barcelona, ó Barcelona!

Thursday, January 04, 2007

fumar

Não tenho fumado. Fumar irrita-me. A cada cigarro penso que não devia fumar. Faço-o, quase sempre, sozinha: a olhar as árvores, o horizonte verde, a soprar o fumo pela frincha da janela, ou debaixo do exaustor da cozinha, para não incomodar os que não fumam. Já sabia que poderia olhar a paisagem sem ter um cigarro na mão. Apenas consciencializando o acto de estar a olhar pela janela. O acto de não pegar num cigarro significa para mim um ganho de tempo calmo. Ao contrário de outros fumadores, para mim, o não fumar é um factor anti stress. Então porque gosto de fumar? Pelo gesto, mais que pelo gosto. Relembro a minha tia brasileira que dizia “ Vício bonito.”… mas sei como os outros fumadores, que não posso dizer “Não fumo” , prefiro dizer “Hoje não fumei”, até me esquecer do gesto de pegar num cigarro…porque também não quero fazer como aquele personagem tirsense, que deixou de fumar há vinte anos e continua a passear de cigarro na boca.

Wednesday, January 03, 2007

laica

Depois de treze anos a fazer-nos companhia a Laica morreu. Esperávamos a morte da Laica. Nem isso impediu que algumas lágrimas nos saltassem dos olhos por não podermos impedir a nossa cadela de sofrer. Vai Laica, vai, deixa-te ir para o outro lado. E ela foi diante dos nossos olhos, lentamente.

O Pedro dizia-me no domingo que o homem é o único animal que não sabe morrer.

Tuesday, January 02, 2007

trabalhos de ano novo

… e com o ano novo decidi iniciar a revolução energética cá em casa.

As máquinas só vão lavar à noite. Darei instruções claras à A. para não as pôr a lavar durante o dia, como ela muito gosta. Depois não me posso esquecer de às dez horas da noite pô-las a lavar, senão ouço raspanete no dia seguinte.

Outra das medidas para economizar água, disse-me ontem o meu irmão, é o meter uma garrafa de 1,5l de água dentro do depósito do autoclismo.

Ora bem. Quando cheguei a casa a seguir ao almoço de ano novo, pelas 17.30horas decidi meter mãos à obra. Primeiro obstáculo: já não me lembrava como desatarraxava a tampa. Lá veio o ajudante e tiramos a tampa. Segundo obstáculo: estava tudo sujo e tive que limpar ferrugens de anos. Depois a tampinha que segura o êmbolo da descarga caiu dentro do depósito e com a pressão da água da descarga desapareceu. Procurar arame para tentar reaver a tampa. Mas, nem arame em condições, nem tampa. Solução: roubar a tampa de outro autoclismo com menos uso que ficará inactivo até eu arranjar outra carapuça. Monta e desmonta, porque a bóia ficou encravada.

Balanço: mais de uma hora dedicada ao controlo do consumo de água; uma tampa perdida; alguns depósitos de água consumidos, mas esperemos que o retorno seja recompensante… para o mundo, já que para mim, por enquanto, só me meti em trabalhos.

Monday, January 01, 2007

Concerto de Ano Novo

A mãe, há pouco, ligou à avó dizendo “mamã, olhe que vai dar o concerto de ano novo na um às 10.30 e na rádio às 10.15.”. Cá em casa, agora, temos uma televisão ligada, sem som, para a imagem, a aparelhagem da sala, com duas colunas, para as notas e o rádio, branco e pequeno, da cozinha, para acompanhar o pequeno almoço. Agora sabe a ano novo. Feliz 2007 aos meus.